quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Bravura ou Braveza?

Mayara Mariz escreve em resposta, sempre escreve pra responder. Lá vai. Tem dias que tudo que resta é escrever. E todo escritor carrega consigo uma melancolia elegante, uma dor contida, um sentimento por revelar. Por isso as palavras escapam pro papel. Da idéia pro papel. Do coração pras frases. Das tripas pra manchar a folha em branco. Único jeito certo. E a agonia de não fazer? Não acredite que é falta de coragem. Muitas vezes faço de conta que não preciso do texto. Mas o simples exercício de viver me faz puxar pro lápis ou teclado. Atendo ao chamado por bravura ou braveza, depende do dia, da escolha de viver. E, assim como para amar, é preciso dedicação e cuidado. É preciso viver de verdade, estar atento. Guardar os próprios dias no peito. Afinal de contas, há muita solidão espalhada por aí. Intensamente jogo para longe o verbalismo exacerbado de quem trata a arte com obrigação analítica. Viver pra escrever é diferente de escrever pra esquecer. O que cai no meu texto, permanece vivo em sussurros de minha própria eternidade. Não me analise. Ame ou odeie. Seja quente ou frio. Discorde comigo. Concorde contra mim mesmo. Não ache que meio silêncio termina no gesto, pois ele vira palavra. Eu proclamo, romanceio, poetizo ou profetizo. Sou arrogante a ponto de esperar que você passe um tempo me lendo. Sou humilde o suficiente pra entender que sou imperfeita. E entenda, ó estudioso das literaturas e letras, que a arte é justificativa de vida a plenos pulmões. Não me reduza ao teu ensaio. Os intelectuais do mundo morreram quando chegamos na casa dos bilhões de pessoas. Quero dizer que existem milhões de pessoas produzindo melhor do que eu, estudando mais do que qualquer um neste instante. Ninguém é capaz de chegar a um milésimo de tudo de qualidade que existe nas obras do mundo. Sim, somos todos pseudo-intelectuais. Por isso, sou capaz de detestar cada uma de minhas linhas. São grãos de areia numa galáxia de desertos. Sou capaz de questionar cada vírgula da minha sinceridade. São suspiros de paixão ao vento. Bom ou ruim pouco importam. São conceitos vazios. O conteúdo inexorável nasce e morre nos olhos do bom leitor. Valores o tenhamos sempre, por bravura ou braveza, conservados em intensidade.

domingo, 18 de novembro de 2012

Só tinha mesmo que ser você

É a sua cabeça sobre meu o peito, é a o seu cabelo folgado e o jeans claro desfiado, combinando com aquela blusinha cinza com listras pretas que dizem que você usa de pijama, aquela que adoro. Aqueles dois furinhos e muitas histórias para contar. São suas mãos acariciando as minhas e gesticulando timidamente enquanto aponta para a nuvem em forma de coelho. Seu esmalte vermelho. É o tiquetaquear do relógio. Ininterrupto. O cheiro do Cacau Show e da Coca-Cola. Sua boca procurando a minha. O gosto da sua saliva misturado a Coca-Cola e o seu pescoço cheirando aquele perfume. É a praça de alimentação que se transforma em nossos encontros. São as pessoas e a laranjeira carregada. O ipê florido. É o céu, que de tão azul parece até pintado como algodão umedecido em tinta guache. É a mão no meu colo no cinema, cada susto um aperto. Seu caderninho na minha cabeceira. São os livros que nós comentamos em Junho, Julho e Agosto. Martha Medeiros, Veríssimo, Tati Bernardi. É a sua bolada, que vem de mansinho, encosta gelada no meu braço a espera de um sorriso, um afago. É sua flor preferida na janela da varanda e a MPB a noite. Nós dois apertados, sobre o aperto do metrô. A girar. É o convite para ir ali. O CD preferido. Aquele que tem várias canções de MBP. É o seu companheirismo e o seu "Shot". Sua ligação de madrugada. Suas broncas. Minhas sociais que te irritam tanto, eu sei. É o seu jeito de sorrir que me contagia mais que as melodias de Jobim ou Camelo. Fico em transe. Gosto que me presenteia com sussurros de sacanagens, misturados com penne, molho bolonhesa, e queijo. É o seu sorriso de criança que ganhou presente novo, são suas gargalhadas quando faço alguma piada, é aquela bebida meio-quente-meio-gelada-pós-beijo, que morou na porta de algum lugar enquanto eu me perdia em você. Fico ensolarada com esses presentes. Fico imensamente feliz por suas manias, que entrelaçadas as minhas não me deixam nublar. Me sinto uma pessoa mais feliz e sortuda de todas, aquela que apostou sua última ficha em Vegas e saiu milionária depois de cinco cartas de copas. Royal Flush. Me rendi aos teus cheiros, me rendi aos teus gostos. Me entreguei pra sua boca buscando a minha, para o seu corpo com gosto de sal, com gosto de mar. Me vi de quatro para os sons da nossa parceria. Descobri o... Ao som de: I never gonna leave this bed - Maroon 5 ♪

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Síndrome de desilusão ortográfica - amorosa

Não é que seu cabelo não seja no corte que eu sonhei. Nem foi sua regata que me afastou. Não foram seus amigos, seu jeito, a ligação que você demorou tempo demais a fazer. Relevei tudo isso porque você me tinha tão na mão. Eu estava pronta para tudo com você – menos para o seu “ancioso”.

Foi aí que veio o Facebook. E eram tantos erros que eu fechei sua página antes mesmo de ler toda a sua timeline. Veja bem, eu encararia numa boa seu celular desligado, suas ex-namoradas no seu pé e até sua dificuldade em ser fiel. A gente superaria isso juntos. Mas não deu para encarar o “concerto do seu computador”, o “encômodo” que você causava, muito menos a “conhecidência de termos nos conhecido”. Nunca mais queria uma coincidência dessa na minha vida.



Não lhe pedi muito. Não queria declarações com ênclises, mesóclises e próclises nos lugares certo. Não lhe pedi que usasse o pronome correto, respeitasse a concordância nominal, nem sequer que realizasse bom uso da crase. Tudo isso eu perdoava, que seria de nós se nos prendêssemos às regras intermináveis do português? Mas você me apareceu com um “vossê” e meu coração parou. E não de um jeito bom.

Entenda, não foi seu gosto musical. Não foram as baladas que você frequentava, seu jeito de me abraçar e seus sumiços. Não foi beijo insosso nem foi falta de química. É, não foi, com certeza, falta de química ou física. Foi a falta do português. Da próxima vez, meu bem, conquiste-me com um dicionário. Porque, em todos os sentidos, uma língua bem usada é afrodisíaco.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Pelo fim das luzes apagadas

Você saiu da banheira de forma abrupta, de maneira acrobática aplicou um giro rápido de 180 graus e dirigiu-se ao banheiro fazendo um “Moonwalk” para que eu não pudesse olhar diretamente para sua bunda. Em um piscar de olhos, conseguiu esconder sua parte mais linda atrás de um desnecessário roupão. Sim, eu sei que mesmo depois de alguns bons meses juntos, coisas bem feitas, garrafas de vinho extintas e nossos suores misturados, você ainda tem vergonha de mim e, infelizmente, não consegue livrar-se do medo que tem de expor suas características humanas aos meus olhos, não menos humanos. Pois saiba que muitas vezes, priva-me de seus melhores ângulos, como se eu fosse uma crítica ranzinza do programa Ídolos e, a qualquer instante, pudesse tirar do bolso uma placa contendo a nota 0, para assim reprovar-te, rebaixar-te e fazer-te sair do palco engolindo o choro. Quero que saiba, de uma vez por todas, que eu sempre aplaudirei seus passos ensaiados, mas que não deixarei de te admirar, nem um pouquinho, nas tantas vezes que ainda irá tropeçar e cair como qualquer pessoa faz. Pelo contrário, vou sempre levantar-te pelos pulsos ou jogar-me no chão junto com você para rirmos da vida deitadas no asfalto.Porque gosto mesmo quando você foge do script e não percebe que está com a pontinha do nariz suja de ketchup. Adoro quando nos teletransportamos da balada direto pra cama e quando lá te deixo sem forças até para tirar a maquiagem, pois no dia seguinte você fica linda parecendo uma panda de ressaca.Quero que saiba agora, e não amanhã, o quanto eu te acho bonita mesmo sem estar de Lara Croft, mas te acho bonita pelo simples fato de quando você faz uma careta. Não tem ideia de como eu ficaria feliz se você, ao menos uma vez, relaxasse e soltasse a barriga enquanto comemos Doritos sentadas e a vontade em cima da cama. Eu não tenho nada contra as suas dobrinhas e espero também que não tema minha barriga cultivada à base de boêmia, bordas recheadas amanhecidas e ausências na academia.É claro que te acho uma gostosa dentro daquele top e shorts preto, mas preciso realmente que saiba o quanto adoro te ver recheando aquela camiseta velha da sua época de colégio.Adoraria que você se esquecesse de pedir para apagar a luz e me permitisse devorar com os olhos cada canto seu. Porque, afinal, se é com você que estou naquele momento, significa que é com você que quero estar. E que te acho linda do jeitinho que você é.E é óbvio que aquele modo todo peculiar de você se sentar me dá uma puta vontade de morder suas panturrilhas, mas peço que use mais vezes aquele tênis super confortável e sabe porquê? Pois tenho tesão também pelo seu bem estar e por saber que, na minha frente, em cima de mim, do meu lado e comigo, sente-se realmente livre para ser humana.Não estou pedindo para fazer exames de mãos dadas comigo, nada disso. Peço apenas para despir-se de verdade, que remova não apenas as roupas, mas também essa desnecessária vontade de parecer perfeita.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Quais são seus planos pra essa noite?

O que fará hoje à noite? Não precisa responder agora. Apenas sorria desde já e, se puder, sem pudor, prepare-se para que sua coxa seja percorrida por aquele arrepio bom, revestida pela inevitável aspereza que lhe cobre a epiderme quando eu sou o bicho faminto que devora- lhe a nuca nua ou então quando minha saliva é a tinta fresca que picha seu corpo todo, diante da noite e bem no meio da rua.

Eu confesso que você me dá febre e que me faz ranger os dentes, só de pensar na calcinha de algodão que escorre sempre suave por suas pernas quase infinitas, até chegar a seus pés e enfim, perder-se inexplicavelmente em algum canto desconhecido de algum quarto fora do planeta.

O que fará hoje à noite? Eu já sei: desmarcará qualquer coisa que não seja uma embriagante dose de nós e aceitará meu convite para um passeio inesquecível ao redor da lua, sem gravidade ou censura. Daremos mil passos por um espaço só nosso e hoje uma fusão nuclear colará minha carne crua em seus ossos.

Eu sei que você demorará horas, possivelmente séculos, para aparecer. Com toda certeza aparecerá despida, rasgada ou, com sorte, derreterá em pleno bistrô, quando eu fizer seu corpo ferver e disser em seu ouvido o quão fundo estou disposto a encaixar-me em ti e o quão imensurável desejo que seja a medida do seu terremoto particular.

Hoje eu quero que a cama quebre as pernas, pois não aceito que nada nesse mundo seja capaz de suportar o peso de nossa valsa horizontal. Quero que a vidraça estilhace, para dividirmos com o resto do universo o pouco que restará de sua voz mistura do rouquidão e traços de voz de criança. Invadirá outras casas com um grito incontido de tesão que nunca caberá em sua boca. E mesmo que o céu todo desabe sobre nós, sei que permaneceremos de olhos bem fechados, protegidos por uma fina camada de suor e em meio aos escombros e cacos de todo o resto, estaremos inteiros, completos e sujos como sempre.

O que fará hoje à noite? Te pego às oito e talvez não te devolva nunca mais.