quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Bravura ou Braveza?

Mayara Mariz escreve em resposta, sempre escreve pra responder. Lá vai. Tem dias que tudo que resta é escrever. E todo escritor carrega consigo uma melancolia elegante, uma dor contida, um sentimento por revelar. Por isso as palavras escapam pro papel. Da idéia pro papel. Do coração pras frases. Das tripas pra manchar a folha em branco. Único jeito certo. E a agonia de não fazer? Não acredite que é falta de coragem. Muitas vezes faço de conta que não preciso do texto. Mas o simples exercício de viver me faz puxar pro lápis ou teclado. Atendo ao chamado por bravura ou braveza, depende do dia, da escolha de viver. E, assim como para amar, é preciso dedicação e cuidado. É preciso viver de verdade, estar atento. Guardar os próprios dias no peito. Afinal de contas, há muita solidão espalhada por aí. Intensamente jogo para longe o verbalismo exacerbado de quem trata a arte com obrigação analítica. Viver pra escrever é diferente de escrever pra esquecer. O que cai no meu texto, permanece vivo em sussurros de minha própria eternidade. Não me analise. Ame ou odeie. Seja quente ou frio. Discorde comigo. Concorde contra mim mesmo. Não ache que meio silêncio termina no gesto, pois ele vira palavra. Eu proclamo, romanceio, poetizo ou profetizo. Sou arrogante a ponto de esperar que você passe um tempo me lendo. Sou humilde o suficiente pra entender que sou imperfeita. E entenda, ó estudioso das literaturas e letras, que a arte é justificativa de vida a plenos pulmões. Não me reduza ao teu ensaio. Os intelectuais do mundo morreram quando chegamos na casa dos bilhões de pessoas. Quero dizer que existem milhões de pessoas produzindo melhor do que eu, estudando mais do que qualquer um neste instante. Ninguém é capaz de chegar a um milésimo de tudo de qualidade que existe nas obras do mundo. Sim, somos todos pseudo-intelectuais. Por isso, sou capaz de detestar cada uma de minhas linhas. São grãos de areia numa galáxia de desertos. Sou capaz de questionar cada vírgula da minha sinceridade. São suspiros de paixão ao vento. Bom ou ruim pouco importam. São conceitos vazios. O conteúdo inexorável nasce e morre nos olhos do bom leitor. Valores o tenhamos sempre, por bravura ou braveza, conservados em intensidade.

domingo, 18 de novembro de 2012

Só tinha mesmo que ser você

É a sua cabeça sobre meu o peito, é a o seu cabelo folgado e o jeans claro desfiado, combinando com aquela blusinha cinza com listras pretas que dizem que você usa de pijama, aquela que adoro. Aqueles dois furinhos e muitas histórias para contar. São suas mãos acariciando as minhas e gesticulando timidamente enquanto aponta para a nuvem em forma de coelho. Seu esmalte vermelho. É o tiquetaquear do relógio. Ininterrupto. O cheiro do Cacau Show e da Coca-Cola. Sua boca procurando a minha. O gosto da sua saliva misturado a Coca-Cola e o seu pescoço cheirando aquele perfume. É a praça de alimentação que se transforma em nossos encontros. São as pessoas e a laranjeira carregada. O ipê florido. É o céu, que de tão azul parece até pintado como algodão umedecido em tinta guache. É a mão no meu colo no cinema, cada susto um aperto. Seu caderninho na minha cabeceira. São os livros que nós comentamos em Junho, Julho e Agosto. Martha Medeiros, Veríssimo, Tati Bernardi. É a sua bolada, que vem de mansinho, encosta gelada no meu braço a espera de um sorriso, um afago. É sua flor preferida na janela da varanda e a MPB a noite. Nós dois apertados, sobre o aperto do metrô. A girar. É o convite para ir ali. O CD preferido. Aquele que tem várias canções de MBP. É o seu companheirismo e o seu "Shot". Sua ligação de madrugada. Suas broncas. Minhas sociais que te irritam tanto, eu sei. É o seu jeito de sorrir que me contagia mais que as melodias de Jobim ou Camelo. Fico em transe. Gosto que me presenteia com sussurros de sacanagens, misturados com penne, molho bolonhesa, e queijo. É o seu sorriso de criança que ganhou presente novo, são suas gargalhadas quando faço alguma piada, é aquela bebida meio-quente-meio-gelada-pós-beijo, que morou na porta de algum lugar enquanto eu me perdia em você. Fico ensolarada com esses presentes. Fico imensamente feliz por suas manias, que entrelaçadas as minhas não me deixam nublar. Me sinto uma pessoa mais feliz e sortuda de todas, aquela que apostou sua última ficha em Vegas e saiu milionária depois de cinco cartas de copas. Royal Flush. Me rendi aos teus cheiros, me rendi aos teus gostos. Me entreguei pra sua boca buscando a minha, para o seu corpo com gosto de sal, com gosto de mar. Me vi de quatro para os sons da nossa parceria. Descobri o... Ao som de: I never gonna leave this bed - Maroon 5 ♪

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Síndrome de desilusão ortográfica - amorosa

Não é que seu cabelo não seja no corte que eu sonhei. Nem foi sua regata que me afastou. Não foram seus amigos, seu jeito, a ligação que você demorou tempo demais a fazer. Relevei tudo isso porque você me tinha tão na mão. Eu estava pronta para tudo com você – menos para o seu “ancioso”.

Foi aí que veio o Facebook. E eram tantos erros que eu fechei sua página antes mesmo de ler toda a sua timeline. Veja bem, eu encararia numa boa seu celular desligado, suas ex-namoradas no seu pé e até sua dificuldade em ser fiel. A gente superaria isso juntos. Mas não deu para encarar o “concerto do seu computador”, o “encômodo” que você causava, muito menos a “conhecidência de termos nos conhecido”. Nunca mais queria uma coincidência dessa na minha vida.



Não lhe pedi muito. Não queria declarações com ênclises, mesóclises e próclises nos lugares certo. Não lhe pedi que usasse o pronome correto, respeitasse a concordância nominal, nem sequer que realizasse bom uso da crase. Tudo isso eu perdoava, que seria de nós se nos prendêssemos às regras intermináveis do português? Mas você me apareceu com um “vossê” e meu coração parou. E não de um jeito bom.

Entenda, não foi seu gosto musical. Não foram as baladas que você frequentava, seu jeito de me abraçar e seus sumiços. Não foi beijo insosso nem foi falta de química. É, não foi, com certeza, falta de química ou física. Foi a falta do português. Da próxima vez, meu bem, conquiste-me com um dicionário. Porque, em todos os sentidos, uma língua bem usada é afrodisíaco.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Pelo fim das luzes apagadas

Você saiu da banheira de forma abrupta, de maneira acrobática aplicou um giro rápido de 180 graus e dirigiu-se ao banheiro fazendo um “Moonwalk” para que eu não pudesse olhar diretamente para sua bunda. Em um piscar de olhos, conseguiu esconder sua parte mais linda atrás de um desnecessário roupão. Sim, eu sei que mesmo depois de alguns bons meses juntos, coisas bem feitas, garrafas de vinho extintas e nossos suores misturados, você ainda tem vergonha de mim e, infelizmente, não consegue livrar-se do medo que tem de expor suas características humanas aos meus olhos, não menos humanos. Pois saiba que muitas vezes, priva-me de seus melhores ângulos, como se eu fosse uma crítica ranzinza do programa Ídolos e, a qualquer instante, pudesse tirar do bolso uma placa contendo a nota 0, para assim reprovar-te, rebaixar-te e fazer-te sair do palco engolindo o choro. Quero que saiba, de uma vez por todas, que eu sempre aplaudirei seus passos ensaiados, mas que não deixarei de te admirar, nem um pouquinho, nas tantas vezes que ainda irá tropeçar e cair como qualquer pessoa faz. Pelo contrário, vou sempre levantar-te pelos pulsos ou jogar-me no chão junto com você para rirmos da vida deitadas no asfalto.Porque gosto mesmo quando você foge do script e não percebe que está com a pontinha do nariz suja de ketchup. Adoro quando nos teletransportamos da balada direto pra cama e quando lá te deixo sem forças até para tirar a maquiagem, pois no dia seguinte você fica linda parecendo uma panda de ressaca.Quero que saiba agora, e não amanhã, o quanto eu te acho bonita mesmo sem estar de Lara Croft, mas te acho bonita pelo simples fato de quando você faz uma careta. Não tem ideia de como eu ficaria feliz se você, ao menos uma vez, relaxasse e soltasse a barriga enquanto comemos Doritos sentadas e a vontade em cima da cama. Eu não tenho nada contra as suas dobrinhas e espero também que não tema minha barriga cultivada à base de boêmia, bordas recheadas amanhecidas e ausências na academia.É claro que te acho uma gostosa dentro daquele top e shorts preto, mas preciso realmente que saiba o quanto adoro te ver recheando aquela camiseta velha da sua época de colégio.Adoraria que você se esquecesse de pedir para apagar a luz e me permitisse devorar com os olhos cada canto seu. Porque, afinal, se é com você que estou naquele momento, significa que é com você que quero estar. E que te acho linda do jeitinho que você é.E é óbvio que aquele modo todo peculiar de você se sentar me dá uma puta vontade de morder suas panturrilhas, mas peço que use mais vezes aquele tênis super confortável e sabe porquê? Pois tenho tesão também pelo seu bem estar e por saber que, na minha frente, em cima de mim, do meu lado e comigo, sente-se realmente livre para ser humana.Não estou pedindo para fazer exames de mãos dadas comigo, nada disso. Peço apenas para despir-se de verdade, que remova não apenas as roupas, mas também essa desnecessária vontade de parecer perfeita.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Quais são seus planos pra essa noite?

O que fará hoje à noite? Não precisa responder agora. Apenas sorria desde já e, se puder, sem pudor, prepare-se para que sua coxa seja percorrida por aquele arrepio bom, revestida pela inevitável aspereza que lhe cobre a epiderme quando eu sou o bicho faminto que devora- lhe a nuca nua ou então quando minha saliva é a tinta fresca que picha seu corpo todo, diante da noite e bem no meio da rua.

Eu confesso que você me dá febre e que me faz ranger os dentes, só de pensar na calcinha de algodão que escorre sempre suave por suas pernas quase infinitas, até chegar a seus pés e enfim, perder-se inexplicavelmente em algum canto desconhecido de algum quarto fora do planeta.

O que fará hoje à noite? Eu já sei: desmarcará qualquer coisa que não seja uma embriagante dose de nós e aceitará meu convite para um passeio inesquecível ao redor da lua, sem gravidade ou censura. Daremos mil passos por um espaço só nosso e hoje uma fusão nuclear colará minha carne crua em seus ossos.

Eu sei que você demorará horas, possivelmente séculos, para aparecer. Com toda certeza aparecerá despida, rasgada ou, com sorte, derreterá em pleno bistrô, quando eu fizer seu corpo ferver e disser em seu ouvido o quão fundo estou disposto a encaixar-me em ti e o quão imensurável desejo que seja a medida do seu terremoto particular.

Hoje eu quero que a cama quebre as pernas, pois não aceito que nada nesse mundo seja capaz de suportar o peso de nossa valsa horizontal. Quero que a vidraça estilhace, para dividirmos com o resto do universo o pouco que restará de sua voz mistura do rouquidão e traços de voz de criança. Invadirá outras casas com um grito incontido de tesão que nunca caberá em sua boca. E mesmo que o céu todo desabe sobre nós, sei que permaneceremos de olhos bem fechados, protegidos por uma fina camada de suor e em meio aos escombros e cacos de todo o resto, estaremos inteiros, completos e sujos como sempre.

O que fará hoje à noite? Te pego às oito e talvez não te devolva nunca mais.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Amanhãs

Hoje eu acordei com o meu bloco de anotações sobre o meu peito, bem do lado do coração. Ainda sonolenta, comecei a ler tudo que fora escrito na madrugada, enquanto o sono ia chegando, e percebi que, tudo que estava escrito ali é um reflexo do está dentro de exatamente de onde amanheceu o bloco de anotações. Ontem pensei em tudo, tudo mesmo. Que acontecera até aqui. Acendi a luz da mesa do computador, abri uma lata de Coca-Cola, coloquei The Strokes no Ipod, fui pra varanda olhar as luzes da cidade. No Iphone tem SMS dela, Whatsapp, mensagem no Facebook. Sem prévio aviso. Foi assim que meu mundinho cheio de remendos tornou-se agradável, como um chá quente de boldo depois da ressaca. Aconteceu uma limpeza imaginária nas minhas entranhas, e repentinamente fui salva daquela sensação de ânsia tão esquisita que insistia em me visitar. Puft! E como num milagre, dez minutos calmos e solitários fazem as ideias clarearem e (quase) tudo ficar bem, como numa novela de cenas afinadas e bem escritas. Já passava da hora de fazer as pazes comigo. Tô exausta das tentativas de me decifrar e nunca achar uma saída. Cansei das minhas neuras esdrúxulas e incoerentes. Cansei até de sonhar acordada, mesmo achando poético ser como sou. Cansei, mas não desisti. No fundo, não trocaria minha cabecinha perturbada por nenhuma sã. Sei lá se quero você pra sempre, só por uma noite ou se quero que todo esse arco-íris de cores frias tenha lápis preto se entrarem as cores quentes. Não consigo me decidir nem sobre a cor do meu tênis, então não adianta eu encontrar uma definição. Não, eu não sei a hora de parar pra isso que tá acontecendo. Ou talvez saiba e apenas não consiga. Parar representa ponto final e sempre fui adepta das reticências. Não que isso justifique. Embora não pareça, tenho ideia do quanto posso ser chata. É que tento consertar (para não usar o tal ponto final) e tentando consertar, as coisas viram uma bola de neve. No começo acho que posso empurrá-la, mas em algum momento perco o controle e ela me engole. Por causa das minhas reticências e da tal bola de neve, peço desculpas.Eu quero que a bola de neve pare e a gente continue.Quero um sol espetacular derretendo o gelo entre nós. Quem sabe assim eu possa sair de dentro desse boneco de neve e você me agasalhe com um abraço quentinho. Sabe, não sei ficar magoada com as pessoas que gosto. E eu vim aqui desarmada e boba confessar isso... Já tem tanta coisa aqui dentro, acomodar a mágoa implica mudar os móveis de lugar. Demorei tanto para deixar a sala arrumada. Não quero mudá-los. Por favor. Afinal, hoje vale por dois amanhãs.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Parcerias são infinitamente melhores que namoros.

Relações vazias podem ser encontradas em qualquer esquina. Se seu filtro não estiver ligado, você acha alguém pra namorar no primeiro anúncio. Se o que quer é alguém com quem transar, alguém pra quem ligar antes de dormir pra dar boa noite ou alguém com quem andar de mãos dadas pela rua, basta sinalizar que logo vai aparecer um sujeito com as mesmas necessidades. O ser humano não foi feito pra viver sozinho – necessitamos de aconchego. Mas quantos desses encontros nas esquinas da vida se tornam parcerias, em vez de amores inventados? Suspeito que muito poucos. A nossa necessidade de viver com companhia começa no momento em que nossas mães nos pariram. Nem conseguimos ainda abrir os olhos, mas já vamos farejando o cheiro daquela que nos protege, nos alimenta e nos acolhe. Depois, na pré-escola, procuramos instintivamente aquele ser mais parecido com a gente entre os tantos sentados na roda cantando atirei o pau no gato. Quando crescemos e nossas necessidades sexuais dão as caras, buscamos alguma companhia com quem também podemos fazer sexo, com a intenção de satisfazermos todas as nossas necessidades num combo só. No entanto, muitas vezes essa necessidade de encontrar alguém com quem caminhar junto acaba nos unindo com pessoas que apenas querem trocar interesses. Nossas ações são determinadas de acordo com o que esperamos do outro. Explico – queremos receber carinho, então fazemos carinho. Queremos ouvir eu te amo, então dizemos eu te amo. Queremos um boquete gostoso, então fazemos um boquete gostoso. Queremos ouvir que estamos lindos, então dizemos que o outro está lindo. Até aí, nada de errado. O problema é que muitos relacionamentos param aí – apenas na troca, apenas na espera de um retorno. É como o cara que quer ser visto como o fodão e escolhe a namorada mais gostosa que consegue – mas se ela engorda e deixa de completar esse vazio nele, ele a deixa, sem pesar. Ou seja, a partir do momento que o outro deixa de te satisfazer de alguma forma, larga-se o sujeito e busca-se alguém que alimente as necessidades do seu ego. A reciprocidade, nesse caso, é interesseira. Por isso, relacionamentos mais felizes e completos não são apenas uma troca de interesses – são parcerias verdadeiras, coisa difícil de encontrar nos dias de hoje. O parceiro, no significado mais lindo da palavra, é aquele que reconhece seu ser como um ser complementar, apesar dos seus defeitos. Quando percebe-se que se instaurou uma parceria verdadeira, os dois integrantes (ou mais, dependendo do tipo de relacionamento) logo reconhecem que ali se formou uma preciosidade, e cuidam dela com todas as forças. Os parceiros querem sim ser recompensados, mas eles não querem crescer sozinhos – os corações se unem de uma forma quase cósmica, e passa-se a desejar o bem do outro tanto quanto o seu próprio bem. Quero sim ouvir eu te amo, mas dizer eu te amo passa a ser tão importante quanto. Quero sim cafuné na cabeça, mas fazer cafuné passa a ser tão importante quanto. Quero sim alguém com ideias que me façam crescer, mas o crescimento do outro passa a ser tão importante quanto. Assim, a roda gira. Cria-se um ciclo de intenções verdadeiras e de ações concretas que fortalecem os parceiros. Pode-se andar tranquilamente de olhos vendados, pois sabe-se que os olhos do outro servirão pra te guiar enquanto você não enxergar a luz. A partir do momento em que trabalhamos nosso altruísmo com relação ao nosso ser, nos tornamos seres menos egocêntricos e, portanto, mais evoluídos. Quando verdadeiramente nos movemos de forma a fortalecer o outro, automaticamente nos fortalecemos. É a lei irrefutável da ação e da reação. Tem gente que passa a vida toda sem encontrar um parceiro de verdade – e aí acabam escolhendo outros seres com os quais não necessariamente desenvolveu-se uma relação amorosa. Tem gente que escolhe o cachorro, o amigo de infância, um tio, a avó, o que também é ótimo. Mas é melhor ainda quando conseguimos uma parceria com alguém com quem podemos inclusive satisfazer outras necessidades, como as sexuais. Assim, junta-se tudo num delicioso pacote. E se você teve a dádiva de encontrar um parceiro, agradeça. Não deixe de agradecer uma noite sequer quando estiver dormindo no peito dele, ganhando aquele carinho que só se materializa quando é oriundo de um amor de verdade. Você ganhou um presente que muitos passam a vida toda sem sequer imaginar a cor do pacote. O tempo de duração aqui passa a ser secundário – parcerias nem sempre duram pra sempre, mas, como em praticamente tudo na vida, mais vale a intensidade do que a duração. Melhor ter um parceiro de verdade por um mês, do que um sugador de energia durante a vida toda. O tempo é relativo – dura o quanto fazemos durar. E aí, voltamos a dizer: prefira a provisoriedade completa, do que a permeabilidade vazia.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Romantismo saiu de cartaz?

Que saudade eu tenho do meu romantismo tonto, protagonista de novela das seis. De quando a noite de domingo se apresentava e eu sempre pensava que podia assistir a algum filme delicado e feliz, que fechasse o meu dia com aquela leveza gostosa que as coisas simpáticas trazem. Corria para locadora de vídeos do bairro, implorando para acertar a escolha. Desejava aquele momento utópico dos filmes românticos em que você encontra alguém depois da prateleira, sugerido entre os filmes, como naquele remake de Romeu e Julieta, com o Leonardo DiCaprio, quando eles se veem através de um aquário cheio de peixes. A cena encanta, por isso quando mirei, em uma noite, um cara depois de um cardume de gente, para lá e para cá, e ele me observava de volta, pensei que pudéssemos virar história para ser contada.

Ao menos, na fantasia acontecemos.

Eu voltava para casa com um romance só no DVD. Me recolhia no sofá e a noite passava solitária e clichê, porque no dia seguinte os mocinhos respondiam outras falas. Chato demais não poder controlar o outro, improvisar em cima de frases e conflitos que você não pediu. A expectativa mutila a realidade. Era como ter as novas versões do seu roteiro redigidas por pessoas indiferentes.

Eu pensava em desencontros como a pimenta de toda história e que os créditos finais apareceriam anunciando mais um fim sorridente. Acreditei tanto nisso, que por anos esperei o final de uma história que nunca se encerrou. Em vez de tranquilidade, só ganhei ressaca. Tive eu mesma de gritar “corta” e mudar de sala. Você precisa aceitar que, em alguns filmes, jamais vai ser a mocinha.

A vida está mais para um texto descontínuo, abarrotado de buracos. A vida se esforça o tempo todo para te mostrar que amor é algo que você desenhou. É difícil encostar esse personagem no canto e subir para tomar ar empedrado, a única maneira de respirar. É impossível não reprimir na cabeça a possibilidade de um final feliz, ao olhar para um abraço nas poltronas da frente no cinema.

Hoje, o amor já nasce duro e só quem improvisa é capaz de suportar as suas consequências.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Conselho aos desesperados por um par: Continuem sozinhos!

A vida é realmente muito melhor com companhia. Mas, aqui vem a regra de ouro – tem que ser com a companhia certa. O mundo está cheio de gente desesperada para namorar, casar, noivar, ou para conseguir um cobertor de orelha qualquer que o aqueça neste inverno. E está cheio de gente frustrada, reclamando aos quatro ventos que não serve para essa coisa de relacionamentos.

Bem se vê que não serve mesmo, já que saiu por aí escolhendo qualquer um. Aí vai uma dica. A modernidade trouxe um montão de coisas bacanas para gente. Eu não saio de casa sem meu celular, consigo encontrar qualquer endereço fazendo uso de um GPS, e falo com amigos em outro continente sem pagar nada em ligações pela internet. Mas eu diria que, no mundo dos relacionamentos, o grande avanço da modernidade foi a tal da ficada.

Quando eu tinha lá pelos 12 anos, surgiu essa coisa nova chamada Ficar. Pais tremiam na base, professores não sabiam o que era direito e, na dúvida, era melhor não incentivar. Mas que grande ganho para a humanidade! A partir daquele momento, o namoro não era mais o momento em que você conhecia uma pessoa para ver se ela servia ou não. Até porque, apresentar para os pais, os amigos, para os contatos do Facebook, sem nem saber direito se a pessoa vale a pena ou não? Hoje parece estranho, mas era o normal da época em que namoro era dar as mãos no sofá com a supervisão do pai na sala de estar da casa dela.

Agora, a vida não é mais tão complicada assim. Na maioria das vezes, a palavra namoro só aparece tempos depois do primeiro beijo. Por isso que eu não entendo quanta gente abre seu coração, entrega a vida, namora e faz planos, com quem não merece. E pior: com quem é descaradamente a pessoa errada para o indivíduo confuso em questão. Todo mundo aqui já passou pela situação de conhecer o namorado/namorada do amigo e pensar na hora: Mas como esses dois foram achar que combinam? Pois é culpa daquele velho desespero.



Na nossa sociedade, aquela mesma que promoveu o Ficar lá atrás, ser sozinho é sinônimo de ser fracassado. Chega aquele churrasco de comemoração de dez anos do seu colegial. Imagine a cena: todos os seus amigos casados, metade deles com filhos, carreiras brilhantes, tudo definido e você sozinho? Soa mal, soa bem mal. Mas não tem que ser assim. Afinal de contas, sua vida é pra você, e, como diziam nossas mães, ninguém paga suas contas.

Portanto, aqui vai minha grande sugestão para os corações solitários à busca de um amor. Continue sozinho. Tire um ano sabático de sua vida amorosa. Continue solitário assim até achar alguém que mereça fazer com que você desista disso. A vida de solteiro tem suas vantagens, e a maior de todas é que o mundo todo está aberto em uma grande possibilidade bem diante dos seus olhos. Tem algo de mágico em imaginar que a próxima esquina pode ser o lugar onde você vai conhecer a mulher ou o homem dos seus sonhos, e viver aquela grande aventura com que todo mundo, lá no fundo, fantasia. Só não saia distribuindo passagens por aí e depois reclame que a viagem não foi grande coisa. O meu mundo não é lotação, é área VIP.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Uma geração de covardes e traidores.

É só olhar para o lado: quantos amigos e amigas você tem que já traíram alguém? Que namoram, no regime de exclusividade, mas de mão única, claro? Você pode muito bem ser um desses casos. Eu conheci uma garota nos seus 23 anos que tinha 2 namorados. Relação séria mesmo, de conhecer os pais de todos. Falava na maior normalidade: era mais fácil ela morrer de tédio por transar com o mesmo cara todo dia do que de algum remorso por enganá-los. Como não tinha jeito pra sair caçando uma noite só na balada, mantinha namorados paralelos em círculo de amigos diferentes.

A traição sempre aconteceu e não é uma exclusividade dos tempos modernos. Mas hoje, e essa é a frase mais triste que eu poderia dizer sobre esse assunto – é normal. É normal brincar com o coração alheio, a traição já virou rotina, aquela uma vez por semana na balada da quinta-feira, quando é mais fácil dar a desculpa sem imaginação do ‘trabalhei até tarde’. Já ouvi de mais de um amigo o conselho – não importa se ele disse que vai almoçar com a mãe, se vai no futebol ou fazer cerão no escritório: se ele não está com você, ele está te traindo.

Isso, meus amigos, é porque somos uma geração de covardes. Trair é almejar um estilo de vida que você não tem colhões para assumir. Não existe nada de errado em comer uma por noite, se é isso o que você quer. A parte cruel, a parte que realmente determina que seu caráter é praticamente inexistente, é manter uma pessoa ali por segurança. É brincar com as expectativas, com os sentimentos daquele único cara que se importou o suficiente para ficar.

Agora me diz: em que ponto da nossa vida nos tornamos completos idiotas sem compaixão? Estúpidos sem qualquer sentimento de identificação e simpatia com o outro a esse grau? É aí que entra o problema de uma geração inteira de homens e mulheres que hoje têm entre 25 e 35 anos. Meu amigo costuma dizer uma frase muito bonita, cheio de orgulho quando lembra do pai e da mãe, já falecidos. Ele diz que os dois ‘o criaram para ser um homem de bem’. A maioria de nós fomos criados assim, não? Mas os pais de alguns também nos criaram para ter tudo da vida.

Existem estudos sobre essa geração X (agora já existe até uma Z, mas essa ainda é uma mistério pra mim) que se refletem muito no que eu vejo por aí. São os filhos tratados na base do ‘como você é inteligente!’, ao invés de ‘como você se esforçou pra fazer isso!’. São os predestinados, os que acham que já têm por direito um lugar no mundo, e que não precisam se esforçar para ser ‘um homem/mulher de bem’ para conquistar a vida. Tudo o que precisam fazer é chegar e pegar o que bem entenderem. É uma geração completamente mimada e, por consequência, covarde, que não tem coragem para crescer. Eternos infantilóides desmamados.

Ninguém mais se assume. O mundo está mais me parecendo uma grande sala da mãe, em que as crianças continuam ocupadas em quebrar o vaso preferido dela e esconder debaixo do sofá para que ninguém descubra. Eu tenho uma novidade: sua mãe não manda mais aqui, você está sozinho. Se ela não te disse isso, eu faço as vezes de professora dessa grande creche que se tornou o mundo e digo – você é adulto o suficiente para fazer, seja adulto o suficiente para assumir. Assuma os seus atos. Assuma a sua vida. Tem um problema com alguém? Diga na cara e tenha bolas para se aventurar por esse caminho antes tão natural e hoje tão esquecido, o caminho da honestidade. Não passe a vida evitando ser você. E, por favor, cresça antes que alguém que não fez nada além de te amar seja mais uma grande vítima dessa sua geração covarde.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Quando a gente aprende a ir embora.

Algumas pessoas dizem que uma das coisas mais difíceis em relacionamentos é o primeiro “eu te amo”. Aquela velha história de quem vai falar primeiro e qual vai ser a reação do outro ao ouvir (e retribuir) a frase de efeito mais conhecida dos últimos tempos. Outros dizem (e eu concordo) que a coisa mais difícil não é o momento certo de dizer que ama, ou a primeira noite de sexo do casal, ou conseguir manter a convivência, ou controlar os ciúmes. Não, isso faz parte. A coisa mais difícil é reconhecer o momento exato em que um relacionamento acaba. Se apaixonar é fácil quando comparado a renunciar uma história escrita a quatro mãos. É uma vida a dois que chegou ao dilema entre dar mais passos à frente e pisar em falso ou fechar a porta e deixar a chave na cabeceira. É complicado quando a gente reconhece que a relação já não tem mais futuro e não acrescenta em mais nada. Esse tipo de coisa não acontece de um dia pro outro, mas resulta de um processo que pode ter sido iniciado por uma razão qualquer. Uma das partes pode ter acordado e achado estranho aquele braço por cima do seu corpo durante a noite. Ou pode ter visto uma das fotos antigas e não ter se encontrado nos dias mais recentes com aquele sorriso de antes. São indícios delicados, frases quebradas, contatos minuciosos que indicam que chegou ao fim. Sem ser sutil demais agora: desistir de uma relação que não tem mais profundidade nem se mostra prazerosa para um dos envolvidos não é tarefa fácil. É necessário pensar, repensar, pesar as coisas e tomar uma decisão que põe em risco milhares de situações para cada um deles. Existe aquela ligação sentimental, seja de carinho, seja de relembrar tudo o que foi vivido em conjunto. E daí vem aquela hora de pensar sobre o que seria melhor: continuar por comodidade (e abrir mão de novas descobertas e evoluções a dois para manter intacto algo que pode ser estrondoso caso termine) ou arriscar ir embora para tentar ser feliz. Tem também o caso de não deixar que o outro vá embora pelo sentimento de posse que ainda se tem. É mais fácil continuar numa relação vazia e furada do que permitir que a outra pessoa seja feliz sem você. Não vou entrar no debate entre valer a pena ou não e, principalmente, se foi amor ou não. Mas chegou ao fim. É aquele momento em que você percebe que amor não é tudo numa relação. Que conviver, confiar, enxergar além do outro, manter vivo o dinamismo e as experiências cotidianas são muito importantes também. Ou que tudo isso é até mais importante que o próprio sentimento de amor. É hora de abrir mão de um presente estável e mergulhar na sensação de estar perdido no mundo novamente, principalmente se a relação atravessou anos ou tempo demais para ser destacada de maneira fácil. Quando a gente aprende a ir embora, a gente aprende a deixar pra trás coisas que fazem parte de nós ou que nos tornaram o que somos hoje. Talvez não seja tão difícil assim como eu digo. Talvez seja só um drama bobo de comédias românticas que quase ninguém vive por aí. Mas desalojar velhos conhecidos pode ser realmente um grande aprendizado.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Não se diz eu te amo pra qualquer um.

Se me pedissem para responder em poucas palavras por que tem tanta gente interessante sozinha e infeliz por aí, eu não iria hesitar muito em responder: porque eles não querem estar sozinhos, mas não sabem estar juntos. Porque, na primeira oportunidade, tem muita gente que se agarra desesperadamente à chance de encontrar o amor da sua vida, mas não está nem um pouco interessado em construir uma relação de verdade com o príncipe encantado, quer ver logo a coroa de princesa e as declarações apaixonadas do lado de um cavalo branco.

E quem procura até acha, mas acaba se contentado com o primeiro que encontra. Ninguém mais está preocupado em se dedicar à pessoa certa, mesmo que ela seja apenas uma das dezenas que estão por aí no mundo e que combinariam muito com seus planos na vida. Na esperança de achar uma alma gêmea que nem sempre existe, se desesperam e vão com muita sede a um pote vazio, que deveria ser completado não com suas expectativas inalcançáveis sobre relacionamento, mas o que ela tem a oferecer a quem diz que ama.

Outro dia li em um comentário por aí dizendo que o problema é sempre quando alguém tenta fazer outro feliz. Que ninguém tem a obrigação de fazer uma pessoa feliz que não seja ele mesmo. Fiquei bastante escandalizada. Quem disse que é uma obrigação? A palavra relacionamento acabou substituindo a palavra amor e tudo virou uma ciência, repleta de estatísticas, jeitos de se fazer. Homens preferem isso e aquilo na cama. Mulheres são mais assim e assado, mas também não dispensam um pau com mais do que tantos centímetros, diz pesquisa.

Tem coisa melhor nessa vida do que saber que o outro está precisando de um colo e fazer de tudo para ser esse ombro amigo? Tem coisa melhor do que ser melhor amigo de quem se ama? Tem coisa melhor do que só parar de se divertir com os errados quando realmente achar o certo? Muito se diz sobre relacionamentos que acabam por que virou só amizade, mas pouco sobre os que acabam porque nunca foram. Intimidade, cumplicidade, não se paga com nenhum tipo de falsa liberdade. Não se engane, experiência nenhuma que vale a pena vai manter você nos seus eixos. E é preciso estar preparado para que sua vida seja chacoalhada de um jeito que você, se tudo der certo, não vai nem querer controlar. Paixão é assim. Amor continua sendo assim, você vai se entregando à vida, vai se entregando a quem ama, vai deixando de pensar só em si.

Se você quiser que o seu namoro/casamento/relacionamento – que o seu amor – dure, que ele marque sua vida de um jeito que vai ser difícil viver depois sem estar rodeado, repleto de uma felicidade absurda, se você quer realmente experimentar um amor de alma, um amor de olhar no fundo dos olhos e entender em dois segundos quem é o outro, do que ele precisa para ser feliz – e que ele faça o mesmo por você -, vai ter que abrir mão da postura individualista de querer tudo e não dar nada.

De uns tempos para cá, comecei a me sentir a mulher mais feliz do mundo por nunca ter tido um desses relacionamentos de estatística, planejado, pensado, calculado para não dar intimidade demais nem resultar em liberdade de menos. Eu só amei, amei, amei, amei muito. Sem ficar podando arestas e vivendo com medo de como as coisas vão se sair. Porque bom mesmo é acordar todos os dias, olhar pro lado e não acreditar em quanta felicidade o destino te reservou. Não por uma noite, nem por seis meses, mas por anos e anos. Infelizmente, isso é muito raro. E não porque é impossível, como os mais desiludidos acreditam às vezes. Mas porque tem muita gente querendo amor, e pouca gente sabendo o que é isso.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Riso é perigoso.

Clarice Lispector beliscava sua amiga Lygia Fagundes Telles quando entravam juntas num encontro literário: – Não ri, vai! Séria, cara de viúva. – Por quê? – perguntava Lygia. – Para que valorizem o nosso trabalho. Não há mesmo imagem de alguma risada da escritora Clarice Lispector. Em livros e revistas, a cena que persiste é seu olhar desafiador, emoldurado por um rosto anguloso, compenetrado e enigmático. Os lábios não se mexem, absolutamente contraídos, envelopes fechados para a posteridade. Lispector não mostrava suas obturações, sua arcada para ninguém. Não se permitia gargalhadas para não parecer mulher superficial e leviana. Ela percebeu que existe um imenso preconceito contra a alegria. Os críticos não a levariam a sério, dizendo que ela não era densa, não inspirava profundidade; acabariam por sobrepor a aparência faceira aos questionamentos metafísicos de sua obra. Seu medo não era bobo. O riso permanece perigoso. Todos temem os contentes. Falam mal dos contentes. O riso gera inveja, ciúme, intriga: “Por que está feliz, e eu não?”. A alegria é malvista em casa e no trabalho, sempre intrusa, sempre suspeita equivocada de uma ironia ou de um sentimento de superioridade. Ainda acredito que profissionalismo é feição fechada, casmurra. Ainda deduzo que competência é baixar a cabeça e não entregar nossas emoções. Quanto mais triste, mais confiável. Quanto mais calado, mais concentrado. O que é um tremendo engano. A criatividade chama a brincadeira, assim como a risada renova a disposição. Se um funcionário ri no ambiente profissional, o chefe deduz que ele está vadiando, sem nada para fazer. Poderá receber reprimenda pública e o dobro de tarefas. Quem diz que ele não está somente satisfeito com os resultados? Se sua companhia ri durante a transa, você conclui que está debochando do seu desempenho. Quem diz que não é o contrário, que ela não festeja o próprio prazer? Se a criança ri no meio da aula, o professor compreende como provocação e pede para que cale a boca. Quem diz que ela não está comemorando algum aprendizado tardio? Se o filho ri quando os pais descrevem dificuldades profissionais, a atitude é reduzida a um grave desrespeito. Quem diz que ele não achou graça do tom repetitivo das histórias? Se a namorada ou namorado ri e suspira à toa, já tememos infidelidade. O riso é escravo dos costumes, sinônimo de futilidade e distração quando deveria ser visto como sinal de maturidade e envolvimento afetivo. Não reagimos bem à felicidade do outro simplesmente porque ela ameaça nossa tristeza.

Traduzindo a alma feminina

Mulheres têm um idioma todo particular. Elas falam duas coisas ao mesmo tempo. São várias expressões que não podem ser compreendidas ao pé da letra. Apresentam um sentido totalmente diferente daquilo que até eu mesma pensava. Não sou nenhum Chico Buarque, nem um Teixeirinha, mas vou me arriscar a traduzir a alma feminina para prevenir separações mundo a fora. Quando a mulher diz "vamos sair um pouco!" significa "eu quero mudar de canal, não agüento mais futebol!" Quando a mulher diz "estou depilada" significa que está a fim de sexo. Quando a mulher diz "só nove minutinhos" significa "duas horas e um minutinho". Quando a mulher diz "estou irritada" significa que ela está maluca. Quando a mulher diz "tenho dor de cabeça" significa "me deixa quieta!" Quando a mulher diz "você não presta" significa "eu te amo apesar de tudo". Quando a mulher diz "cala a boca" significa que você não sabe ouvir. Quando a mulher pergunta "tem alguma coisa na geladeira?" significa "me leve para jantar fora!" (ela sabe que não tem nada) Quando a mulher diz "não é necessário, amor" significa "é muito importante, amor". Quando a mulher diz "você não me entende" significa que você não faz o que ela quer. Quando a mulher diz que está indecisa numa loja significa um pedido para você comprar a peça e dar de presente. Quando a mulher diz “pode ir sozinho” significa “me leva junto, por favor”. Quando a mulher diz pode atender ao telefone no meio de um filme significa “desligue o celular, pô!”. Quando a mulher diz “amanhã” significa nunca. Quando a mulher diz “hoje” significa ontem. Quando a mulher diz "vamos dormir" significa dormir mesmo.

Venha, por favor!

Eu espero alguém que não desista de mim mesmo quando já não tem interesse. Espero alguém que não me torture com promessas de envelhecer comigo, que realmente envelheça comigo. Espero alguém que se orgulhe do que escrevo, que me faça ser mais amiga dos meus amigos e mais irmã dos meus irmãos. Espero alguém que não tenha medo do escândalo, mas tenha medo da indiferença. Espero alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros que ela tem certeza que vou ler até o fim. Espero alguém que se arrependa rápido de suas grosserias e me perdoe sem querer. Espero alguém que me avise que estou repetindo a roupa na semana. Espero alguém que nunca desista de conversar mesmo quando não sei mais falar. Espero alguém que, nos jantares entre os amigos, dispute comigo para contar primeiro como nos conhecemos. Espero alguém que goste de dirigir para nos revezarmos em longas viagens. Espero alguém que confie se a porta está fechada e o café desligado, se meu rosto está aborrecido ou esperançoso. Espero alguém que prove que amar não é contrato, que o amor não termina com nossos erros. Espero alguém que não se irrite com a minha ansiedade. Espero alguém que possa criar toda uma linguagem cifrada para que ninguém nos recrimine. Espero alguém que arrume ingressos de teatro de repente, que me sequestre ao cinema, que cheire meu corpo suado como se ainda fosse perfume. Espero alguém que não largue as mãos dadas nem para coçar o rosto. Espero alguém que me olhe demoradamente quando estou distraído, que goste de me telefonar para narrar como foi seu dia. Espero alguém que procure um espaço acolchoado em meu peito quando cansada. Espero alguém que minta que cozinha e só diga a verdade depois que comi. Espero alguém que leia uma notícia, veja que haverá um show da minha banda predileta, e corra para me adiantar por e-mail. Espero alguém que fique me chamando para dormir, que fique me chamando para despertar, que não precise me chamar para amar. Espero alguém com uma vocação pela metade, uma frustração antiga, um desejo de ser algo que não se cumpriu, uma melancolia discreta, para nunca ser prepotente. Espero alguém que tenha uma risada tão bonita que terei sempre vontade de ser engraçada. Espero alguém que comente sua dor com respeito e ouça minha dor com interesse. Espero alguém que prepare minha festa de aniversário em segredo e crie conspiração dos amigos para me ajudar. Espero alguém que pinte o muro onde passo, que não se perturbe com o que as pessoas pensam a nosso respeito. Espero alguém que vire cínica no desespero e doce na tristeza. Espero alguém que goste de domingo em casa, de acordar tarde e de andar descalça, e que me pergunte o tempo antes de olhar para as janelas. Espero alguém que me ensine a me amar porque a separação apenas vem me ensinando a me destruir. Espero alguém que tenha pressa de mim, vontade de mim, que chegue logo, que apareça hoje, que largue o casaco no sofá e não seja educada a ponto de estendê-lo no cabide. Espero encontrar uma mulher que me torne novamente necessária.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Detalhes me interessam!

E se eu falar que o seu braço sobre o meu ombro naquela conversa fez toda a diferença? Gosto de iniciativa. Parceria. Eu abro a porta, você puxa a cadeira, eu chamo o garçom, você. A sua ligação no meio da tarde de quarta, seus rabiscos no bloquinho verde limão, o chocolate no futebol, o seu sms quinta de madrugada, onde leio você elogiando a noite anterior e um alerta de futuros reencontros. Esses detalhes me deixam com vontade de. Você verbaliza, pontua, exclama, apaixona, presenteia (com palavras) e embriaga da forma que gosto. Sou grata a todos os santos por isso. Pego o terço bento que minha amiga me entregou e mando ver nos agradecimentos. Eu acredito. Naquela noite, entre nossos amigos em comum eu te olhava com admiração enquanto você articulava sobre os exercícios que aprendeu em uma aula de terça. Você faz isso direitinho, tem um certo ar arrogante e seguro enquanto fala, existe um certo charme enquanto passa a língua nos lábios e arruma o cabelo. Deve ser de Marte. E quando eles voltam a conversar entre si, o meu olhar mira o seu e o seu olhar flerta com o meu. E quase podemos decifrar o que se passa na mente de ambos. Essa atmosfera tem gosto de mel. Cheiro de baunilha. Cor de tulipa vermelha. E você ri enquanto imagina o que eu posso tá imaginando pelas minhas caras e bocas. Deixo um tanto da minha coragem para enfrentar os futuros imbróglios. Sim, eles surgirão, como já surgirão e dessa vez farei diferente, prometo pra você não fugir no primeiro tropeço ou me enrolar. Deixo reservado para você uma dose de humor para quando o seu estiver escasso. Naqueles dias em que as coisas no trabalho não fluem, ou quando aquela dorzinha de cabeça resiste a qualquer Coca-Cola com aspirina. Deixo as dúvidas e os medos lá atrás, em um lugar distante, onde não me alcancem. Deixo em cima da mesa dois convites do show que vai ter no final desse mês na cidade. Você olha, arruma novamente o cabelo, molha os lábios com a língua e me entrega de graça o que eu mais gosto em você: seu sorriso.

domingo, 9 de setembro de 2012

Domingo Particular.

Tenho em mim uma agonia insidiosa e malandra. Quando me pega distraída, fica me soprando aos ouvidos frases que incitam pressa. ‘Vai. Liga pra ele outra vez’; ‘Anda, pergunta pra chefe se o trabalho ficou bom’; ‘Briga com seus amigos por não terem te procurado no fim de semana’... Diante dessa agonia libidinosamente nociva, me perco feito criança em labirinto. Eu ligo, cobro, corro, choro, brigo. Tudo antes da segunda página. Acaba que as outras pessoas mal desenharam o primeiro parágrafo e eu já terminei o texto. Intensidade é pouco. Vou engolindo as entrelinhas, os arremates floreados, as frases lustradas. Meus amores são rascunhos escritos em papel de fazer origami. Começam dizendo como foi bom conhecê-lo, e terminam na dor de cotovelo de um final mal resolvido. Pois é... Tudo culpa dessa agonia penosa. Ela tem desejos alvoroçados, e uma pressa enorme de ser feliz... Fica recitando versinhos e me cobrando amar. Cantarola músicas doces e me pergunta quando é que a felicidade vem. Eu não sei. Olha aqui, sua agonia filha da puta, eu não sei! E já cansei de procurar debaixo de cada pedra, em cada fresta, em todos os vãos. Eu não procuro mais! E aí encaro a agonia, abro bem os olhos e digo com todas as letras: ‘Agora quero paz. A felicidade que me procure quando estiver pronta pra mim!’. Vá eu querer entender a cabeça alheia (só agora começo a entender a minha, aos trancos e barrancos). A velha história das borboletas de Quintana é tão real quanto a inconstância que nos cerca, mesmo que ninguém admita. Não vou prometer não ligar. Não vou jurar que ‘já foi’, nem esnobar, nem fingir que não me importo. Sou muito mais que isso... Sim! Eu me importo, dane-se. Hoje vou tentar deixar de lado o tsunami de descontentamento que me segue feito quimera... Decidi que é domingo. Meu domingo particular... As preocupações vão ficar pra depois, feito vendedor batendo na porta em pleno fim de semana pela manhã... A gente se revira na cama, e simplesmente ignora... Hoje é domingo! Já li todos os livros da estante, a tv não tem nada que valha minha atenção, e por mais que revire a agenda, ninguém merece um telefonema ou convite pra passeio no parque. Tudo bem, isso é típico dos domingos. Dias assim não são especiais nem são tristes. São preguiçosamente vazios. A gente vai empurrando os problemas com a barriga... Deixa pra amanhã! Aliás, já chega de divagar... Hoje é domingo. Vou procurar desenho nas nuvens ou dormir no sofá... Amanhã decido se me curo ou enlouqueço.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

17

Bem vindo, dia 17. Saiba de antemão que você será um dia raso com pensamentos profundos.Hoje é aniversário de uma das pessoas que mais amei na vida. Ironicamente, já não nos sabemos uma da vida da outra.Não, não falo de um amor que não vingou. Dizem que ‘a gente cura um amor frustrado buscando outro amor’, e crendo ou não nesse clichê, ele é disseminado por aí, repetido cada vez que um coração partido precisa de conforto.No meu caso, nem com frases de efeito posso contar, já que o âmago dessa história é uma amizade.Quem está aniversariando é uma amiga (já que ex amiga não existe, na minha concepção). Nos tratávamos por apelidos que já não cabem... Embora não tenham perdido a validade, perderam muito do sentido.Mil vezes lembranças inteiras do que um presente despedaçado.Também não posso me lamentar. Rupturas raramente tem um único culpado, embora nosso umbigo sempre teime em varrer a culpa pros lados de lá.Simplesmente não pude esquecê-la... Não hoje.Julho passado, passei mais de uma semana enfiada numa gripe dos infernos, aquelas que a gente parece que vai morrer e nos piores momentos tudo que recordo, além de uma sede descomunal, é de conversar com essa amiga... Tê-la ao lado da cama acarinhando minha testa e tentando me fazer esquecer das dores e tubos.Por que estou contando isso? Porque ela nunca foi me visitar. Restam duas explicações: um devaneio fortalecido pela medicação ou laços muito fortes.Como boa sonhadora, escolhi crer na segunda opção.Pudesse, ligaria pra ela e falaria do quanto me fazem falta nossas conversas. Daria os parabéns cobrando uma comemoração inesquecível e dizendo ‘até amanhã.’ Mas não posso.O orgulho não me trava, mas as circunstâncias, essas sim.A gente trata a vida como algo extremamente maleável e vai deixando certas coisas pra depois, e quando se dá conta... O depois já passou.Nós passamos uma na vida da outra (se é que amizade passa). Fomos nos acostumando a não compartilhar as novidades, a não contar os planos, a esquecer... E o que éramos ficou guardado... Docemente embalado pelo passado.E é por essas e outras, dia 17, que você é especial.'A amizade é um amor que nunca morre.'Mário Quintana

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Eu não quero ser a mulher da sua Vida

Não, eu não quero. E já deixo declarado o meu desinteresse por essa sua mania, e a mania de muitos, em me culpar por qualquer futuro errado que venha trair seus planos.

Eu não quero esse peso todo do título ideal porque me dá dores de coluna e a minha postura sofre com isso todos os dias. Não, eu não quero carregar o estigma da importância taxada no peito. Enquanto algumas mulheres diriam que isso as torna relevantes, e importantes, e valorizadas. Eu. Eu mesma. Eu digo que isso não faz a menor diferença pra mim ou pra você. Não, eu não quero ser a tal pessoa da sua vida. Esse papel eu deixo pra sua mãe. Parece que você, e o resto do mundo, esqueceram que se apaixonar é bem melhor quando vem sem cobranças.

E também parece que isso não é mais suficiente. Se não for pra ser da minha vida, nem precisa ficar. Vai embora. E vocês perdem tantas chances com essa ideia estúpida de que uma pessoa (e apenas essa única pessoa) tem lugar aí, no seu cantinho particular. É como se você tirasse da minha boca uma promessa que eu nunca fiz. E depois? Quem é que vai pagar a conta do analista pras suas expectativas frustradas?

Vai muito além de casamento, ou “pra sempre”, ou marca de aliança nos dedos. Só acho que esse cargo de chefia requer muita habilidade, responsabilidade e culpa. Sim, culpa.


É como talhar a ferro e fogo uma marca detalhada na pele de alguém, que fica pelo resto da vida. Que não se perde facilmente. Não se perde, pra dizer a verdade. Ser a tal pessoa da sua vida é pisar de salto agulha na sua projeção equivocada de mim. Você, decepcionado. Eu, decepcionada por decepcionar você. É responsabilidade demais e não é que eu seja imatura ou infantil.

Por mim basta que eu me apaixone e você se apaixone ou que tropecemos numa caminhada qualquer no parque e vá tomar um sorvete, ou que você me seja apresentado por aquela amiga e os olhares se cruzem.

Só que você quer sempre mais que isso. É mais do que qualquer um pode dar. Quando você não tiver mais nada para fazer, passa lá em casa. A gente junta as escovas de dente e isso não precisa significar nada demais. Eu sou uma dessas mulheres-folhetim do Chico, meu bem. Só digo sim.

O seu trabalho é me manter interessada e ser mais seu do que meu. Eu posso ser seu rito de passagem, mas nunca vou poder ser o seu título perfeito. A mulher da sua vida. Você correria o risco de ter seu crachá jogado no lixo, ou de desacreditar em segundos e terceiros amores.

Não, eu não quero deixar que você se perca comigo e não perca o fôlego com outras. Nem quero que você se atreva a chorar copiosamente e escancarar portas de bares por minha causa. Outras virão. Outros verões também.

E eu prefiro que você me identifique de outras formas e que me aproveite nas curvas, nas chuvas e nos momentos trôpegos do sexo. Se não quiser, eu te levo até o altar e te entrego de bandeja.

Eu posso usar as suas camisas todas e deixá-las com cheiro de suor e perfume amadeirado.

Eu posso até ser a sua amiga, quem sabe um dia sua namorada. Mas dispenso as credenciais.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fórmula para entender o Amor.

O amor berrava no meu rádio e repetia “I Love You” sem economizar decibéis, como se essa expressão universal a todos fizesse um sonoro sentido, em qualquer língua e com qualquer nota. Eu ouvia, ouvia e não entendia nada. O amor estava presente no primeiro, no centésimo e, inevitavelmente, no último capítulo de cada novela, como se nenhum roteiro completo, nessa vida, pudesse ser escrito sem a presença desse ilustre personagem com faceta de coração. O amor sempre sentou na poltrona ao lado da minha e, incontido, soluçava nos mesmos romances que eu assistia sem entender o real motivo das lágrimas na hora do fim. O amor beijava desesperadamente sem preocupar-se com o filme projetado na telona, agarrava forte, sem importar-se com a Coca-Cola intocada e condenada a perder todo o gás enquanto as mãos sedentas, de outras pessoas, passavam longe do copo plástico. O amor não tinha tempo para o balde lotado de pipoca, estourava sempre em outros peitos e nunca havia pipocado no meu. O amor estava presente em tudo e em todos, nas paredes pichadas, nos quadros expostos, nos guardanapos dobrados e nas fotos iguais, tiradas aos pés da torre Eiffel. Eu até suspeitava que o amor existisse, mas eu ainda precisava conhecê-lo. Elas diziam que me amavam e eu respondia perguntando se ia chover. Evitava brechas em nossos papos, pois sabia que entre um carinho na mão e um beijo no pescoço, eu poderia deparar-me com uma declaração legítima de amor, com a qual certamente não saberia lidar. Não sabia o que era o tal do amor, mas mecanicamente entendia que meu silêncio poderia soar como uma pedrada na cara da mulher ansiosa por um: “eu também”. Procurava pelo amor em toda esquina, em cada passo e até no Google, mas descobri que o amor é um terremoto impossível de ser previsto. E, então, justamente, quando eu resolvi sair de casa, acabei esbarrando com o amor – na verdade, me cumprimentou e sorriu e, em poucos minutos de conversa fiada, meus olhos estavam pregados em seus olhos. Eu nem poderia imaginar que a partir dali viria a entender o real significado do “I Love You” que tanto ouvia nas ondas do rádio, sem precisar de tradutor ou intérprete. Definitivamente o amor é algo difícil de ser explicado, pois nasceu para ser sentido na pele e cravado como lança na parte mais nobre do coração. O amor é indescritível, é um invasor maravilhoso e impossível de ser barrado ou escolhido. O amor é a fusão imprevisível que não marca hora para acontecer, apenas vem, mistura e transforma tudo em reflexo dele, transpondo as barreiras do coração, consumindo nossa energia, matando a nossa fome e escondendo o nosso sono. Por isso, sinto-lhes dizer que, ao contrário do que diz o título desse texto, o amor nunca poderá ser entendido através dos livros e muito menos conseguirá ser ensinado nas escolas ou nos textos de alguém que, como eu, já até tentou descrevê-lo, mas desistiu quando percebeu a complexidade e os múltiplos desdobramentos dessa fogueira interna. Eu queria poder te dizer o que de fato é esse tal de amor, mas se ainda não foi atropelado por esse turbilhão embriagante, só me resta torcer para que um dia seja e, enfim, compreenda o gosto delicioso desse torpor único. E, não se preocupe, é impossível não notá-lo: ele chega como furacão sem pedir licença e executa seu milagre – nos permite reinventar a nossa forma de enxergar o mundo. E é aí que você finalmente entende: o amor é sempre muito mais do que dizem sobre ele.

domingo, 26 de agosto de 2012

Pasticceria Particolare

“Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.” Caio F. Abreu Muita coisa pode ser doce, a vida, a criança, o açúcar. O açúcar com sabor agradável, a criança por apenas existir e o simples prazer de viver. É doce os pequenos prazeres da vida, como tomar banho de chuva, colher uma fruta, abraçar um filhote de cachorro, olhar velhas fotografias. Um pessoa torna-se doce com um gesto ou um singelo sorriso.Existem doces lembranças, dos tempos de criança ou milagres que a vida oferece. Doce é a nossa fé, a alegria, a esperança, doce é o verdadeiro amor. O sonho também pode ser doce, porque não tem limites, e os momentos inesquecíveis da vida são doces. Eu amo gente que faz da doçura um estilo de vida. Que se preocupa em ser atenciosa com os outros, em estender a mão, dar um abraço, um conselho, um carinho, uma ajuda. E às vezes é de tão pouquinho que precisamos, mas ninguém dá. Ninguém tem tempo, saco, paciência pra ser legal. Ninguém presta atenção. Ou se importa. É por isso que acredito muito na frase " Aqui se faz, aqui se paga". O que se fez de bom, volta. O que se fez com o coração aberto, volta. Assim como também voltam todas as ruindades, maldades e pragas rogadas. Eu acho a coisa mais linda desse mundo quando a gente encontra uma pessoa doce. Elas são como pequenos tesouros escondidos nos lugares mais difíceis de achar. Podem estar ao nosso lado, na nossa frente, e nem sempre conseguiremos enxergá-las. Porque é preciso ser doce para identificar as outras pessoas doces. Elas jamais serão rudes ou infames, jamais sentirão prazer em diminuir os outros, jamais deixarão de ajudar caso possam. Delas virão os maiores sorrisos, os melhores empurrões, as lágrimas mais verdadeiras e as palavras mais sábias. Com elas aprendemos o verdadeiro significado da palavra gentileza. Que seja doce. Que a vida seja doce. Que as pessoas sejam dóceis. E que até mesmo os dissabores que surgem pelo caminho sejam doces. O doce pode estar no paladar, quando degustamos delícias açucaradas ou no pensamento, quando estamos felizes. Se o cotidiano não oferecesse tantas amarguras, tudo seria simplesmente doce. Caso o açúcar que fica na prateleira da cozinha tenha acabado, não se preocupe. Como já disse Wilson Simonal - " eu era neném não tinha talco.. Mamãe passou açúcar em mim."

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Depois de tanto tempo.

Depois de tanto tempo, recebi suas ligações, e das outras também. Fiquei espantada, não nego, afinal não é comum um amor passado te ligar.

O maior segredo do amor não é por que amamos, mas por que deixamos de amar.

Nem procure recapitular o que bebeu na noite anterior. Não tomou nada. É a ressaca da sobriedade. Um imperioso repuxo da boca.

A descoberta é sutil como perder um prendedor de cabelo. Quase insignificante como um enjoo, um cansaço. A consciência surgiu por acaso, sua origem não é bem certa, de repente na hora de escovar os dentes ou ao regar as plantas ou ao atender o interfone. Não tem lógica. Saímos do centro de gravidade que nos tornava absolutamente dependente dos gestos e das atitudes do outro. Estamos livres para pensar sozinhos e, ao mesmo tempo, presos para sempre na incompreensão.

O desamor é tão fulminante quanto a atração, mas com consequências embaraçosas. Como abandonar a militância, a ideologia, e não ser visto como um traidor? Como narrar o que não tem enredo e reunir sentido em frases soltas e ensimesmadas?

Qualquer um vai se envergonhar de contar, trata-se de um sopro, não mais de uma voz. Não é algo para perguntar, está resolvido, fertilizado de impressões.

Por que é duro sair de casa sem um motivo. Duro encarar quem amamos tanto tempo sem oferecer nenhuma explicação adequada e convincente para o fim. Duro conversar sem mesmo entender como ocorreu a passagem de lado, de uma fidelidade extrema e desesperada à indiferença. Duro executar a tarefa, sabendo que alguém aguarda ansiosamente uma palavra para desaguar os traços, uma palavra onde possa colocar a culpa e amaldiçoar nosso nome. Esse alguém precisa da palavra que não temos, como um pai ou uma mãe do corpo desaparecido do filho.

Vive-se a tragédia de não ter uma tragédia para desencadear a briga. Não haverá uma causa específica para a distância. Fugiremos do contato visual, por não corresponder mais às expectativas.

Receberemos a fama de mentiroso, de fraco, de que estamos escondendo a verdade. Muitos forçam uma causa, para descontar o preço da loucura. Muitos revisam os últimos movimentos para justificar o término. Muitos mentem para não passar trabalho. Muitos tentam diminuir a injustiça inventando fatos.

O que aumenta a penumbra é que incrivelmente nunca mais encontraremos nosso par, apesar de viver na mesma cidade, frequentar o mesmo bairro, dividir gostos semelhantes. Nenhum esbarrão no mercado ou no banco. Os amigos em comum apagam as pistas. Não dá para compreender se mudamos os hábitos ou os hábitos não nos pertenciam mesmo e queríamos agradar pensando que eram nossos.

Minha amiga reviu seu ex num bar. Ele estava acuado com o imprevisto, cumprimentou nervoso ao invés de ajudar o rosto a sorrir. Ela foi ágil, venceu as cadeiras de ferro, as mesas truncadas, esforçou seu quadril para criar interesse e perguntou o que ele andava fazendo. Eu assisti ao enlace esperando o momento de ser apresentada.

Sondei o que passou pela cabeça de Juliana: aquele rapaz simpático, de cabelos compridos e óculos ingênuos, foi um dia seu melhor, que ela também foi um dia o melhor dele. Ela tinha que mostrar ternura e não ferir o Henrique de ciúme. Ele tinha que apresentar confiança e não se abalar com ele.

A emoção ficou represada ou talvez já houvesse secado. A questão é que não se falavam durante cinco anos. Idealizaram um reencontro que não aconteceu. Não existe justiça depois da separação.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Amor Platônico, vá se foder!

Aposto que você nunca se apaixonou platonicamente pelo mendigo maluco do seu bairro (daqueles que você mal vê a unha do pé de tão suja). Os amores platônicos tem sempre um alvo predileto: a pessoa fodona que você cruzou algumas vezes na vida e ficou babando que nem fã do Luan Santana. Conheço muita gente que vive se lamentando sobre não conseguir fazer a outra se apaixonar por ela. Ficam alimentando um amor platônico por muito tempo e se relacionamento com uma pessoa fantasma em sua imaginação. Normalmente elas miram aquela pessoa extremamente desejada por todos e que parece a mais bonita, interessante, inteligente, estável financeiramente e bem articulada no jeito de agir com os outros. Depois fica dias, semanas e meses numa masturbação emocional sem fim, vasculhando o Facebook, procurando o nome no Google, perguntando dele para qualquer contato direto ou indireto que o conheça. E pior ainda: tem gente louca que gosta de sentir isso preferencialmente por pessoas comprometidas ou artistas inacessíveis, tipo Cauã Raymond . Daquele tipo que fica se imaginando no lugar da Grazzi Massafera ou simplesmente odiando ela. É pedir para sofrer alimentar esperanças com alguém que não está na sua. Prato cheio para quem tem receio de encarar um relacionamento de verdade, olho no olho. Agora pense com calma. Repare que não pensou no mendigo amigo e sim no cara fodão por pura vaidade e desejo de ser lançada ao patamar dele. Esse é o começo mais perigoso para uma relação. Você já espera de mais e oferece de menos. Até se um milagre acontecesse você não ia segurar as pontas, pois sua base é frágil e a decepção seria certa, para os dois lados. Então, se você quer sair dessa armadilha emocional tem duas alternativas: Primeira, abaixe a bola e seja sensata. Quando nos apaixonamos por alguém sempre é por aquilo que ela acrescenta em nossa vida e os sonhos que ela pode realizar. Isso é tipicamente egocêntrico, portanto seria mais generoso você se perguntar: “o que eu tenho a oferecer para essa pessoa que eu acho tão maravilhosa?”. Se o fodão X desse bola para você, qual o impacto que teria no mundo dele? Você ia segurar a barra ou ia infernizar a vida do cara por se sentir inferior na relação? Você tem elementos pessoais que ficariam confortavelmente compatíveis com as expectativas altas que vê nele? Qual experiência de vida tem a compartilhar que seja realmente interessante dentro no mundo dele? Se você não sabe responder com convicção nenhuma dessas perguntas é um mau sinal. Sua vida precisa de cuidados. Talvez seria interessante olhar para o lado e ver aquele cara que está mais compatível ao seu mundo e com quem realmente possa trocar em pé de igualdade já que caiu na real que não é nenhuma perfeição. Mas se isso parece pouco para você resta a segunda alternativa. Tenha uma vida significativa a tal ponto que o surgimento de um amor ao seu lado seja consequência natural de estar se movimentando pelo mundo. Se quer viver uma experiência espetacular não adianta esperar sentada em frente ao computador lambendo o avatar do Facebook dele. O que faz uma pessoa se apaixonar por você é mais simples do que imagina. O amor começa e é realimentado na admiração. O que você faz de admirável aos seus olhos e que causa bem estar à sua volta? Se nem você gosta de olhar para sua vida e seu cotidiano, por que acha que outra pessoa seria obrigada a gostar? O fato de você se apaixonar por alguém é o único motivo pelo qual essa pessoa deveria retribuir o seu sentimento? É preciso parar um pouco de olhar para fora e voltar seu olhar para dentro. Invista em você, amplie seus horizontes. Isso vai custar algum tempo, esforço, dedicação, dinheiro, mas no resultado final, será uma pessoa mais realizada. A melhor maneira de incitar o amor de alguém por você é se tornar uma pessoa realmente INSPIRADORA – só assim poderá viver o prazer de um amor real, em vez de um de faz de conta. Afinal, Cartola mesmo já dizia: olhar, gostar, só de longe, não faz ninguém chegar perto.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Quando a gente esquece de esquecer..

Esse lance de ir com calma não é pra mim. Me atropelo sempre que tento impor limites ao meu querer.
Quando a gente conversa, me apaixono. E dane-se.
Tô aqui pra entregar o motivo...

Sempre estive disposta a encarar começos, meios e fins, perdoar, começar de novo e terminar de novo, tantas fossem as vezes necessárias...

Só pra ver se algum dia isso dava em alguma coisa diferente de dar em nada.

[Quase] Tudo que você desejasse eu faria. Embora não tenha feito.
Você não desejou? Ou simplesmente eu não fiz?

Na mesma hora que espero que você se perca em uma trilha e desapareça, quero que você me tenha de um jeito que ninguém mais consegue.

Nunca vou compreender porque você é tudo o que eu quero, mas isso acaba complicando as coisas, ao invés de resolver.

Acho que tenho medo de encarar que tudo isso não passa de nada. Coisa da imaginação, pra gente não parecer tão banal, ficar menos vazio, mais inteiro por amar alguém, ser correspondido e não dar certo. Assim a gente se sente parte do todo, afinal, o mundo tá cheio dessas histórias.

Nem sei se vale a pena insistir. Só não vale tirar da vida o que ela mais gosta de se gabar: seus mistérios.

Coração, apenas prometa que não vai mais prometer o que não puder cumprir. O resto dou um jeito de levar sozinha...

Finalmente tô enxergando que sou igual a todo mundo. É chato, mas acontece. Acabou a convicção de que fui predestinada à felicidade irrestrita.

Acho que no dia em que nasci, meu anjo disse: ‘Sorte pra você, menina. Que você seja louca por Nerds e sua pele continue linda, que tenha os amigos mais amorosos do mundo, que sua família seja um verdadeiro comercial de margarina... Mas você não terá sorte no amor, pra não ficar convencida’.

E aí encontrei você...

Sobre anjos e chocolates.

De vez em quando me pergunto que porra de época é essa, que não me faz feliz nem dá saudade do que já passou. Quero acordar cedo e degustar o dia, ou ficar na cama e esquecer que é segunda-feira. Só não vale levantar sem vontade, mecanizar a rotina e estocar insatisfação. Vou quebrar os relógios, fazer uma fogueira com os calendários. Açoitar agendas, mandar prender despertadores. Redações e relatórios, só a lápis. Por favor, assine as duas vias.Lembranças são arquivos e tenho descoberto nos meus um amontoado de material dispensável. O que você quer ser quando crescer? O que você vai ser quando sua vontade crescer e te engolir? Dei pra rabiscar coisas desconexas. Sintetizar frases, desenhar o indizível. Sou tanto que não sei descrever e escrevo pouco. Sou pouco e pra descrever, digo tanto. Romanceio até a lista da feira e do supermercado: arroz e feijão, café com pão, nó e noz. Simulo paixões, faço de conta, passo da conta. Passei da fase do ‘uni-duni-tê’, agora tiro par ou ímpar para escolher. Meu bem, vem ouvir minhas velhas novidades. Afaga meu cabelo, me olha nos olhos e me faz sentir aquele frio na barriga. Isso é possível até em noites de calor. Sonho com colo enquanto coleciono calos. Durmo de lado e no meio da noite fico em dúvida: pra que lado é o céu? Meu anjo da guarda abandonou o posto. Assumiu um estagiário que sonha ser Cupido. Caiu de gaiato na minha história, ficou zonzo com o enredo.'Arreda daqui, anjinho torto. Vou brincar com a sorte, me colocar num pêndulo entre ela e o azar. Avisem meu signo que acabo de anunciá-lo num leilão, site de vendas, americanas.com. Enquanto escrevo, minha música começa a tocar. Minha? Não, da menininha boba que deletei ontem a noite. Ei, produção, vamos pensar numa trilha sonora? Essa aí não dá, não! Quebrei seus óculos para que você não visse meus erros. Tentei apagá-los antes que te saltassem aos olhos. Mas eles foram rabiscados com caneta, grifados, sublinhados e destacados.Tudo bem, meu bem. Hoje acordei com tanta fé em mim que não preciso dos santos no altar.A rotina não está doce, mas chocolate amargo sempre foi meu favorito. Devorá-la sozinha me parece interessante, agora que fiquei de bem comigo. O que você quer ser quando você crescer? Completa.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pequena biografia não autorizada.

Desembarcou nesse mundo numa noite de lua cheia. De outro jeito não podia ser. Era outono mas o vento soprava quente, e a sua mãe sentiu muita dor. Chegou como todo mundo, entregue à própria sorte e agarrada ao que pudesse tornar a existência menos vã: Deus, Santos, amores (verdadeiros ou não). Aprendeu desde cedo que a vida é escolha, que não existe escolha sem renúncia, que cada renúncia é uma lacuna, e que por tudo isso a única certeza é a ausência. Descobriu nas palavras seu consolo e seu martírio. Falava demais... De si, de seus medos, da alegria e das frustrações. E quem quer saber? Bastam os enigmas que correm no interior de cada um. Mas as palavras também eram o abraço confortante das horas difíceis: ler a fazia encontrar outras almas sozinhas. E se todos estão sós, estão unidos pela solidão. Escrever libertava, e viu que isso era bom. Levou uns tombos a medida que foi crescendo. Alguns machucaram os joelhos, outros o coração. Descontente, entendeu que amadurecer é aceitar. Procurou respostas e terminou multiplicando as perguntas. Se doou demais sem retorno, e outras vezes recebeu muito sem se doar. As brigas ganhas se perdiam pelo caminho, as perdidas eram recordações constantes. Algumas noites passou chorando feito criança sem colo. Algumas, passou brincando e sorrindo. O certo é que na grande maioria, sonhou e rezou pra evitar as perdas, porque a vida... Ah! Ela é tão maior que ganhar ou perder. Inventou amores procurando O amor. Executou trabalhos medíocres buscando O trabalho. Amargou tristezas pra achar a felicidade perpétua. E se você espera saber que ela viveu "feliz para sempre", sinto muito. Ela continua padecendo desse mau tão bom que é viver.

Mosaico

Aproveito as ausências pra matar as saudades de mim. Nem me lembrava do quanto posso ser doce, de como é gostoso acarinhar minhas carências e fazer minhas vontades. Acho até que o destino cansou de me contrariar. Ok, você sabe que não acredito em destino... Mas se acreditasse, escreveria um bilhetinho agradecendo a trégua dos últimos dias. ‘Senhor Destino, valeu o cessar fogo. Vamos poupar artilharia e promover a paz.’ Não que as coisas estejam em ritmo de final de novela. Ainda tem meia dúzia de personagens me incomodando e alguns arremates que preciso ajustar pra ficar satisfeita com o enredo. Meu cabelo podia ter mais corte, meus textos mais engajados e uma galera mais receptiva. Mas não tô reclamando, não. Ao contrário, ando flertando com as minhas qualidades e gostando mais de mim. A ansiedade continua aqui, só que mais comportada. Vira e mexe me cutuca e ameaça birra. Aí dou bronca e ela senta cabisbaixa, com as perninhas balançando no ar. Hoje de manhã acordei com o passado chutando a porta. Ameacei chorar. Pensei em voltar atrás, jogar pro alto a evolução e a placidez dos últimos dias. Corri pro espelho e ele me confidenciou que sou mais bonita sorrindo. Resolvido: sorri ao invés de berrar e escapei de ouvir ecos dos meus gritos. Viu? Ainda sei me virar sozinha, embora as vezes eu mesma vire do avesso como ninguém. Vai ver é esse o problema: não quero viver do avesso. Dei carinho, apoio e espaço. Mas vocês são exageradamente adeptos da calma. Corro o risco de receber sementes ao invés de flores. Quer saber? Me importo, mas não me inflamo. Toma, um sorriso pra vocês também. Tô muito mais preocupada comigo, em manter os bons ventos que a vida anda soprando. O que uns chamam de egoísmo, eu chamo de paz.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Guerra!

Meus sentimentos são itinerantes,
membros de um teatro mambembe cujo palco não tem refletores.

Às vezes me sinto assim, meio sem sal. Trezentas mil ideias mastigam meu raciocínio e nenhuma delas tem dentes afiados o bastante. Resultado: mordem, marcam e cospem.


Pensar demais dói. Faz a gente esquecer que a tecla dessensibilizar precisa ser acionada de vez em quando e aí fica essa sensação estranha, de que cérebro e coração vivem um casamento sem amor, dividindo o mesmo teto sem que tenham nada em comum.

Admiro aquelas pessoas que optam por um dos lados, escolhem a racionalidade fria ou a intensidade quente e não sentem falta do morno. Já eu, tento sem sucesso apartar as brigas constantes desses dois: cérebro e coração. Os danados vivem se digladiando e fazendo com que eu me equilibre em cima de um muro estreito.

Arranhões e escoriações são comuns.
Ah! Se um deles tomasse as rédeas. A culpa se dissiparia e eu poderia descansar em águas rasas. Chega de nadar na intensidade desequilibrada de uma mente hipersensível e hiperpensante.

Há quem herde olhos azuis, cabelos cacheados, uma pinta ou um desvio de coluna. Eu herdei essa coisa que se chama sentir demais... Sinto muito.

(es) crê (ver).

As pessoas vivem avisando que histórias devem ser escritas a lápis, mas sempre teimo. Gasto papel, tempo e tinta de caneta. Borro tudo. Amasso a folha, acumulo uma pilha de páginas que não deram certo. Quando pequena, tive uma daquelas cartilhas "Caminho Suave", aulas de caligrafia e uma professora que cobrava letra redondinha, parágrafo e travessão. Adoro ver a caneta dançando sobre o papel e quando escrevo a mão, sinto as palavras mais minhas. Meu único defeito é ignorar o lápis - exceto pra desenhar. Não senhor! Quero uma esferográfica vermelha para o título e outra preta para o corpo do texto. Se errar, rabisco um traço e começo tudo outra vez. Sem corretivo, que não admito meus escritos sob disfarce. Foi essa teimosia que rendeu tantas folhas arrancadas, tantas páginas na lixeira. Já escrevia sobre você, mas não conseguia me fazer entender. Como uma criança que confunde as letras e não entende porque sorriso não é com z. Às vezes quero te dizer milhares de coisas e ao mesmo tempo, não quero dizer nada. Posso começar contando do azulzinho do céu que vejo da minha janela todas as manhãs, passar pelo menino que cata latinhas na rua, comentar o que comi no café e terminar nas minhas insatisfações que não sei de onde vem e me incomodam feito etiqueta pinicando. Eu não quero dizer nada porque tenho ímpetos de te bater de vez em quando. Não literalmente, só aqui dentro. Bebo litros d’água durante o dia e me imagino em noitadas boêmias, enchendo a cara de álcool e te afogando bem aqui dentro. Você nadando apressadamente, desesperado, o álcool subindo e aqui dentro tudo sucumbindo enquanto gargalho com o copo na mão: Eu vou te matar! Às vezes quero te dizer que odeio o que a sua falta me causa e acabo optando por não dizer nada, porque você vai rir ou desdenhar, sem entender como pode doer tanto uma saudade de apenas dois dias. Eu não quero dizer nada porque tenho vontade de rasgar todas as suas memórias e depois jogá-las pela janela. Tenho vontade de me atirar também. Não literalmente, só atirar do oitavo andar a bobinha que ri sozinha quando é surpreendida pelas suas lembranças. Ela caindo e eu assistindo de camarote, satisfeita: Cai, tolinha! Eu quero te dizer um milhão de coisas que você ainda não sabe – ou talvez saiba, mas não sob a minha ótica. E é tanto querer, é tanto a dizer, é tanto, tanto, tanto... Que eu fico assim, desesperada, com mil pássaros batendo as asas dentro da minha barriga e cem aranhas tecendo teias na minha cabeça. Eu nunca senti isso antes e essa porra de sentimento descomunal oscila mais que a minha fé na humanidade. Fé cega, lâmina pra lá de afiada. No fim das contas, não te afogo e tampouco me atiro pela janela. Senta aqui. Às vezes quero te dizer milhares de coisas... Acertei a mão quando te encontrei. Escrevi histórias em letras graúdas e você grifou as palavras chave, ilustrando os trechos principais. Com você não dá para apagar, muito menos jogar fora. Com você deu certo (e eu nem precisei passar a limpo).

Redes Socias

Carta mais ou menos aberta aos usuários das Redes Sociais. Deus disse "Faça-se a internet!". E a internet foi feita. E deus viu que isso era bom. O que ele não podia prever é que nós foderíamos tudo. Dá-lhe postar foto dos pés, dos pratos, da porra do cachorro e do papagaio (Sou dessas. Curtam!). Dá-lhe tecer uma carapuça aqui, dar uma stalkeadinha ali. Ah! Que mal tem? Dá-lhe cagar regra na porra toda e mandar indireta para fulano, que será pescada por beltrano e chocará sicrano. Deus disse "Faça-se a internet!" e simultaneamente, veio a Sodoma do Facebook e a Gomorra do Twitter. Vai, deus! Destrói e começa tudo de novo, que a gente não entendeu nada e tá T U D O E R R A D O . COM . BR A gente cria uma conta com todo amor e carinho, escolhe avatar (Valeu, Photoshop!), seleciona amigos e para quê? Para quê, minha gente? Para disputar mãozinhas com dedinhos para cima e/ou seguidores. E porque eu quero seguidores? Para ter mais seguidores. Por quê? Para ter mais seguidores. Por... (perguntas eternas.) Ai, mas Redes Sociais são bacaninhas, eu falo com meus amigos e... Cala a boca! Se fossem amigos de verdade, você usaria a porra da rede para marcar o ponto de encontro do final de semana, não para mandar recadinhos com corações. E antes que Noé construa uma arca e selecione um perfil de casal por Rede Social, vale ponderar: Noé, poupe-se! Construa apenas uma canoa e leve consigo os poucos com bom senso. (Eu, por exemplo, tô fora!) Além de tudo que apontei, as Redes Sociais acabaram com o direito da gente opinar. Não gosta da banda x? Ah! Vá se foder, vadia! Não curte o autor y? Palhaço, só fala mal porque não sabe fazer melhor! Ousou mencionar que a atriz z engordou? Se enxerga, garota! Você usa 42! Não dá mais para expressar opinião sem ofender alguém. Em tempos de Redes Sociais, as pessoas sempre levam para o lado pessoal. Tolinhos! É isso, cara. Aproveita a profecia Maia, Grega, Tupiniquim ou sei lá o que e dá um jeito nisso! PS: Wagner Moura, obrigada pela inspiração. Odiei você nos vocais! PS 2: Curtam esse texto ou ficarei CHATIADÍSSIMA, com i de ironia. PS 3: Quem discordar, é porque é recalcado!

terça-feira, 31 de julho de 2012

Eu nunca quis um amor perfeito

Ainda que fosse só a boa conversa, a química eletrizante, o sexo livre. Ainda que fosse só a atração física, a admiração das ideias ou os beijos encaixados. Você já me valeria a pena. Mas não é. Tem isso e ainda todo o resto. Escuto as pessoas se queixarem repetidamente que o amor completo anda escasso no mercado. Encontra-se, às vezes, só a beleza, a afinidade ou o corpo. Falta o resto. Ou ainda, a paciência, o companheirismo, o aconchego. Mas a incompletude, ainda sim, reina. E os pessimistas, dizem que não é possível achar alguém do jeitinho que você quer. Alguém que te complete, que te baste, que te encante repetidamente. Eu, insisto no contrário. Porque amores incompletos, não saciam a fome. É como uma dieta só de proteína – você se sustenta por um tempo, se engana, inventa que o buraco no estômago está saciado – bebe água, bebi um destilado fatal. Mas, a falta de carboidrato, cedo ou tarde, pega. E você volta pro início. Eu nunca quis um amor perfeito. Sempre quis mesmo foi um amor cheio de erros, que vão sendo alinhados durante o caminho. Porque se tudo já começa certo, não vive-se o prazer da vitória. Sempre quis um amor quentinho, daqueles de aconchego no fim de tarde, de colo depois de um dia de cão, de beijo no nariz ao acordar. Sempre quis um amor livre – sem a ideia desajustada que um pertence ao outro. Com menos regras ditadas – e mais pontos de vista ouvidos. Sempre quis alguém com o qual pudesse fazer sexo sem regras – em nome das descobertas. Porque sexo bom de verdade, é aquele com instinto e sem razão. Sempre quis um amor com respeito. Não daquele tipo das “moças de respeito” que querem seu patrimônio corporal preservado. Sempre quis aquele respeito que te permite ver o outro como um outro ser – cheio de vontades e desejos. Respeito é aceitar que o outro é diferente de você. Sempre quis um amor que me fizesse crescer. Por que o essencial, faculdade nenhuma ensina. O essencial aprende-se na troca de ideias, no debate, nos pontos de vista trocados. Sempre quis um amor que me valorizasse. Não somente pelas coisas cotidianas, mas principalmente pelas qualidades que poucos enxergam. Sempre quis um amor que me enxergasse. Mas não que enxergasse somente as coisas óbvias – porque, de obviedades, a vida está cheia. Sempre quis alguém que me enxergasse lá no fundo – e, ainda, sim, gostasse de mim. Sempre quis alguém que quisesse ouvir verdades – e falar, também, na mesma proporção. Porque meias-verdades não interessam. Difícil mesmo é achar alguém que esteja pronto pra ouvir até o mais pesado, até o mais doído e retribuir na mesma moeda. Sempre quis alguém que me achasse gostosa – mas que entendesse que gostosura, mora mesmo nas entrelinhas. Sempre quis um amor que me mostrasse caminhos – invés de impor trajetórias. Sempre quis um amor que não me reprimisse – pelo contrário, que me provocasse para que eu conseguisse mostrar o que vive escondido lá no fundo. Sempre quis um amor que sonhasse. E que corresse atrás dos sonhos comigo. Não por imposição, mas por vontade de seguir a mesma trilha. Sempre quis alguém que não tivesse jeito pra joguinhos. Porque deles, eu já me desencantei na adolescência. Sempre quis alguém que me ganhasse nos detalhes. Alguém ao qual eu não conseguisse resistir. Alguém que trouxesse brilho pros meus olhos a cada nova atitude, a cada nova ideia a cada novo sorriso. Sempre quis alguém pra ficar junto – alguém que entendesse que pra estar junto não é preciso estar perto o tempo todo, mas sim do lado de dentro. Por que a proximidade física nem sempre completa tanto quanto a do coração. E não sei se foi por insistência ou merecimento – mas esse amor veio antes do esperado, contrariando os que diriam que amor completo é coisa rara. E hoje, entendo, que o amor bom é o amor livre – que se recicla todos os dias como energia renovável. O quanto vai durar – não sei. Prefiro a provisoriedade completa, do que a permeabilidade vazia.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Minha forma de dizer eu te amo.

“Eu te amo.” É isso que deseja ouvir? Então repito: “Eu te amo!” Está contente agora? Se quiser eu grito na frente de todo o pessoal do escritório, quer? “EU TE AMO!” Mais alto? “EU TE AMO, PORRA!” É isso que espera de mim? Uma mulher incapaz de desligar o telefone sem dizer “Eu também te amo”. Acha que amar é isso? Pensa que não há prova de amor maior do que essas míseras palavrinhas repetidas até a exaustão de sentido? Desculpe a demasiada sinceridade, mas você precisa prestar mais atenção nos meus atos, perceber que me calo só para respeitar sua ânsia de falar, reparar que meus olhos estão sempre focados nas curvas do seu corpo, enxergar o quanto eu sofro quando você fica triste e notar a força que faço para te abraçar enquanto você sente dor. Você precisa parar de perder tempo esperando por declarações de amor Hollywoodianas e aí então começará a entender as inúmeras ações simples que demonstram o quanto eu sou completamente maluca por você. Só assim valorizará a paciência que tive quando você estava totalmente possuída pelo espírito maligno da TPM e injustamente me acusou de ser a causa da sua irritação, e de os problemas existentes na humanidade. Para saber o que realmente sinto, você precisa relembrar dos dias que me pintei de palhaço só para tentar te alegrar, enquanto todo o mundo parecia não ter a menor graça – mesmo não sendo comediante, tomei muitas tortadas na cara pra conseguir uma gargalhada sua. Será que não percebe? Você precisa saber que visto o avental de cozinheira só pelo imenso prazer de te ver sorrindo satisfeita. Torço calada para acertar de novo o brigadeiro que aprendi a fazer somente para te agradar. Eu não gosto de cozinhar. Quando estou sozinha em casa, prefiro comer comida velha ou pedir pizza, mas só por você meto a mão na massa, na farinha e até no fogo se precisar. Você precisa entender que só por você eu tenho forças para enfrentar meus medos, para então ser capaz de manter minha mão firme, controlar meus tremores e com isso, te transmitir a coragem necessária para que você possa atravessar as mais violentas turbulências. Eu carrego as suas coisas, sinto no meu peito as suas dores, ando pela madrugada enquanto dorme tranquila e sonha, espero horas até você decidir sair da cama, no restaurante te dou meu prato quando não gosta do seu, enfim, faço tudo isso para perceber o quanto eu te amo, mesmo quando eu não digo nada. Por isso minha ilustre leitora, se você é uma daquelas mulheres que não desliga o telefone enquanto não ouve o famoso “eu te amo”, informo que você está totalmente vulnerável as mais simples técnicas de manipulação verbal, pois qualquer pessoa pode fazer, robô programado para fingir e papagaio treinado para repetir, poderá facilmente desferir essas palavrinhas mágicas e potencialmente afrouxadoras de sutiãs. Quer saber mesmo o que eu acho? O “eu te amo” é mera formalidade, é apenas uma expressão opcional e até dispensável em um relacionamento no qual o amor é verdadeiramente provado através da compreensão, do compartilhamento e até do silêncio. Talvez o segredo esteja mesmo em não procurar pessoas capazes de dizer “eu te amo” em várias línguas, mas buscar pessoas que consigam dizer essa mesma expressão sem precisar abrir a boca. Pode até dizer que isso tudo aqui nada mais é que uma poesia, mas no meu mundo, poesia é você sorrindo. O resto são palavras em comum.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

:)

Cores, flores, leveza, estrelas, doçura, nuvens e sorrisos. Sei que eu repito essas palavras muitas vezes, em todas as frases, em todos os textos. É que meus dias têm sido desse jeito, compostos por essas delicadezas. Feitos dessas bonitezas da vida, que fazem tudo parecer mais...leve. Que Deus permita que eu siga bordando meus versos com milhares de cores e flores, e lindezas, assim. Transformando passado em poesia, desenhando no presente, um futuro mais bonito, e doce, enfeitado de energia boa, de fé. Comecei então a procurar sorrisos, para descobrir o que fazia cada uma daquelas pessoas felizes. Observei por um bom tempo uma mulher de aproximadamente 40 anos, que aprendia a andar de bicicleta. Ao errar e quase cair, ela sorria, meio sem jeito, talvez com vergonha das pessoas que caminhavam naquele parque. Sua felicidade era quando conseguia pedalar alguns metros. E isso eu via no brilho dos olhos dela. Uma criança descalça, na beira do lago. Olhava para os seus pés e divertia-se com a sensação do chão crescer macio sob eles... Não se importava em sujar a barra da calça, só queria ‘sentir’. Outra garotinha saboreava um algodão doce e, com uma olhar inocente, brincava com a leveza do açúcar em forma de nuvem. Aliás, acho mesmo que as crianças sejam mais felizes que nós: são puras, podem enxergar a felicidade nas pequenas coisas, como alimentar os pombos ou soltar pipas. Eu plantei um pé de amor, pra colher sorrisos. De nada adiantou. O vento, de tempo em tempo, desfacelou as flores, os frutos e os galhos. Só que tem uma coisa: O meu amor continua de pé, com uma bandeira hasteada no meio. É proibido não ter esperanças porque é Julho e o tempo pode tudo praquele que crê. E eu creio em dias azuis, cheios de paz dentro. Com crianças correndo no parque, casais de mãos dadas à luz do sol, de uma manhã clarinha. Acredito na força dos sentimentos bons, na energia positiva e na colheita dos sonhos, que chega sempre nas mãos de quem semeia o bem, de quem espalha pólem de luz e alegrias miúdas. Acredito que a bondade tem voz e acredito, também, num HOJE maior que o ontem e que o amanhã. Acredito na beleza e força de um sorriso, no encanto e energia das palavras. Acredito num Deus que tudo vê e que tudo ampara, da maneira correta e no tempo exato. Acredito na bondade sem disfarce, nos rostos sem máscaras e doses de paciência que removem montanhas, no carinho e na amizade. Creio na palavra que cura, nas canções que embalam sonhos, nos risos gratuitos, na bússula do lado esquerdo que sempre indica o caminho. Eu nasci pra acreditar. E esperança, minha gente, é o que anda comigo.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Liberte o Charlie Sheen que existe dentro de você

Não coma gordura, coma fibras. Não ligue para ela no dia seguinte, espere até quarta-feira. Não beba álcool, beba água. Durma no mínimo oito horas por dia. Não fale palavrão. Economize mais dinheiro. Pense mais no seu futuro. Raciocine melhor antes de falar. É tanta proibição que às vezes até essa existência maravilhosa me parece um pouco monótona, sufocante, sem sal e demasiadamente engravatada. Será que é realmente preciso viver todo dia num militarismo tão rígido assim? E daí que hoje você vai atrasar cinco minutos? O importante é conseguir chegar sorrindo e se possível cantando para todo mundo ouvir. Existem dias nos quais precisamos esquecer a porra do filtro solar e libertar um pouco do Charlie Sheen que existe dentro de cada um de nós. A vida é incrivelmente curta para ser levada tão a sério. E quer saber? Não vejo motivo pequeno demais que não possa servir como estopim para o início de uma grande comemoração. Vamos brindar e precisa ser agora! Não estou dizendo para sair por aí loucamente, incendiando quartos de hotéis ou acreditando que em suas veias corre sangue de tigre. Nem estou sugerindo que você troque o leite por uísque no café da manhã. Não é nada disso. Não quero que você se torne o inimigo número um da lei ou que durma numa cela esta noite, apenas sugiro que aumente o volume do seu Rock’n’Roll, que saia mais de casa e perceba de uma vez por todas o quanto a vida é geralmente muito mais descomplicada do que insistimos em torná-la com nosso mar de reclamações diárias. Se for pra comemorar, faça como o Charlie Sheen. Não aceite nada menos do que uma festa épica com uma semana de duração. Aproveite melhor seu tempo e, se puder, seja lembrado pelas suas gargalhadas e não pelo seu mau humor. Sinto informar-lhe, mas seu coração infelizmente um dia vai parar sem qualquer aviso prévio, por isso meu amigo, não tenha tanto medo da chuva, nem guarde essas palavras lindas somente para você. Amanhã pode ser tarde demais para pegar sua avó no colo e agradecê-la com mil beijos pelos tantos bolos gostosos que ela fez só para te ver sorrir. Amanhã, você pode não ter mais tempo para dizer a sua amada o quanto você gosta de esquentar- lhe os pés debaixo do edredom. Amanhã, pode ser que você não consiga nem mesmo escrever um bilhete, apenas para dizer à sua mãe o quanto você a admira e sente-se grato por tudo que ela lhe fez, faz e se puder ainda fará. Quando foi seu último porre? Não lembra? Que tal abrir uma garrafa de algo bem alcóolico e brindar a imensidão da vida com o maior número de amigos que conseguir reunir no bar mais próximo? Provavelmente, você irá sentir uma imensa vontade de dizer o quanto essas pessoas são importantes na sua vida e quer saber? Faça como os bêbados fazem: repita inúmeras vezes o quanto cada amigo seu é imprescindível para sua sobrevivência de sua alegria! Diga na cara deles o quanto você os acha foda. Abrace-os até quase quebrar-lhes os ossos e relembre com eles os bons momentos que viveram juntos. Ria até perder o fôlego ou chore, se essa for sua vontade. Homens também choram! Não tenha vergonha de derramar uma lágrima e sim de não achar nada minimamente emocionante. Lembre-se sempre que morrer não é algo opcional, mas que viver de verdade é, com toda certeza. Por isso, insira uns dias “à La Charlie Sheen” na sua rotina robótica, quebre algumas regras, esteja preparado para enfrentar as mais violentas ressacas e, se possível, tente lembrar os bons momentos no dia seguinte. Se não conseguir, pergunte a um amigo ou aguarde as fotos no Facebook. Um pouco mais de leveza, é disso o que todos nós precisamos.

domingo, 22 de julho de 2012

Metamorfose Ambulante

Não é de hoje que eu tenho escutado, e lido muito as famosas frases: "Nossa como você mudou", "Você tá tão diferente", " O que aconteceu pra você tá assim?". Na moral, eu tô cansada desse tipo de frase. Eu não pergunto por que você não se muda pra Puta que o Pariu, então, custa deixar um pouco a minha privacidade intacta?Tudo nessa vida de meu Deus muda. O mundo está propicio a mudanças constantes em pequenas e grandes proporções, que podem (ou não) mexer com a sua vidinha pacata e curiosa.Quanto mais impertinente, maior prazer me dá. O que é impertinente? O que poucos entendem e ninguém gosta. Significa que é novo. O mundo detesta mudanças e, no entanto, é a única coisa que traz progresso, evolução.A evolução pessoal surge quando há mudança comportamento. Há um momento na vida da pessoa que ela escolhe ter determinadas atitudes que ela mesmo sabe não serem corretas. Fui criada perante os mandamentos de Deus e sua imagem, disso trouxe a mim o que era certo e errado. E o que eu acho que eu estou fazendo agora, pra mim é certo. Não estranhe a minha mudança de comportamento e não me pergunte por que. Eu não serei a mesma para sempre. Com o tempo aprendi a valorizar somente as pessoas que me fazem bem, percebi que nem sempre podemos dedicar o meu melhor à todos, mas isso não significa que errei ao escolher os amigos, apenas quer dizer que tudo tem seu tempo, que a vida é feita por capítulos, etapas, e essas são concluídas com o passar dos anos, mas a todos aqueles que me afastei e que se afastaram de mim, que o tempo foi injusto e colocou um muro entre nós, estejam certos que se eu te dei minha amizade, foi verdadeira. As nuvens mudam sempre de posição, mas são sempre nuvens no céu. E assim que eu acho que devo ser todo dia, mutante, porém, leal com o que penso e sonho. Lembro-me que tudo se desmancha no ar, menos os pensamentos. Claro que qualquer mudança, mesmo uma mudança para melhor, é sempre acompanhada de inconvenientes e desconfortos. E sabendo disso, procuro minimizar sempre os mesmos, sabendo que não há como controla-los. Preciso sempre mudar, me renovar, rejuvenescer. Caso contrário, endureço. Então, eu prefiro ser essa metamorfose ambulante.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Mente Off!

O meu mundo é movido pela curiosidade, mas muita curiosidade pode pará-lo, isso se já não o parou. Cansei de ser curiosa, e resolvi experimentar deixar a minha cabeça na ausência de pensamentos, sejam eles quais forem. No momento em que tomei essa decisão, logo percebi: Falta de ocupação não é repouso; uma mente absolutamente vazia vive angustiada. Minha mente, oficina do diabo. Será? Não creio. Minha mente não anda sendo usada nem como oficina, fábrica, ou qualquer coisa do gênero. Os pensamentos tem passado longe dela, tanto os do bem, quanto os do mal - mesmo havendo pessoa que não acreditem nisso. Posso ter defeitos, viver ansiosa e ficar irritada algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Pensar é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Pensar é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Pensar é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Ao pensar aprendi a construir todas estradas que estou hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os meus planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo, aprendi que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. Aprendi que não importa o quanto me importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... Aceitei que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai me ferir de vez em quando e eu precisarei perdoá-la, por isso. Aprendi que escrever ao invés de falar pode aliviar dores emocionais. Descobri que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que eu posso fazer coisas em um instante das quais me arrependerei pelo resto da vida. Aprendi que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que eu tenho na vida, mas quem eu tenho na vida. E que bons amigos são a família que me permiti escolher. Aprendi que não tenho que mudar de amigos se compreender que os amigos mudam, percebe que meu melhor amigo e eu podemos fazer qualquer coisa, ou nada, e teremos bons momentos juntos. Descobri que as pessoas com quem eu mais me importo na vida são tomadas de mim muito depressa, por isso sempre devo deixar as pessoas que amo com palavras amorosas, pode ser a última vez que eu as vejamos. Aprendi que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre mim, mas eu sou responsável por mim mesma. Comecei a aprender que não devo me comparar com os outros, mas com o melhor que eu possa ser. Descobri que levo muito tempo para tornar a pessoa que eu quer ser, e que o tempo é curto. Aprendi que não importa onde já cheguei, mas onde estou indo, mas se eu não sei para onde estou indo, qualquer lugar serve. Aprendi que, ou controla meus atos ou eles me controlarão, e que ser flexível não significa ser fraca ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. E após tudo isso, descobri que deixar de pensar, ser curiosa, é impossível. A curiosidade sobre a vida em todos os aspectos é o segredo das pessoas muito criativas. Só se é curioso na proporção de quanto se é instruído. Há pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade. Outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade. Outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe. Outras, para serem edificadas, e isso é prudência. Outras, para edificarem os outros, e isso é caridade. E como não ser curiosa? E como não pensar? Segundo o cara mais sábio que eu conheço (meu pai): " O mistério gera curiosidade e a curiosidade é a base do desejo humano para compreender. Morrendo de medo e morrendo de curiosidade. A curiosidade ganha. A curiosidade é uma das características certas e permanentes de um espírito vigoroso." Papai disse que tenho curiosidade pra ser vendida, e pensamentos que nem sempre posso partilhar pelo teor deles. Depois de tanto não pensar, chego a conclusão que a curiosidade pode matar, mas também ensinar, que sonhar é viver, e que pensar é sobreviver.

domingo, 15 de julho de 2012

OCA

Eu viajo nos meus pensamentos, assim que eu fecho os olhos, pra me perder mesmo, e em uma dessas viagens eu fui parar no lugar mais calmo durante o ano todo, a oca do Ibirapuera. O projeto de Oscar Niemeyer para o parque Ibirapuera, traçado em 1951 foi feito para comemorar o quarto centenário que a cidade de São Paulo comemoraria em 1954. Ganhou vida nova, livre dos acréscimos e ocupações inadequados que o tempo se lhe impôs. O lugar é como uma ferida, um coração partido ao qual você se apega pois a dor é boa. Aí eu me lembrei de tudo o que foi dito, de tudo o que foi escrito, e por fim, do nosso último encontro. É sabida a dor que advém de qualquer separação, ainda mais da separação de duas pessoas que se amaram muito e que acreditaram um dia na eternidade deste sentimento. A dor-de-cotovelo corrói milhares de corações de segunda a domingo, principalmente hoje (Domingo), quando quase nada nos distrai de nós mesmos, e a maioria das lágrimas que escorrem é de saudade e de vontade de rebobinar os dias, viver de novo as alegrias perdidas. Eu, acostumada com esta visão dramática da ruptura, foi com surpresa e encantamento que ouvi a sua descrição sobre a nossa separação. Provavelmente nos separamos por que levamos a infecção do outro até aos limites da autenticidade, por que temos coragem de nos olharmos nos olhos e descobrir que o amor de ontem merece mais do que o conforto dos hábitos e o conformismo da complementaridade. A nossa separação foi o ato de absoluta e radical união, a ligação para a eternidade de dois seres que um dia se amaram demasiadamente para poderem amar-se de outra maneira, pequena e mansa, quase vegetal. Só nós dois sabemos que não se trata de sucesso ou fracasso. Só nós dois sabemos que o que se sente não se trata. E é em nome deste intratável que um dia nos fez estremecer que agora nos separamos. Para lá da dilaceração dos dias, dos livros, discos e filmes que nos coloriram a vida, encontramo-nos agora juntos na violência do silêncio, na ausência um do outro como já não nos lembrávamos de ter estado em presença. Despedir-me desse amor é me despedir de mim mesma. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente. Gostar de alguém é função do coração, mas esquecer, não. É tarefa da minha e da sua cabecinha, que aliás é nossa em termos: tem alguma coisa lá dentro que age por conta própria, sem dar satisfação. Quem dera um esforço de conscientização resolvesse o assunto. Livrar-se de uma lembrança é um processo lento, impossível de programar. Ninguém consegue tirar alguém da cabeça na hora que quer, e às vezes a única solução é inverter o jogo: em vez de tentar não pensar na pessoa, esgotar a dor. Permitir-se recordar, chorar, ter saudade. Um dia a ferida cicatriza e você, de tão acostumada com ela, acaba por esquecê-la. Com fórceps é que a criatura não sai. Todos queremos que as coisas permaneçam iguais. Aceitamos viver infelizes porque temos medo da mudança, que as coisas acabem em ruínas. Aí, eu olhei esse lugar, o caos que ele suportou, o modo como foi adaptado, queimado, pilhado e depois encontrou uma maneira de ser reconstruído, e eu me tranquilizei. Talvez minha vida não esteja sendo tão caótica. O mundo que é, e a única armadilha real é de nos apegarmos às coisas. A ruína é uma dádiva. A ruína é o caminho que leva à transformação.