domingo, 29 de dezembro de 2013

Dois mil e onde?

2013 revirou o universo de cabeça pra baixo. Realinhou os planetas e me deixou no meio de uma nebulosa sem entender nada do que tinha acontecido. No início dele, bem no começo, ouvi de alguém que 2012 teria sido o fim do mundo como a gente conhece e que essa seria a verdadeira profecia dos Maias. Se for assim, não poderia deixar de concordar mais: eu não existi esse ano como existi nos 20 outros anos que antecederam as mudanças bruscas desse. Me peguei perdida entre caminhos e escolhi alguns. Escolhi seguir naquilo que eu queria, ou acreditava, ou não sabia se seria o melhor pra mim, mas sempre botei cara, garra e coração na frente e deixei ser puxada. Coisas surgiram, e pessoas também. Coisas se desfizeram, e pessoas me desfizeram também. Como se algo me rasgasse, costurasse, suturasse e dissesse pra mim que ia ter que ser assim. Descobri que teve gente que passava e acabava comigo. Descobri que teve gente que me deu tchau de vez, e isso doeu tanto que eu ainda acredito num destino que se cruza. Descobri que teve gente que tinha tudo pra não ficar e ficou, ficou por mim quando nem eu mesmo teria ficado, ficou e me disse olá. E talvez tenha sido a minha grande conquista do ano, e você sabe bem de quem eu tô falando porque nesse exato momento surgiu um nome na sua cabeça. 2013 não foi um ano qualquer. Muitas pessoas a minha volta sentiram algo parecido com o que eu senti: que este ano foi um ano de intensidade única, com uma energia capaz de encerrar etapas. Um ano de despedidas, algumas concretas, outras mais sutis. Houve quem tenha terminado casos mal resolvidos, quem tenha se conscientizado de um problema que não queria ver, quem se deu conta da fragilidade de uma situação, quem tenha aceitado um desafio que exigiu coragem, quem tenha aceitado uma situação transformadora, quem tenha se jogado num estilo de vida diferente. Olho para os lados e vejo que 2013 não passou em branco pra quase ninguém. Pelo menos não pra mim, nem para pessoas próximas. Meu microcosmo não revela o universo inteiro, lógico. Você talvez não tenha percebido nada de incomum no ano que se passou, mas ainda assim seria interessante promover um fim categórico, encerrar o ano colocando uma pedra em algo que não lhe convém mais. Geralmente chegamos ao final de dezembro focados apenas no recomeço, na renovação, nos planos, sem nos darmos conta de que, para que nossas resoluções sejam cumpridas mais adiante, não basta pular sete ondas, comer lentilhas e outras mandingas. É preciso que haja, sim, o fim do mundo. O fim de um mundo seu, particular. Sugestão: o mundo do bulliying cibernético. Ninguém é autêntico por esculhambar o trabalho dos outros, sendo agressivo e mal-educado só porque tem a seu favor o anonimato da internet. Perder horas na frente do computador demonstra sua total incapacidade de convívio. Bum! Fim desse mundo estreito. O mundo da prepotência, aquele que faz você pensar que todos lhe estenderão um tapete vermelho sem você precisar dar nada em troca. Qualquer um pode ser profético quanto ao seu futuro: passará o resto da vida achando que ninguém lhe dá o devido valor, isolado em tua torre de marfim. O mundo obcecado de amor doentio, aquele amor que só persiste pelo medo da solidão, e que de frustração em frustração vai minando sua possibilidade de ser feliz de outro modo. O mundo das coisas sem importância. Quanta dedicação ao sobrenome do fulano, a conta bancária do sicrano, à vida amorosa da beltrana, o quanto ela pagou, o quanto ele deveu, quem reatou. Por cinco minutos, vai lá. Os neurônios precisam descansar. Mas esse trele lé o dia inteiro, socorro. O mundo do imobilismo. Do aguardar sem se mover. Da espera passiva pelo momento certo que nunca chega. 2013 prenunciou um cataclismo, ao que não era global, e sim individual. Impôs que cada um desse um fim à vida como era antes é que promovesse uma mudança interna, profunda e renovadora. Feito? Nesse ano eu fechei um ciclo. E já dizia a astrologia que seria um ano 9 pra mim. Ano de rever conceitos e desalojar velhos vícios, e não é que foi bem assim? Tanta coisa posta pra fora, por vontade própria ou por força maior, que a minha visão panorâmica ficou embaçada e girou. Girou tanto que me mostrou novos horizontes, e eu tô aqui seguindo por ele. Tô aqui lutando pra ser feliz, mais um pouco que seja, comigo mesmo. Tô aqui fazendo resoluções, revendo o passado, agradecendo e pedindo pra esse ano acabar logo. Tô aqui barganhando minutos de vida desperdiçados, revendo fotos, não acreditando em coisas que disse ou fiz, me despedindo de gente que vai embora pra sempre. Tô aqui, recapitulando cada pedaço meu que foi riscado, transformado e se perdeu. Ou se encontrou. Me encontro no desencontro, me disse uma cartomante no comecinho de janeiro. Eu não acreditava tanto assim em profecias apocalípticas e coisas do tipo. Acreditava mais em astrologia, numerologia, runas, tarot e todo tipo de sorte que estivesse disponível pra brincar de prever o futuro. Mas depois de 2013, das incertezas e da imprevisibilidade que esse ano me trouxe, eu não consigo mais imaginar que consiga encaixar as coisas todas dessa vida pra um 2014 bem escrito. Meus planos traçados se formaram num desenho perfeito do que eu esperei até aqui. Daqui pra frente é só surpresa bem escolhida e, quem sabe, um novo recomeço caótico dia após dia. Afinal de contas, me encontro no desencontro. Mesmo que isso signifique reinventar o mundo mais uma vez, como 2013 reinventou o meu universo. E espero que você também tenha tido um ano caótico pra se revirar por inteiro. Parafraseando a famosa frase: vai que o avesso é o melhor lado?! E que venha 2014 de outro mundo pra todos nós.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Minha Fantástica Vida Amorosa

Eu comecei a minha vida amorosa aos nove anos. Foi uma paixão não retribuída e não concretizada. Aí começaram as minhas mazelas com as mulheres. Até hoje não acredito na desculpa que ela me deu, e continuo achando que o fato de ela ser vinte e três anos mais velha e ser casada com um amigo da minha família não eram motivos suficientes para nos manter distantes. Aos quatorze tive minha primeira experiência sexual, com uma vizinha. Até hoje ela não sabe disso, e a minha primeira experiência sexual com uma mulher, estando ela presente no ato, foi somente aos dezesseis. Tá, tá, dezesseis, e daí? Eu era tímida, mesmo não calando a boca por nem um segundo e coisa e tal. Enfim, foi. Pra ela não deve ter sido muito bom, mas pra mim serviu também para provar que, ao contrário do que eu vivera até ali, com a presença da mulher o ato sexual era muito melhor. E como uma típica criança hiperativa, com déficit de atenção e uma visão não muito eficaz já aos quinze anos, eu imaginava bastante as coisas. Eu imaginava como e o que eu seria quando crescesse e fosse uma bem sucedida jornalista-paraquedista-adestradora-pintora-escritora-desenhista-cartunista-arquiteta-mágica-boxeadora. Eu fantasiava sobre como seria a minha casa, com uma onça pintada, dois tucanos, um lobo, uma águia americana e um labrador preto. E como toda adolescente tímida, eu fantasiava como seria a minha mulher no futuro. E do auge da minha experiência com casais que não davam certo (tios, amigos, primos), eu já sabia o que queria: uma mulher linda, inteligente, simpática, bem-humorada, engraçada, que tivesse amigos legais, que aceitasse dividir a minha vida maluca e perturbada comigo e, essa característica só passou a povoar meus sonhos depois de quatro experiências, digamos, frustrantes, que tivesse uma mãe que não me odiasse. Só isso. Não era querer muito, eu via várias mulheres assim por aí. Mesmo uma pessoa tímida e magrela como eu merecia uma dessas quando crescesse. Cresci, tive poucas namoradas, muitas mulheres, e as classificava de acordo com essas características. Algumas dessas características não são tão primordiais assim, e passavam batidas. E eu ia conciliando uma sogra típica aqui, amigos que me detestavam ali, e ia levando. Isso não me faria deixar de namorar alguém ou terminar um relacionamento. E hoje, vinte e alguns anos depois, me peguei pensando nisso de novo. E por que? Porque hoje, sentada aqui na minha mesa, pensando que talvez no sábado eu vá visitar a mãe da minha futura namorada, e que no sábado seguinte vamos sair com as amigas dela, que por sinal não me detestam, só me acham com cara de pagodeira, parei pra pensar em o quanto isso faz diferença. Faz diferença pelo simples fato de que esses pequenos detalhes (olha o pleonasmo aí, gente!) me fazem ter uma pessoa na minha vida, que divide a minha vida comigo. O bom e o ruim. O chato e o divertido. Faz diferença porque apesar de não ser paraquedista, nem arquiteta, nem pintora, nem ter uma onça nem dois tucanos, hoje eu consigo ter o relacionamento que eu imaginava que daria certo quando criança, até nos detalhes não tão detalhes. Igualzinho igualzinho. Tá bom, igualzinho não, porque do jeito que eu era ingênuo, ela tem muuuuuuitas coisas que não passavam nem perto da minha cabecinha infantil. Ah, claro, isso sem falar que na minha imaginação ela não era tão atlética assim..

domingo, 22 de dezembro de 2013

Meu tipo de garota.

Depois da sessão coruja sempre bate saudades de você que não estava aqui. De você que podia ter recostado a cabeça no meu ombro durante o filme. De você que teria chorado porque eles se acertaram e deram certo depois do não-tão-felizes-assim para sempre. De você que ocupa um banco vazio do meu lado. Só que eles sempre acendem as luzes pra gente ir embora – e eu acho que você acaba indo mesmo. Porque eu sempre vou sozinha pra casa em altas horas da noite.

Mas todo filme trabalha com a gente para além da sua duração. E eu já me adianto nas flores e será que você vai gostar da camisa que eu coloquei? Você é meu amor imaginado. Sonhado pra aparecer um dia desses no meio das nossas loucuras. Com todos os nossos problemas e com aquela coisa que faça com que a gente se apaixone pelos olhos uma da outra. Com calma pra eu não tropeçar e cair pra dentro de você. Me afogar. Me afundar. E não querer mais sair dali, mesmo que perdida. Você é o meu amor de roteiro romântico. Do tipo que perdoa as minhas maluquices e não pergunta o que eu conversei com a minha psicoterapeuta hoje. Do tipo que se magoa porque eu falei muito sobre a minha ex, me dá uns dois socos no ombro direito e vai dormir com o telefone desligado. Do tipo que eu reconheceria assim que tivesse a oportunidade de conduzir uma dança e pisar nos seus pés. Pra fazer a gente cair no meio de todo mundo. E pra você começar a rir desesperadamente e transformar o constrangimento em alegria.

 

Você é o meu tipo de garota do cinema. De cena após cena. De câmera nos trilhos e silêncio no estúdio. De gemidos abafados na última fileira do filme. Dá até pra antecipar a sua timidez no primeiro encontro. Com mãos se esbarrando lentamente no descanso das poltronas. Entrelaçando os dedos conforme os quadros se sucedem e alguém nos manda fazer silêncio porque o coração armou uma escola de samba e agora bate forte. Você é o meu tipo de primeiro beijo esperado. Pra dizer que eu já sabia que era você no momento em que pus os olhos e pude ver que você era tão complicada quanto eu e não ligaria pra isso. Que você encararia as coisas com a máxima de que nós dois nos encontramos no mundo por conta de alguma força que vai além da nossa compreensão. Pra dizer que as nossas conversas estão fadadas ao silêncio quando nenhuma das dias souber o que dizer e isso não incomoda. Você é toda cheia de dedos e sinais que se atrapalham na tentativa de dizer alguma coisa. Estudou um pouco sobre fantasia e vive por aí contando histórias. E me encantando. Você é um mistério mal resolvido e espero que continue assim. Com esse quê de que pode ser real sem perder essa aura de ilusão que me mantém consciente de que pode ser tudo um sonho.

E é por isso que eu volto ao cinema em todas as sessões coruja de comédias românticas. Pra ver se eu esbarro numa garota tão perdida quanto eu no seu próprio mundo. Pra ver se eu encontro alguém que se apaixona tanto pelas histórias dos filmes a ponto de querer vivê-las a flor da pele como eu. Pra ver se dessa vez eu sento do lado de uma poltrona ocupada e recebo um sorriso desconhecido, mas ainda assim bonito. Mesmo que acendam as luzes. Mesmo que baixem os créditos finais. Mesmo que esvaziem as salas, eu ainda acho que um amor tão grande e tão bonito assim exista além das telas do cinema. O meu tipo de garota também acharia.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Interdição

Estava num café esperando por um amigo. Enquanto o tempo passava, fiquei observado o ambiente. Outra mulher estava sozinha a poucas mesas de distância, também esperando alguém atrasado. O atrasado dela chegou antes da minha. Vi quando ela se levantou para cumprimentá-lo. Derem-se dois beijinhos. Os dois beijinhos mais vacilantes e constrangedores que podem ocorrer entre um casal. Talvez fosse delírio meu, mas tenho quase certeza de que eram ex-amantes, ex-amantes, ex-namorados, ou um ex-marido e uma ex-esposa que haviam terminado a relação a poucos dias atrás, no máximo alguns meses atrás. É uma cena clássica. Depois de meses ou anos de amor e intimidade, a relação se desfaz. Os dois juraram nunca mais se ver, se odeiam por algumas semanas, tem mágoas um do o outro, até que um dia surge uma pendencia pra ser conversada ou simplesmente resolvem tomar um drinque pra provar pro mundo que a amizade prevaleceu, cenas aparentemente civilizadas que trazem significados ocultos. Ou pior: encontram-se sem querer no meio da Av. Paulista, num corredor de shopping, num quiosque de mercado público. Você aqui? Que surpresa. E os dois beijinhos saem de forma desengonçada que seria motivo para rir, não fosse de chorar. Interdição do Corpo. Um dos troços mais sofridos de um final de relacionamento, que só vai experimentar de um tempo afastados. Uma coisa é você ficar racionalizando sobre o desenlace trancafiada no quarto, ele ficar ruminando sobre as razões do rompimento enquanto trabalha. Uma coisa é você chorar durante o banho para disfarçar os olhos inchados, ele falar mal de você em bares, fingindo que se livrou da Dona Encrenca. Uma coisa é você consultar uma cartomante a fim de acreditar em dias mais promissores, ele sair com umas lacraias bonitinhas pra provar que te esqueceu. Outra coisa é quando os dois se encontram, cara a cara, depois de semanas ou meses apenas se imaginando. Ele está ali na sua frente. Mas você não pode agarrar seus cabelos, não pode passar a mão no seu peito, não pode rir de uma piada interna que só pertence aos dois, porque está oficializado que nada mais pertence aos dois. Ela está ali na sua frente. Mas você não pode mais dar uma beliscadinha na sua bunda, não pode mais beijá-la na boca, não pode mais dizer bobagem no pé seu ouvido, porque está oficializado que ela agora é apenas uma amiga, e não se toma esse tipo de liberdade com amigas. Depois de terem vivido, por meses, talvez anos, a proximidade mais libidinosa e abençoada que pode haver entre duas pessoas que tinham um sentimento forte, que nem souberam o que chegou a ser, ou que eram apaixonadas, vocês agora estão proibidos ao toque. Não se amam mais, é o que ficou decretado. Logo, os códigos de aproximação mudaram. Você dará dois beijinhos na mulher que tantas vezes viu nua, como se ela fosse uma prima. Você dará dois beijinhos no homem pra quem tanto se expôs, como se ele fosse um colega de escritório. O corpo interditado. Você não pode mais tocá-lo, você não pode mais tocá-la. O definitivo sinal de que o fim não era uma ilusão.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O primeiro aniversário de namoro

Hoje eu faço dois meses de namoro. E vai ser o primeiro “aniversário” que comemoramos, porque é o primeiro que nós lembramos. Eu sou meio ruim para datas, ela idem, então o primeiro aniversário passou batido e só foi lembrado dias depois. Mas esse eu lembrei hoje, justo no dia em que tenho que escrever pra cá. Então decidi falar disso. Quando eu te conheci fazia uns três meses que eu tinha terminado meu relacionamento anterior. A última coisa na vida que eu queria ouvir falar era de mulher. Mentira, mulher era a penúltima, a última que eu queria ouvir era Los Hermanos. Mas no exato momento em que eu sentei na mesa com você e as outras pessoas da sala, logo pensei: “eu tenho que sentar do lado dela e puxar assunto”, toda a minha falta de vontade de ficar com alguém foi por água abaixo. Mal sabia eu onde aquilo ia parar e que, em três ou quatro dias trocando São Paulo pro Rio, eu já estaria completamente apaixonada por você. Naquele exato momento, peguei o celular e te chamei no Whatsapp. E a partir dali eu só pensava em você. Eu te olhava falando e só pensava em como eu ia pentear o cabelo para ser apresentada aos seus pais ou se meu afilhado ia gostar da minha nova namorada. Namorada essa que, até então, mal sabia do meu interesse por ela. Ao final da conversa eu não só estava perdidamente apaixonada por você como já estava pensando em como fazer você saber disso. Te chamei pra sair e, quando você disse que já estava interessada em mim desde o mesmo dia que eu, meu coração saiu pela boca e se eu não pego rápido ele caía na caixa de areia dos gatos. Eu mal pude acreditar, e mal acredito até hoje, que essa mulher linda, inteligente, engraçada, charmosa, e meio desastrada, está interessada em uma pessoa como eu. Não me menosprezando, minha autoestima não é nada baixa, mas é que é diferente. São mundos diferentes. Você se formou, vai se pós-graduar enquanto eu larguei uma faculdade. Você escuta os clássicos enquanto eu mal chego perto deles e escuto o que me dá na telha. Seus amigos são todos bem sucedidos e casados, enquanto eu moro com Papi e Mami e meia dúzia de moveis. Mas prefiro não tentar entender, vai que eu te alerto disso. E se hoje você acha que eu exagerei ao falar que estava apaixonada tão rápido, saiba que, antes de irmos embora do cinema aquele dia, eu já estava. Daquele dia até hoje não houve um só minuto, acordado ou dormindo, no qual eu não estivesse pensando em você, fazendo planos para nós. Limpando a minha casa para você vir aqui. Evitando minha verborragia antiesquerda para quando conhecesse seu pai. Ensaiando para parecer menos metida e arrogante quando conhecesse seus amigos. Pensando no presente que vou te dar de um ano de namoro (se nos lembrarmos da data). Eu já fazia planos de se íamos morar no Rio ou em Niterói, de que lado da cama você dormiria ou como íamos fazer para passar a lua de mel em Bali se eu não gosto de ficar muito tempo longe da minha escrivaninha e nós não íamos ter com quem deixar a Golden. Eu não estou exagerando. Eu nunca exagerei. Em poucas semanas você virou a minha vida de pernas pro ar, mas eu descobri que eu sempre quis que ela fosse de cabeça para baixo. Feliz dois.doze de namoro. Que comemoremos ainda muitos aniversários juntas. Se lembrarmos! :)

Menina, cê tá diferente!

E ela, enfim, disse sim. Quem diria? Dizem as más línguas. Logo ela, que dançava até o chão ou até que os faxineiros viessem varrer-lhe os pés, sempre calçados num sapatinho 37 sem salto, avisando que mais uma noite de samba tinha chegado ao fim. Logo ela, que cantava, encantava, tomava uns bons goles de cerveja, dava um sorriso sincero, fazia umas gracinhas e geralmente se despedia dizendo que hoje não, muito obrigada. Logo ela, que sempre teve uma quedinha por aproveitar a vida, que é tão curta quanto o mais comprido de seus shorts. Logo ela, que sempre perdeu o celular, a carteira, as chaves do carro, a hora e os campeonatos… É, parece que agora ela ganhou. Mas quem será que é o escolhido? Perguntam as más línguas. Quem será que é ele, que ela jura que existe, mas que a gente não vê nem a sombra? Quem será que é ele, que toma dela um pensamento cá, outro lá, uns goles daquela cervejinha sagrada e os beijos mais carinhosos que ela já distribuiu por aí? Quem será que é ele, que coloca ainda mais brilho naquele sorriso de 33 dentes e naqueles grandes olhos verdes-azulados que sempre gostaram de pequenos olhos mel? Quem será que é ele, que a fez desencostar o velho violão da parede e arranhar um Scracho, enfim dando sentido ao “Não demora pra você chegar, abro a porta pra você entrar”? E o que será que ele fez pra ela? Especulam as más línguas. Será que foi promessa de casa, comida, roupa lavada e um milhão por mês? Será que foi amarração ou a mandinga da banana que ele aprendeu no programa do Eli Corrêa? Ou será que foi um sexozinho delícia com direito a muito suor, muita saliva e uma conchinha gostosa, daquelas em que os corpos se encaixam e não se precisa de mais nada para acordar sorrindo? Não sei. Só sei que quando dançam, a Terra dá uma trégua no movimento de translação, porque o espetáculo, apesar de simples, é bonito por demais. E quando descansam, então a Terra trata de girar, que é pra preparar um dia mais do que convidativo fora daquele quarto que, das seis da manhã às seis da tarde, parece suficiente. Dizem por aí que ela, valentona como é, ainda resiste a confessar que foi picada pelo mosquito da ternura, conta pra todo mundo que todas aquelas manchinhas avermelhadas foram obra dos borrachudos no último fim de semana no interior. E que todas aquelas risadas são obra de mais livros de anedotas que ela vem lendo. E que aquelas canções românticas cantaroladas meio que sem querer debaixo do chuveiro são mera casualidade. Mas ainda bem que, por mais que a gente tente impedir, o sentimento, quando é bonito, sempre cresce. E arranca as cascas, cicatriza as feridas, lava a alma. Bota uma dúzia de sorrisos no rosto por minuto, 300 ml de chope sem colarinho no copo de vidro por noite e apetite pra bater um PF no capricho por almoço. Leva embora os nossos medos, as nossas mágoas, o batente da porta e o que mais estiver pela frente. E traz de volta a coragem de se arriscar. Porque sentir é para os fortes. Só para os fortes. E pouco a pouco, o travesseiro vai ficando inundado do cheirinho dela. Os lençóis dela vão ficando salpicados de fios de cabelo que insistem em cair da cabeça desse ser, denotando talvez a possibilidade de uma química mal feita. O colchão vai se moldando no formato ideal para abraçá-la quando ela voltar. Coisa de cama, coisa de calma, coisa de alma, coisa de coração. Fiquei até sabendo que ela já deixou uma escova de dentes no potinho do banheiro. E que, vez ou outra, já se esqueceu de conferir o placar do futebol enquanto estava com ela. E se acaso ela chegar perguntando como é que todo mundo ficou sabendo que ela está apaixonada, diz que foi o passarinho verde e aquela mania HORRÍVEL que ele tem de sair fazendo fofoca da vida de gente de bem.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Mil motivos pra ficar até amanha de manhã

Um DVD antigo, um pacote de Amendoim, uma Coca-Cola de dois litros, um sofá-cama pequeno para nós e teus pés tentando roubar o eterno calor do meu corpo. Não preciso de mais nada e sei, graças ao teu riso infindável, que isso também te basta.

Tento pensar em algum motivo para deixar o teu quarto agora, mas nada parece tão inadiável quanto a união de nossos corpos amassados pela preguiça e suados devido ao nosso incessante atrito despudorado.

Tento pensar em alguma razão capaz de me injetar coragem para largar-te sozinha entre os lençóis embolados e em meio às migalhas fartas dessa fome que sentimos uma pela outra, mas logo desisto, peço a primeira saideira e tu rapidamente me serves mais um beijo embriagante. Peço uma nova saideira e tu me entregas, novamente, as chamas que não me deixam colocar os passos na rua sempre fria. Peço outra saideira e no meu ouvido, tu pedes carinhosamente para que eu fique um pouco mais.

Não tenho camisa para reunião de amanhã de manhã, nem terminei minha apresentação importantíssima, mas e daí? Tenho a chance de te ter por apenas mais uma noite.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

o que não se guarda na caixa

As primeiras mulheres de um escritor são mulheres invejadas. Os primeiros adjetivos as descrevem, as primeiras narram o romance, as primeiras declarações falam do amor que a pessoa que está escrevendo sente por elas. Mas conforme a pessoa que está escrevendo  e seu ofício de escrever, as coisas vão envelhecendo, as coisas vão mudando. Os adjetivos rareiam tal qual nosso cabelo aqui na lateral, perto da orelha e as declarações ficam mais esparsas, até que uma mulher descobre que era tudo mentira e que namorar alguém que não tem lá essa graça toda. E do mesmo jeito que um humorista que chega em uma festa e é intimado a contar piadas, é esperado de nós, por parte das relacionamentos afetivos, textos quase que diários. No mínimo semanais, quando o trabalho nos aperta o pescoço. E quando não escrevemos hoje com a frequência que escrevíamos àquela época, as idéias na cabeça dela pulam que nem balões de pensamentos desenhados pelo Maurício de Souza. E as divagações sobre a falta de constância literária-amorosa são muitas, quase nunca verdadeiras. Como aspirante a escritora, escrevo menos pois amadureço, e o que antes era uma diversão livre, agora vem se tornando um ofício. Não vou dizer que é um sacrifício escrever, longe de mim, é até muito fácil, mas não é mais uma brincadeira de adolescente. E com tantas obrigações de criar textos e conteúdos diversos, uma carta que antes era escrita em um tempo vago, para aprimorar o estilo, hoje não mais o é por estes motivos, pois o estilo é aprimorado para pagar as contas, e o tempo vago não passa de uma longínqua lembrança dos tempos de criança. E acabei e acabo, pelo menos, com medo de escrever um texto de amor, pois não quero que aquele texto seja mais um texto qualquer o qual eu me obrigo a escrever. Caso fosse esta a verdade, ninguém perceberia a diferença. Eu seria capaz de escrever uma carta de amor para qualquer criatura deste planeta, e quem lesse me acharia a pessoa mais apaixonada dos apaixonados. O treino constante traz isso. Mas para a mulher que eu amo eu não quero isso. Não quero um texto “profissional”. E acabo não escrevendo. E como mulher, escrevo menos pois já não temos necessidade de auto-afirmação como tinha quando era criança. Não é mais prioridade desfilar um talento em longas e sofridas cartas de amor. E no meu caso específico, escrevo menos para a mulher que eu amo porque aprendi, com o tempo, que uma carta de amor nada mais é que um texto como qualquer outro. Não é prova de amor. Não para alguém que poderia muito bem fazer uma “profissionalmente”. E mais que isso, aprendi também que amor não se prova com flores, nem cartas nem textos. O amor adolescente sim, se prova assim. O amor maduro se prova quando você se pega discutindo com ela os cachorros que vocês terão quando se casarem, já que ele tenho medo de cachorros grandes (e pequenos também). O amor se prova ficando na chuva, pois o guarda-chuva dela é pequeno, e não queremos que ela molhe os pés. O amor se prova quando você para para pensar e quase desiste do sonho de morar em uma casa com quintal, já que a segurança não anda aquelas coisas. O amor se prova quando você perde, de uma hora pra outra, a mania que tinha desde os cinco anos de idade, de arranhar a calça jeans com as unhas fazendo barulho, porque ela tem nervoso como gente que tem nervoso de unha no quadro negro. E o amor se prova, principalmente, quando umaescritora não usa sua habilidade de trabalho para fazer uma carta só pra agradar, só porque ela pediu ou só para os outros verem. Cartas ficam guardadas em uma caixa velha e empoeirada, e podem ser encomendadas a qualquer escritora de meia tigela como eu por aí. Mas o resto, o resto não é o que fica em caixas nem o que está nos cadernos: o resto é o que faz você pensar na casa, nos cães, na unha na calça jeans e, acima de tudo, quando mesmo pensando assim, você para seu trabalho e escreve um texto pra ela, como eu estou fazendo, só pra ver ela sorrir com mais intensidade amanhã. Isso sim, é amor.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Carta a quem já foi muito importante pra mim

Tava aqui hoje mexendo numas coisas e achei umas fotos nossas num álbum de Natal que você me deu. Tanta história contada em páginas criadas por você num tanto de tempo atrás que parece que já passou foi muito tempo. Bateu saudade gostosa, sabe? Nada daquela saudade possessiva ou que clama pra entrar numa máquina do tempo e bater na tua porta feito a primeira vez. Você tá sendo uma lembrança boa de alguém que foi muito importante pra mim. De um amor que foi amor, sim, mas acabou. Acabou e eu te guardo com carinho nos traços, nos quartos, no jeito de rir que eu peguei de você. Te guardo nas formas de redecorar as folhas de caderno, de olhar as vitrines da loja e de sair das mesmices. Cê me tirava da monotonia de um jeito fácil demais, e eu nem desconfiava que era planejado. Também não dava pra suspeitar porque olha, se tem um coisa que me faz falta, é aquele sorriso espaçado com uma brecha entre os dentes do qual eu tanto sorria. Sorria de você sem confessar que eu bancava a boba pra te ver feliz. Você foi aquela história bonita que eu vou contar pra todo mundo. Vou lembrar do teu nome no meio da noite e te ligar, se não for incômodo, pra bater um papo e brincar de reaquecer o passado no forno. Mas sem aquele desespero de querer de volta ou de escrever recaídas tortas na portaria do teu prédio. Só sinto mesmo um gostinho de doce na boca quando abro as vogais do teu nome e faz bem adoçar a língua com as memórias boas de você. Cê sabe que eu ainda guardo tudo que foi da gente? Guardo com afeto e sem ressentimento. O amor-superado bate à porta como um velho amigo e eu me preocupo tanto com você ainda que no fim do dia eu me pergunto se você tá feliz. Tá feliz? Se não tiver me liga e vem pegar uma praia comigo que isso vai te por nos eixos e te lembro que ainda vai aparecer alguém pra lembrar você, pra justificar o porquê de você não ter dado certo com ninguém até agora. Me liga e vem tomar um açaí comigo pra gente trocar umas confissões como dois melhores amigos, mesmo que isso alimente receios dos outros que insistem em dizer pra gente que o nosso problema é ter deixado ponta solta no fim da história. Bobagem deles. No meio das confissões e dos nossos tórridos e complexos segredos, já deixamos claro um ponto final ali no meio. O que a gente sente pela outra é carinho agora. E eu acho tanta graça quando a gente percebe que num mundo como esse ainda tem gente que não sente essa saudade boa do passado. Essa coisa gostosa de respirar aquele ar gelado e se lembrar do mar. É tipo isso que eu sinto quando lembro do teu nome às vezes, quando passo por lugares que você costumava a passar. Me faz um bem danado te encontrar de meses em meses mesmo que a gente não tenha trocado uma palavra nesse meio tempo. Porque eu reconheço que tem tanto de ti em mim e tanto de você e de mim escrito por aí que deixar de te levar comigo seria o mesmo que dispensar as coisas todas (boas, ruins e indiferentes) que aprendi junto de você. Por isso é que eu te convido no meio da madrugada pra jogar um ping-pong à beira-mar. Pra bater lá na casa de uns amigos nossos e chegar de surpresa e causar espanto em todo mundo que tiver por lá. Por isso que eu me preocupo de vez em quando e apareço perguntando se você tá bem. Eu espero que esteja, sempre. Por isso que me pergunto a quantas andam tuas viagens por Saturno, Netuno, Plutão, e se você precisa de ajuda pra voltar pra Terra. Se tiver pendendo no espaço e te faltar oxigênio, me chama por aí que eu apareço pra te ajudar a realinhar os teus planetas. Porque eu tenho a certeza de que a gente pode não ter sido o caminho certo, mas o nosso passado-guardado fez da gente bússola um do outro.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O que você nunca soube.

Nunca gostei de muffin de banana. Aliás, eu nunca gostei de nenhum daqueles bolinhos malfeitos da cafeteria que você gosta de ir. Mas eu vou com você só pra ver você sujando os lábios do chantili. Pra ver seus dedos se sujarem do sorvete ou da calda do brownie de avelã e poder olhar pra você levantando a mão len-ta-men-te até a boca. Você nunca soube que eu tenho um lugar preferido ali – e só é preferido porque é nosso. Que quando o sol bate levemente no seu rosto e que parece sempre a primeira vez que eu te vejo quando o seu rosto se ilumina e você leva o dedo sujo à boca. Que você parece uma criança feliz e que toda insegurança do mundo vai embora naquele momento. E nem é nada demais. É só que o mundo com você é mais seguro. Eu gosto mais dos cinco minutos com você nos lugares que ficamos. Conversando ou dormindo mesmo. A sua mania invasiva de colocar o peso das pernas, e não o do mundo, em cima de mim é reconfortante. “Você nunca vai estar sozinha” é o que o seu corpo me diz. A respiração pesada e nada ritmada me deixava assustada e eu já passo noites sem dormir pra garantir o seu sono bom. E nem é nada demais. É que você é meu sonho bom, e eu nem preciso estar dormindo pra isso. Quando a gente discute sobre a minha música favorita do Queen, ou sobre a calça amarela que eu vou usar em alguma festa, ou sobre o tamanho da sua roupa e a cor do seu cabelo naquela idade, eu só sei discordar. É que você precisa sempre de um contraponto pra argumentar comigo, e me mostrar que a sua inteligência teria me atraído ainda que eu não pudesse ter visto nenhum dos seus sorrisos, o que seria uma pena. Eu te deixo irritada porque, na verdade, eu sou um garota de doze anos num corpo de um mulher. O salto agulha é só disfarce pra não entregar de bandeja que você me desorienta. E que não tem manual de instruções, nem meu, nem seu. Que dê jeito nessa desconstrução de rotina gostosa que a gente tem e mantém. E nem é nada demais. É que com você eu sou eu e mais mil outros eus. Que é pra te agradar e te contrariar. Pra tentar ser tudo o que você precisa em mil e uma noites. Que os meus melhores textos são sobre você, e que as minhas maiores confissões envolvem o que é nosso e o que ninguém mais sabe. Nem você mesma. Você nunca soube que eu mato as saudades te guardando em caixas. E que o meu armário é montado com partes do que a gente é e vive. Que eu sei o seu cheiro de cor e salteado. Eu sinto de vez em quando no meu quarto. Mesmo que você não esteja lá. Você nunca soube que eu sempre te trago pro presente. E não há passado que realmente tenha passado e te deixado pra trás. Que a minha linha do tempo só trata de você em modos únicos e imperativos. E que não há pedido ou ordem que tire o seu lugar suspenso do tempo na minha história. Que eu te resgato em tudo: desde as fotos aos cheiros. Desde as cartas que eu escrevo, empilho e não envio. Desde os sorrisos repuxados pelos cantos, espaçados no acaso, que são mais involuntários do que aquilo que eu sinto por você. E cada sensação minha tem um pouco de você. É que você sempre me dá nó. Um dia você me perguntou “como vão falar de amor sem mencionar nós?”. E me disse que eu nunca chegaria a uma definição exata, nem parcial de definição alguma. O que você nunca soube é que eu escrevi essa carta pra falar de amor. E acabei não achando um jeito melhor do que falando de nós.

domingo, 10 de novembro de 2013

Ame

Ninguém nasce sabendo andar. Dizem que eu, sempre boa entusiasta da mansidão da vida, demorei cravados doze meses para começar a cogitar a penosa possibilidade de levantar minha bela bunda cheia de talco e Hipoglós dos aconchegantes colos que me embalavam tão maternalmente. Quando levantei, é claro que não foi lá essas coisas: faltava coordenação, faltava atenção, faltava concentração, faltava disposição. As pernas curtinhas não se entendiam muito bem. Não se movimentavam no mesmo ritmo. Acabavam, hora ou outra, sempre dando um jeito de derrubar aquele belo bebê bobo no chão. E quantos tombos. E quantos choros. E quantos risos. E quantos roxos. Muitas quedas mais tarde, finalmente comecei a ensaiar passos mais ajustados, sincronizados, alinhados, bem treinados. Vez ou outra, a euforia e autoconfiança infantis obviamente ocasionavam alguns pequenos tropeços esbaforidos e às vezes até grandes e constrangedoras quedas disfarçadas pelos sorrisos amarelos de quem já não tem mais idade para cair. A verdade é que até hoje eu caio de vez em quando. Aprendi a rir das minhas quedas, mas é natural que algumas ainda causem dor. O importante é que agora eu ando. Corro se quiser. Pulo se quiser. Pulo numa perna só se quiser. Planto bananeira se quiser. Até encosto o pé na cabeça, acredite se quiser. E aprendi que com o amor também é assim. Aprendi empiricamente, usando aquele mesmíssimo método de quedas com o qual entendi as lições do andar. Aprendi que como em quase tudo na vida, no amor, é a prática que leva à perfeição. Ou à imperfeição, já que é ela quem traz tamanha graciosidade a essa energia linda que chamamos de amor. Aprendi que não adianta você tentar amar certinho logo de cara. Tem que amar errado mesmo. Assim meio desajeitado. Assim desconcertado. É amando desse jeito esquisito que aos poucos você vai aprumando o passo. E o laço. E o compasso. E o abraço. Há pouco tempo em conversa com alguém enriqueceu muito a minha vida, acabei escutando "aprendi muito com você, você me deixou uma pessoa mais sensível". Isso por que, consegui errar muito com ela, e eu acabei me surpreendendo com isso, afinal, sentir as coisas é difícil. Dizem por aí que ninguém aprende nada com os erros alheios. É que cada um tem seu jeito de amar. Por mais que você ouça os conselhos mais bem intencionados, leia as mais românticas histórias já inventadas ou vivenciadas por terceiros, consuma todo o conteúdo desse blog apaixonado, ouça música sertaneja no último volume com um pote de sorvete nos braços ou assista muita novela mexicana reprisada, nada adianta se você não treinar. Entende de uma vez por todas: é amando que se aprende a amar. Sempre tive raiva de gente mesquinha. Gente que economiza amor, então… Por estes guardo imenso rancor. Gente que diz que tem medo. Que ela não merece. Que não vale a pena. Que não é a pessoa certa. Entende, amado: não precisa ser. Treino é treino, jogo é jogo. Ama. Nem que seja só um aquecimento. Só uma pelada de final de semana. Só um gol a gol de quinze minutinhos. Mas ama. Quem ama mais, ama melhor. E você nem imagina como são felizes os bons amantes. Não se torne menos amável após um desamor. O mundo precisa de gente disposta a amar. Compreende que amores passados são treino para os grandes e verdadeiros amores que estão por vir. Ri deles. Percebe que o amor não é bem finito. Você não precisa poupar. Ele se reproduz mais do que os lactobacilos vivos daquele iogurte estranho que você graciosamente insiste em ainda tomar. Então ama. Ama, porque sempre vale a pena. Chama de amor mesmo. É curtinho. É bonito. É sonoro. Não precisa dar rótulo, nome, sobrenome, registrar nem reconhecer firma. Só ama. Uma hora, depois de tanto treinar, do mesmo jeito que você aprendeu a andar, vai aparecer aquela outra perna disposta a te acompanhar que caminha no mesmíssimo ritmo que a sua. Vocês vão cair, vão tropeçar, vão levantar. Vão se coordenar, vão se organizar, vão caminhar. Vocês vão, enfim, se amar.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Gramática, vá se foder!

Te amo. Perdoe o erro gramatical. Eu sei, eu aprendi na escola, no cursinho, na faculdade, nos livros, na PQP que não se inicia oração, frase, período com a porra do pronome oblíquo átono, mas não há outra frase que eu posso utilizar para expressar o que sinto. OK, eu poderia falar “amo-te”, mas seria certo demais e desta vez, pelo menos desta vez, eu não quero ser certa em nada. Cansei. Sim, eu cansei de ser a menina certa que faz tudo certo e que todos admiram por isso. Desta vez eu quero errar, quero mergulhar no mar que eu sempre evitei, quero rasgar a cara, quebrar os dentes, tudo para que você saiba o quão importante é pra mim. Eu lhe evitei em tantos planos, te engoli entre meus prantos, mas parece que você quer rasgar o que em mim está entalado há tanto tempo. Parafraseando uma música linda do Teatro Mágico, “você me bagunça, tumultua tudo”, não tem como fugir. Eu juro que tentei. Sério. Eu sempre fui “fortona”, não é? Sempre quis ser mais teimosa, não é? Mas você me faz perder as rédeas de mim mesma e eu não sei como proceder. Olha, por mais que eu insista em não admitir, eu lhe amo. Não você não leu nenhuma asneira, eu não fumei, não bebi e muito menos inalei alguma coisa. Você sabe que eu sou uma cuzona para tudo isso, que eu acho tudo muito careta e que vivo mais sóbria que qualquer pessoa do mundo. Mas ultimamente eu ando assim, “bêbada de amor”, por mais que ache essa expressão ridícula, incoerente, melosa e fora do meu padrão, eu me sinto assim. Porra, o que aconteceu comigo? Não querendo te culpar, mas já culpando, isso é tudo por sua causa. Você deve pensar que é mentira, que eu nunca ligo pra você, que eu to sempre nem ai, que sempre sou fria. Mas parece que as coisas mudaram. Se eu não te procuro é porque tenho medo. “Mas medo do quê?”, você deve se perguntar. Eu tenho medo de você me ignorar, medo de ter medo, medo de perder, medo de ter passado tudo, medo de ser coisa da minha cabeça, medo de não poder corresponder com tudo que acho que sinto e por isso não falo. Não falava porque era melhor guardar, mesmo que doesse, mesmo que eu sinta coisas maravilhosas e tenha vontade de gritá-las nua, correndo pela paulista, eu as guardava. Por isso eu peço, não ria, ok? Não me faça mal, não deixe de me procurar porque quando isso acontece meu coração vai de 0 a 100 mais rápido do que qualquer motor 2.0. Lembra aquela vez que você sonhou com a gente e disse que não importava o que viria pela frente? Cara, eu sei que você não deve se lembrar disso, mas eu lembro e daria tudo pra voltar naquele dia e ouvir isso de novo. Ou quando você falou que me amava pela primeira vez no telefone, sei lá, todas as borboletas do mundo passaram no meu estômago naquela hora e você nem imagina… Ou de quando seu nome me perseguiu naquele dia e você me disse que era “destino”, eu espero que isso tenha saído do fundo do seu coração e que ainda, acredite em nós. Eu não quero te prender, mas gostaria que você soubesse que eu sempre vou estar aqui, no que você precisar. Sou uma das pessoas que mais torce pelo seu sucesso, por sua felicidade. Não importa o que vá acontecer eu quero você bem, quero você feliz. Se for ao meu lado a minha felicidade fica completa, mas eu mudei, não quero ser egoísta, to pensando apenas em você. Viva, viva e seja feliz como mais que merece. Se isso não lhe agradar, desconsidere. Finja que não leu de descarga, sorria e segue a vida. Só quis avisar, gritar o que mantinha em silêncio. E é isso: de onde eu vim, sentimentos são inexplicáveis, mas explicam todo o resto. Amor é um sem sentido sentir e dar sentido a tudo. E este tudo, agora, é você. Juro. 
E que os gramáticos me perdoem, mas eu preciso falar mais uma vez, mesmo que erroneamente: te amo.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Amazônia

Eu? Eu tava por aí, olhando, sentindo, e andando. Tava mesmo por aí dançando, bebendo, correndo, saindo e ficando. Tomando chuva. Mas tudo bem, cê tava por aí também. Mas foi você quem me achou primeiro. E tudo começou numa volta estranha de viagem com gente que eu nem fiz questão de conhecer e hoje faço questão de lembrar sempre. Sem fila pra check-in ou canção romântica que tecesse algum elo ou alguma coisa do tipo. A gente se fez num sorriso e num olhar. Aliás, que olhar. O verde dos teus olhos me coloriu. E coloriu aquela cidade inteira. Você guardou meu nome e me coloriu também. Eu nunca tirei os meus olhos de você. Depois que a gente aconteceu, os outros fatos do mundo eram muito relativos. Tudo passava meio borrado, meio sem graça. Tudo passava do jeito que a minha visão periférica me deixava perceber. O seu jeito de ver o mundo me transpassava. Fosse em inglês ou espanhol, da forma porta e bonita com que você queria mudar o mundo ou exagerado feito Cazuza, eu sabia que você era pra mim. Eu sempre soube. A sua família passou como um borrão, as nossas saídas, o filme de cinema, aquela vez na Casa da Rosas e outras tantas coisas passaram como um borrão, e eu fico na dúvida até hoje se elas aconteceram como a gente. Não me leve a mal, meu bem. É que eu olhava pro seu verde o tempo todo. Pra esse verde que me coloriu tanto e que fez ver o resto de rabo de olho. Os seus olhos viraram meu centro de mundo. Declaração de amor nenhuma vai explicar como o mundo para toda vez que eu fixo os meus olhos nos seus. É aquela coisa de se perder por um minuto e por um mundo. Dá pra ouvir o descontrole da sua respiração, a batida melódica de tudo o que deveria ter ritmo dentro de mim e olhar pelos lados sem tirar os olhos de você. Nessas horas eu me pergunto se achei um motivo único para amar você ou se foram vários. Se foi porque você me lembrava um contra-tempo que transforma segundos em dias ou se foi porque eu me encontro e me vejo mais feliz a cada pequeno esboço de sorriso que eu consigo tirar do seu rosto. E o nosso amor virou a floresta amazônica desde o primeiro minuto que a gente se viu. O nosso amor é a floresta amazônica porque todo o resto do mundo passa em volta dela. O centro dos seus olhos e o resto. Eu e você e o resto. Vão dizer que é bobagem e nos chamar de bobos. Vão dizer que ainda nem tem tanto tempo e nos chamar de apressadinhos. Vão dizer que é miragem minha e que esse verde todo nunca existiu. Mas a floresta existe, ela está lá, e nós, nós somos a floresta.

sábado, 19 de outubro de 2013

Breve crônica sobre a saudade

Mais uma vez eu viu o relógio mudar rapidamente de meia-noite para uma da manhã os minutos da primeira hora da madrugada. Apesar da quase rotina, esse hábito ainda causava um certo desconforto; parecia haver hora certa para lembrar dela. Balbuciei o palavrão de sempre, estaloei os dedos e procurei os óculos no escuro. Já previa a dor nos olhos antes mesmo de acender a luz, então decidi descer a escada no breu mesmo. Abri metade da janela, observei a chuva por alguns minutos, lembrei das noites chuvosas ao lado dela, lembrei do vidro embaçado e da música suave das gotas atingindo-o, lembrei do edredom roxo ou violeta ou púrpura – nunca soube qual a verdadeira identidade cromática do negócio e também não levei o assunto à ela – e do cachorro dormindo embaixo da cama. Lembrei dela, do sono dela, da maneira como os olhos dela se apertavam quando ela dormia, das asas redondas do nariz, dos lábios finos convidando-o para um beijo. Lembrei do cheiro da respiração dela e respirei profundamente, como que querendo encontrar tal cheiro no ar. Falhei.

Fui acordada do sonho-acordado por uma distante sirene de polícia, andei lentamente até o fogão e aqueci uma medida de água. Enquanto aguardava, reparei na quase dúzia de folhas de caderno escritas e rasuradas e espalhadas na mesa numa ordem que somente eu entendia. E nessas folhas, palavras que somente ela entenderia.

Sonhei de novo, e dessa vez com os vários bilhetes que escondi pelo quarto dela, bilhetes recheados de pequenas juras e promessas e micro-elogios que arrancariam dela aquele sorriso que só ele conhecia, bilhetes assinados pela metade, que mostravam o quão inteiro eu era com a metade dela. Acordei novamente, dessa vez com o apito da chaleira, xinguei a chaleira, disfarcei muito mal um sorriso, terminei de preparar o chá e aqueci a garganta com goles curtos. Era normal esquecer do mundo quando me lembrava dela. Era comum.

Larguei a xícara na mesa, apaguei a luz e, antes de voltar à cama, vi a luz amarela e deprimida de um poste atravessar a janela e repousar na cadeira ao lado. Como previsto, senti o costumeiro aperto no peito e também a solidão tocando meus ombros. Tudo naquela casa lembrava dois, à dois, os dois, mesmo sem nunca ter existido dois naquele espaço. Repare bem: naquele espaço. A cadeira vazia servindo de repouso para o braço, o número de talheres e pratos e copos, a mesa redonda e pequena, o box do banheiro, a cama de solteiro (para dormirmos mais próximos). Senti o chão gelado abaixo dos pés e desejei os pés dela colados nos meus. Voltei pra cama, olhei a foto dela na tela do celular, rezei por ela e reclamei comigo mesma, com meu próprio Deus, sobre as lágrimas que se acumulavam nos cantos dos olhos contra a minha vontade. Alguns minutos depois da primeira hora da madrugada, eu tirou os óculos e os deixei no chão mesmo; ela não estaria ali para pisar neles meio que por engano. E como esperado, não dormi.


domingo, 13 de outubro de 2013

Por você ter (sempre) me esquecido.

Reli meu texto favorito na noite passada – porque dormir com você assombrando o quarto já não dava mais. Tati Bernardi reclamou que o tal cara por quem ela era apaixonada tinha uma dor, uma daquelas dores que a gente cria com carinho e afeto, porque ela nunca tinha escrito sobre ele. Reli a odisseia de papel e tinta da prateleira e não me encontrei em nada seu. Do diário aberto em 2013 até as folhas manchadas dum maio quente demais: nada. Você nunca se deu o trabalho de me poetizar.

Dos amores relidos, nenhum me transcreveu. Nem num pedaço-de-papel-de-pão-mofado pra rabiscar umas palavras e me dar aquela sensação de que se importa, de que aconteceu e não foi feito Big Bang. Eu não explodi do nada, sem registro nenhum, mas você me implode. Me implode dentro duma caixa de retalhos e me abandona num canto da rua, porque eu não tenho espaço na sua lixeira, e me deixa à mercê de sei-lá-quem. Renega e expõe a verdade sussurrada: eu nunca fiz parte de você.

Mas você.

Você que me entendia tanto e passava a mão nas minhas manias como quem diz que faria o mesmo, você que só ria de cabeça baixa e tinha vergonha do meu sorriso, você parecia capaz de me pintar em aquarela. De ir além da palavra-ditada e vociferar fonemas melodias poemas campainhas instalações e tudo mais de todo jeito sobre mim. Você, que me tinha sem vocativo e nem precisava explicar num contexto-aposto todos os meus lados opostos a mim, você deixou de falar de mim com tanta facilidade que me pergunto, sempre me pergunto, se eu ainda te lembro d’alguma coisa na vida.

E minha mágoa compartilhada com o amor perdido da Tati é a mesma. Você já escreveu sobre tantos outros amores sem peso e nem me colocou na balança (como se eu fosse peso morto). Me matou na memória sem forma e me deixou de lado de toda oração-futura que construísse por aí. Deixou de me deixar cair da boca quando falava ria brincava cantava sorria e todas as coisas boas e verbos bons que conjugou sem mim. Esqueceu-se das coisas que a gente falava e que a gente fazia e que a gente escutava e me esqueceu. Nem uma última menção antes de nunca mais voltar pra cá.

Mas você.

Nem uma citação sobre mim e o meu amor perdido-roubado que merecia lembrança pra provar que esteve ali. E mesmo que me matasse no final, me guardasse na gaveta, me errasse na gramática, me deixasse sem semântica, me pusesse num script rodado, eu teria amado, como ainda amo, a sua versão de mim.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Se eu não..

Se eu não tivesse você pra me lembrar de limpar as mãos, os braços, o queixo e o lábio no seu, eu sairia por aí cheia de molhos, doces, sorvetes e de todas as coisas que lambuzam a gente quando a gente se permite lambuzar. Talvez eu tivesse mais dinheiro guardado na poupança e nada, nadinha, nada mesmo na agenda e fora dela por seus convites fora de hora e fora de padrão e você gosta de ver as estrelas? Só gosto delas quando aponto pra algumas e você toca no meu braço me mandando baixar a mão. Sem isso seriam só umas estrelas salpicadas num céu-azul-escuro-sem-graça-nenhuma-e-sem-você.

Se eu não me embaraçasse em você pra achar alguma posição confortável na cama, talvez eu caísse no chão fugindo de um sonho ruim em todas as noites frias. E tenho certeza de que engordaria menos, mas olha pra mim e diz se você se importa tanto com isso ou se prefere que a gente divida a sobremesa e divida os momentos e divida a nossa vida numa estranha divisão que não diminui e nem deixa cada um com só um pouquinho do outro. Se eu não tivesse você eu teria cabulado todas as aulas da faculdade porque não saberia chegar até lá. Não saberia daquelas coisas que você me ensina e nem me encantaria com facilidade quando você pega no volante e diz que vai me levar pra algum lugar bacana que eu ainda não conheço. Bobagem, meu bem, você é meu lugar-comum-especial-pra-vida-toda nessa noite.

Se você não tivesse esbarrado, me olhado, insistido em não parecer invisível e me dado aquela puxada sensível no braço eu nunca, nunca, nem mesmo hoje em dia, acreditaria que tem coisas erradas que precisam acontecer pra gente se encontrar lá na frente porque o nosso clichê foi assim. Foi no jeito com que eu paro subitamente de falar pra te ouvir disparando sentenças e se pegar constrangida, me olhando e se perguntando o que é que eu tô olhando. Eu tô olhando a sua forma desordenada, fora do tom, um tanto quanto desafinada de gesticular e me fazer rir no meio da praça de alimentação do shopping por ser você.

Se eu não tivesse você, eu ia ter aquele vazio que eu tinha faz tanto tempo e tanta chuva e tanta gente que passava e esbarrava e nunca ficava como você ficou. Você ficou e ficou mais um pouco, fica mais um pouco, vai ficando e não se acomoda, viu? Me incomoda, me acorda quando eu dormir no seu banco de carona e te deixar sozinha, me atordoa com a saudade que nem dura uns três dias direito e me diz que a noite só foi boa porque eu desejei que fosse, porque eu deitei com você do outro lado da linha. Me diz que não importa quão brega-apaixonada-boba-despreocupada eu possa parecer, que importa é que dá pra ver como eu fico feliz e me faço feliz por ter você. Diz que me odeia, mas diz com aquela forma meio irritada pra si mesma porque você sabe que é uma daquelas mentiras mal contadas, daquelas que faria o seu nariz crescer e que nem entonação de atriz faria mudar. Diz que se eu não tivesse você, você daria um jeito de me acordar com voz de sono só pra eu virar pro lado e sonhar em ter você mais uma vez.

domingo, 6 de outubro de 2013

Do nada ao tudo

Um beijo na Augusta, te peço pra ficar de novo com sua blusa, você quer usá-la um tempo porque ela passou muito tempo comigo. Tudo bem. Outro beijo na Augusta. Você tira a blusa e põe em mim. Sussurra boa noite, tá? Digo boa noite. Observo você se afastar ao pé da escada. Senti meu coração bater forte nessa hora. É tão bonito sentir o que eu sinto por você e faz tanto tempo que ninguém me faz sentir assim. Todas as coisas bonitas que você já disse, os momentos bonitos de nós. Eu disse que não queria me apaixonar por você, você também não. Não era hora. Mas tem hora? Me dá um medo. Você pergunta que foi, tá apaixonada? Eu digo não. E você? Um pouco. Um pouco quanto? Do seu tamanho, assim.
Do meu tamanho é bastante. Eu disse que não mas é claro que sim. Mas é pouco. Não falava pra não te preocupar. Do tamanho dos silêncios entre os nossos beijos, do tamanho do momento em que a gente para e só sente a respiração um do outro pertinho. Mas é enorme esse momento, eu sei. Você fez tudo ficar tão bonito. Me dá um medo. Um medo enorme de tudo que pode vir a ser, a sentir, ou a não ser. Medo de gostar de você demais. Medo de te amar demais. Eu fiquei com os olhos marejados ontem às quatro da manhã na janela do meu quarto porque eu tenho medo de querer ser algo que eu não posso ser pra você. Marejei porque ainda é tudo muito estranho e confuso. Marejei um pouquinho de inveja de quem já foi muito importante na sua vida. De quem ficou do seu lado um tempão, de quem tava na sua casa quando você ligou só pra dizer mãe, não tenho muito tempo mas só liguei pra dizer que tô bem e que amo vocês. De quem te viu vencer. De quem te viu sem máscara, te viu por inteira, te viu sem roupa. Tenho medo de nunca chegar nesse lugar porque eu quero tanto. Eu quero muito. E é ruim admitir isso assim “eu quero muito”. A cada segundo eu te gosto tanto. Quando você conta as histórias de menininha eu te gosto tanto e te acho tão linda. E vendo a maneira como você é amiga dos teus amigos eu te gosto tanto e gosto tanto deles. É como se eu tivesse deixado as minhas malas do lado de fora da nossa casa pra vestir tudo novo, mas não sei se você pode fazer o mesmo. Tenho medo de ser a coisa certa na hora errada. Você gosta da minha confiança mas eu tenho tanto medo, droga. Eu olho pra pouco tempo atrás e ainda é tudo muito louco. A gente é o certo um pro outro mas acho que fez tudo errado. Eu acho que te quero demais. Talvez eu goste de você mais que eu mesma saiba, pensei hoje quando percebi que o meu corpo tá quase sempre bem juntinho do seu quando você tá do meu lado. Te digo que se morresse na montanha russa ia aparecer na sua vida como naquele filme, Ghost, porque a gente tinha que se conhecer de qualquer jeito. Não sei como vão ser as coisas daqui pra frente. Tenho medo de abrir os olhos e descobrir que você não é nada que eu pensei e de repente as coisas pararem de fazer sentido de novo. Eu gosto da gente junto e me dá saudade antes mesmo de você voltar pra casa. Eu te pergunto como é que você faz isso, hein? Você diz o que? E eu, isso, me faz sentir tudo isso por você. Você faz piada. Você sempre faz piada. Você é uma idiota. Uma idiota, eu te digo. Você é só isso, idiota. Você é idiota e eu quero que você fique aqui pra sempre. Dorme aqui, ó, o trânsito tá complicado mesmo. Fala com meu pai. Não se preocupa, ele vai ser gentil. Chama assim. Aperta forte a mão dele. Aperta forte a minha. Não solta. Deixa seu cheiro pelo meu corpo. Deixa um pouco de você aqui. Amanhã você volta. De novo. Pra mim.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Amar é PUNK

Eu já passei da idade de ter um tipo físico de pessoa ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star. Uma coisa meio Foo Fighters.

Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece a pessoa. Começa, aos poucos, a admirá-la. A achá-la FODA. E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que a pessoa entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é DIFERENTE).

Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ela vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu jeito desastrado. Ela não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.

Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU ENCONTREI ALGUÉM QUE DIVIDE O CHÃO COMIGO. ENCONTREI ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Dormir abraçada sem susto. Acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.

Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, CARAMBA! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido.

Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é RECONSTRUÇÃO. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.

Demorei anos pra concordar com meu querido (e sempre citado) Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”. Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio! Ah, Cazuza! Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar – ah, o amor! – AMAR É PUNK.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O que faz alguém tão especial?

A bossa nova tocando no rádio naquela manhã me lembrou do calor no peito que eu sinto toda vez que encontro uma certa pessoa ali. Não é nem a presença dela em si, e nem dos seus olhos claros, por mais atraente que sejam. É a paz que me invade por dentro cada vez que me olha nos olhos e perguntava se eu dormi bem à noite. Ela é a rainha dos pequenos requintes de delicadeza, como a mensagem desejando boa prova e, claro, o olhar, aquele cativo e carinhoso de quase todo dia que faz meu coração ceder. Não são os gestos em si, e sim a forma como aquilo tudo enche meu copo até a borda de tudo que eu preciso no momento, a paz ou a tormenta. Desse dia em diante, passei a abraçar na minha vida pessoas assim, capazes de construir sorrisos sinceros na alma da gente. Pessoas bem especiais, basicamente encantadoras. Pessoas que nos fazem sentir especiais. Descobri que o tal “borogodó”, indispensável em qualquer relacionamento que se preze, está fundamentado no encanto. Não é no rostinho de boneca, no presente de natal caríssimo, muito menos no abdômen sarado. Encanto mesmo vem de dentro. Gente que faz nosso coração gargalhar, que abraça quentinho colando o rosto, prepara o chá no fim de semana de gripe, que ri de si mesmo, cumprimenta o porteiro, que respeita o momento, o tempo, o vento. Gente que muitas vezes não sabe por qual bifurcação do caminho você veio, que tipo de bagagem você vem trazendo, mas tem certeza de que dedicação e respeito fazem parte do alicerce de qualquer relação, seja ela amorosa ou não. Gente que te basta. Não sei dizer se o mundo anda carente de pessoas desse tipo ou se falta leveza para se permitir encantar. Existem hoje aproximadamente 7 bilhões de pessoas no mundo, e ainda assim minha vizinha não encontra uma companhia bacana para partilhar seu passeio no parque aos domingos. Ainda não encontrei alguém especial, ela diz suspirando. Sua ânsia encontra uma variedade de suspiros similares ao longo do planeta neste momento, e olhando pra ela, penso como ainda pode existir tanta gente solitária. O mantra do livro de cabeceira diz que quando a gente não sabe o que procura, não sabe reconhecer quando encontra. Será que não sabe mesmo ou estamos vivendo nossos dias com os olhares errados? É o tal do enxergar com os olhos da face e não da alma. Tocar com a ponta dos dedos em vez de se permitir uma entrega completa, dessas que abraçam o todo e mudam a vida da gente. Porque beleza tem-se aos montes, encaixe de beijo na boca é fácil e se aprende; difícil mesmo é tirar o ar quando se vê. Complicado mesmo é ser apenas você para o outro, sem máscaras, maquiagens, rodeios, salto alto, camisa de marca, vodka na mesa da balada, foto no Facebook ou carro importado e, ainda assim, a sua essência bastar para o bem-estar do parceiro. Estas são as pessoas especiais: aquelas que sabem conceder seu encanto e aquelas que sabem reconhecer essa dádiva. Porque as pessoas especiais sabem pra quem aparecem. Tem que existir a sorte de reciprocidade e merecimento. Tem que saber enxergar além daquilo que a genética e o status social te permitem ver. Porque as coisas do coração são assim, acontecem ou não, mas se nosso coração está distraído com os atrativos “errados”, o acaso passa e a gente nem percebe. Este é o segredo daquele casal da faculdade que, aos olhos dos outros, pode parecer tão pouco convencional. Mais que a resposta para os desejos um do outro, eles são calma, aconchego e paz depois de uma semana de trabalho. São parceiros, amantes e amados; são especiais entre si, para si e só. Sobre essa pessoa que eu encontro ali, bom, ela está aqui, o ali também. Aquele sentimento de plenitude que o olhar zeloso dela provoca… Esse não só permaneceu como também se repetiu algumas outras vezes pelo caminho. Porque uma das delícias da vida é ter a oportunidade de esbarrar em várias pessoas especiais ao longo da travessia. Se o campo for florido, os sorrisos sinceros, os abraços apertados e os sentimentos genuínos, cedo ou tarde, um beija-flor pousa por ali e, dentre tantos que se foram, decide ficar. Se for o tempo da migração, nada se perde pra sempre. Pelo contrário, quando a mágica é real, conserva-se naquela porção gostosa do amor que sobrevive após o grosso do sentimento findar. Encanto é isso, a livre aproximação de alguém que tem toda a liberdade de quando bem entender, partir. Melhor ainda, encanto é a morada sem grades do amor, que permite o voo para jardins mais floridos – porém, é muito mais convidativa a doce e livre permanência.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Misturama

Às vezes quero te dizer milhares de coisas e ao mesmo tempo, não quero dizer nada. Posso começar contando do azulzinho do céu que vejo da minha janela todas as manhãs, passar pelo menino que cata latinhas na rua, comentar o que comi no café e terminar nas minhas insatisfações que não sei de onde vem e me incomodam feito etiqueta pinicando.

Eu não quero dizer nada porque tenho ímpetos de te matar de vez em quando. Não literalmente, só aqui dentro.

No fundo, tudo que preciso dizer é que amo você.

Não acomodar com o que incomoda.

Enquanto para alguns isso é um mantra, pra mim é o avesso. A ansiedade, a impaciência, a necessidade de respostas, planos, argumentos e discussões imediatas me fazem querer desesperadamente a acomodação, ainda que parcial. 

De vez em quando, só de vez em quando, acomodar com o que incomoda é uma pausa pra lá de necessária e nos salva de entrar numa fria.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Meu Querido Caio Fernando Abreu

(O texto a seguir, não é de minha autoria, mas sim, de um cara que conseguiu através deste texto, traduzir o que eu passei no último final de semana tentando traduzir em palavaras. Obrigada, Carpinejar!) Me explique, bruxo? Onde estiver me explique. Como alguém pode vir morar contigo, dizer que te ama na noite anterior, e sumir de repente sem nenhum arrependimento? Amor muda de ideia? Amor é leviano assim? Amor é brincar de destruir? O que digo agora também já está morrendo? Morrer produz barulho, sei, mas e o barulho de viver? Não dá para ouvir daí? Como do homens dos sonhos você se torna um homem sem sonho? Como uma manhã sem falar doía nela e hoje o amanhã sem falar nem provoca ansiedade? Como alguém não guarda em si o mínimo de autocrítica para refletir as últimas semanas? Eu dividiria até meu egoísmo com ela. Não ficaria com ele sem partilhar. Como não se fracionar? No momento em que a gente se guarda a gente se perde, não? Como alguém que ama decide alguma coisa? Logo no amor, Caio? Amor não é adiar? Amor não é humildade? Vejo que o erro é arrogante, Caio. Como existe soberba na maldade, hein? Será que foi vingança de relações passadas? Eu era o intervalo de um ódio? Será que não devia ser sincero, fiel, não podia confessar minhas fraquezas, falar o que temia? Honestidade não combina com amor? Eu que sou garrancho, arredondei a letra no caderno de caligrafia, escrevi entre as linhas de baixo e de cima, bem certinho, você ficaria orgulhoso conhecendo minha pressa, mas só você, Caio, só você sabe o enorme sacrifício que é escrever entre as linhas. Será que a felicidade machuca? Será que a felicidade nunca é suficiente? Será que os casais se separam porque acreditam que podem ser felizes sem ninguém? Ou acreditam que podem ser ainda mais felizes do que estão sendo? Será que a solidão mente o que somos? Se o afeto sufoca, me diz, então, o que liberta? Será que é só conhecer uma intimidade que somos empurrados para fora? Será que a pessoa não se gosta nem um pouco para admitir testemunhas? Será que sabemos demais, enxergamos demais, e nosso corpo é obrigado a desaparecer? Amar é coisa de máfia? Será que recebemos a culpa por problemas pessoais? Que é mais fácil encerrar a relação do que assumir os medos? O amor é um mal-entendido, é ilógico, Caio? Estou começando a crer nesta hipótese. Como alguém pode se entregar loucamente e depois alegar que nada tem mais importância? Que piração é esta, Caio? Isso também acontece no mundo dos mortos? Ou os mortos são mais estáveis? Ou os mortos são mais confiáveis? Como alguém faz declaração pública de amor e depois diz que desejava invisibilidade? Como confiar no silêncio se não há esperança? Eu fingi que era diferente? Não expressei como era desde sempre, não avisei como funcionava? Como alguém cultiva os meus amigos e filhos, defende o nosso destino, numa hora e na hora seguinte se mostra surda a todo conselho, surda a toda dúvida, surda a toda incerteza? Como alguém pode jogar a história fora? Por facilidade? Não conheço nada fácil, nem a amizade. Não pode ser. Será que ninguém mais lê mais poemas hoje, Caio? Poemas não têm final. O amor deveria ser como um livro de poesia. Para se ler fora de ordem. Para se ler um pouco por dia. Desprovido de desfecho. Poema é releitura na primeira leitura. Caio, não suporto que digam que mulher não gosta de homem que se entrega, que temos que omitir, que temos que jogar. É uma cilada machista, não lhe parece, para justificar a grosseria e a ausência de interesse? O que será da intensidade longe da doação? Onde foi parar a delicadeza dela, a ternura de antes? Foi uma miragem? Onde as pessoas escondem o amor, Caio? Onde as pessoas enterram os ossos de suas alegrias? Como alguém pode ser frio, indiferente, insensível a ponto de usar as frases mais duras e impessoais, sem se importar com o sofrimento que causa? Como alguém manda mensagens como se estivesse realizando um favor? Que superioridade é esta? Cadê o nervosismo que pede um abraço? Como alguém não se esforça para retroceder o baque, zerar os meses? Por amor, a gente apaga que nasceu um dia, não é mesmo? Como alguém não cancela sua atitude? Que obstinação é essa de machucar, de sangrar ruas e lugares prediletos? Como alguém não sente saudade, não inventa saudade, não cria saudade? É um produto em falta por aqui, Caio, pode mandar material? Mande garoa de palavra para recriar saudade, por favor? Como não retornar pela verdade, se eu voltaria ainda que fosse uma mentira? Como não caminhar recuando se avançar é lembrar? Como o outro termina sem conversar, termina por terminar, termina de modo cruel o que não havia sinalizado? Como alguém emprega a porta para pisar as mãos, permanece agredindo quem merecia uma fresta de compreensão? Como alguém afirma que nada muda da noite para o dia e esquece as noites que mudaram seus dias? Como esse mesmo alguém é outro, já outro, tão outro que nem sei mais quem fui? Como não desconfiar do passado, como não imaginar que tudo foi uma mentira? Como não se sentir usado pelos anjos, corrompido pela dor? Como, Caio? Alguém mentiu, Caio, para mim. Para si. E para todos. Eu não desisto do que falei um dia com todo o coração. Mas sou eu, Caio, sou eu. Não posso exigir isso de ninguém. Viver é incompreensível. Um beijo. Cuide-se. Por: Fabrício Carpinejar

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Cara Julieta,

Não sinta demais, Julieta. Vá por mim, não se exceda. A ansiedade afaga seus cabelos apenas para ganhá-la, mas é gatuna, essa danada. Quando você menos esperar, ela te dirá o que fazer, tratando-a como marionete.

Ouça o que eu digo: não sinta demais. Ame sem pressa, largue mão das expectativas e não deixe que os problemas te angustiem além da conta.

Vai, menina. Seja feliz! E quando souber como fazer tudo isso, me envie a receita.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

113.

Tudo o que vejo são telas digitais, um novo mundo feito de chips e megabytes, e aí vem você me falar de amor. Um amor que deixaria a todos os incrédulos por ser real demais. 

 Não recebi suas cartas, mas sei que elas foram escritas, o universo regido por ícones eletrônicos induz a fantasias telepáticas. Ser intuitiva também é uma forma de conexão, há muitas cartas extraviadas viajando pelo espaço, sem fios ou cabos, sem satélites, palavras silenciadas e igualmente transmitidas. 

Amor é um troço raro e sempre de vanguarda. Também escrevo as minhas cartas que não são postadas, cartas digitalizadas no sonho, um mundo de excelentes intenções, nostalgias, poesias, essas coisas quase fluviais. Você vem me falar de amor de um modo que emociona, e eu vou falar de amor como se fosse a sua resposta.

 Agradeço, primeiramente, o amor recebido e negado, demostrado e não, existido e inventado. Pouco importa os plurais de um amor, seus adjetivos, seus diagnósticos e o tempo percorrido, se foi um amor de verão ou se comemorou vinte bodas anuais, o amor qu sinto não é dado a configurações, o amor transcende, nunca foi mortal como a gente. Gosto desses sons, embala o amor a rima, navego empurrada pelos ais e por sufixos e sílabas que remam, remam, aqui vão minhas palavras navais. 

O amor não tem ancoradouro, porto, cais. O amor é navegante e recolhe pessoas neste mar de distraídos, salva vidas. O amor que você narra e a mim dirige é um amor primitivo, fora do catálogo, é sorte dos amores ambientais, estão por toda a parte, para senti-lo requer apenas querê-lo. Conceitos fugazes do amor? Não creio. Há os amores produzidos e os amores naturais, os amores duros e os rarefeitos, há os que nascem no peito e os ancestrais, amores vários, todos iguais. Em diversas cartas há seu apelo e sua culpa pelo amor não vivido. 

O amor vive apesar de nós, tudo o que se sente é validado por ser existente, não sofra mais. Foram cartas não assinadas, não enviadas, talvez escritas por mais de uma pessoa, tanto faz. São cartas de amor, e mesmo com angústia e anonimato, sobrevive nelas o tesouro de um sentimento bruto, porém não violento.

 O amor comentado nestes tempos que correm é produto, assunto de revistas e jornais, o amor nos tempos que correm deveria ir mais devagar, aceitarem-se múltiplos, gozo, gás. 

 Você que escreve mentalmente, você que escreve cartas pra ficar, você que não sabe direito que amor é esse e que só quer se desculpar, você que ama livre e você, entre grades, você que ama em pensamento, você e você e você, nós todos e nossos amores ornamentais, que ainda fazem chorar e mal entender, carentes existenciais, você e você e você e nossas cartas abortadas, digamos para nós mesmos: comunicar é lindo e gritar o amor é nobre, dizer te amo é bálsamo e mais ainda, escutar. Mas o amor independente, o amor, remetente, é transcrito no olhar, há quem entenda e há quem procure lê-lo em outro lugar. Amor é carta que mesmo extraviada está ora chegando e partindo, mas onde estiverem as palavras, escritas ou caladas, onde estiverem os desejos e seus códigos postais, não importa a data em que foram selados, serão sempre cartas de amor e amores que alcançaram seus finais.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

As três partes pensam assim.

Eu não vou terminar antes do amor. Tenho fé no meu amor. Tenho fé nisso tudo. Não vou desistir de você, daquilo que vivemos e principalmente daquilo que podemos viver, lado a lado. Não mentirei para mim sem antes tentar tudo, sem antes brigar pela pessoa que mudou minha vida. Minha coragem é a saudade que sinto por você. Não vou jogar fora os próximos capítulos dessa história. Não vou desistir do livro dos seus olhos, do livro da sua boca: a página do meu rosto permanece parada no marcador dos teus cabelos. Não vou aceitar a brevidade, o fim precoce, como se o nosso encontro tivesse sido uma aventura ou um lance qualquer. Não esgotamos nem o início da nossa entrega. Nossa intensidade precisa de longa convivência para se espalhar, senão enlouqueceremos carregando a dúvida dentro de nós. Não vou desistir, espero que esteja lendo aqui. Saber que me lê é encostar suavemente minha boca no seu pescoço. Não estou me diminuindo. Só se diminui quem não assume seu amor. Não estou sendo submissa; submisso é quem não muda a realidade. Eu quero mudar, não vou nos entregar de bandeja ao remorso. Não pretendo que, daqui a alguns anos, a gente se cruze e lamente o tamanho do nosso erro. Podemos perceber agora e ainda corrigir. Meu Amor, não se deixe acostumar com a tristeza, com a ausência, com a falta. Não diga que foi melhor assim. Não se engane com o falso alívio. Não podemos nos submeter ao destino. O destino já fez o trabalho dele em nos aproximar, agora ele pede o nosso esforço. O destino depois nunca reconcilia ninguém. O destino depois só afasta. O destino depois transforma o tempo em renúncia. O destino depende que os nós nos se movimentemos com todas as nossas fraquezas. Venha, por favor.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Quanto tempo você não escreve uma carta de amor?

Lembra quando você era criança e se apaixonou pela primeira vez? Não sei você, mas a maioria das pessoas escreveu uma carta quando isso aconteceu. Uma cartinha que dizia o quanto a outra pessoa era legal, bonita e engraçada. O quanto você gostava de dividir o lanche com ela. Você se esforçou para que a letra ficasse bonita e até colou alguns dos seus adesivos preferidos nela. O tempo passou, você se apaixonou por outras pessoas e algumas delas também receberam cartas. Uma mais profunda que a outra, melhor escrita ou com um papel de carta mais bonito. E aí chegou o e-mail... Quantas pessoas você ama ao mesmo tempo? Demonstrar amor vale a pena! O que as mulheres querem depois de casar? E você nunca mais pegou um caderno e uma caneta para escrever como a outra pessoa faz bem a você. Nem por carta, nem por e-mail. Você sabe que sempre que quiser dizer algo para a pessoa amada pode enviar uma mensagem eletrônica. Seja e-mail, SMS, Whatsapp ou uma mensagem de Facebook ou Twitter, mas de tão prático que é, você nunca manda. Lembra como era a sensação de receber uma carta? Você se sentia especial, rolava até um frio na barriga antes de abrir o envelope. Isso quando o envelope já não era uma surpresa. Uma vez eu recebi uma carta em um envelope todo pintado a mão, parecendo um quadro. Acho que a tenho até hoje, uns 9 anos depois. Mas e-mail não tem envelope. Não tem surpresa porque o e-mail da pessoa amada já aparece logo de cara e você sabe que é dela. E você também sabe o assunto, já que ela não deixaria esse campo em branco – no máximo tem algo enigmático ali. Mas, ainda assim, você não pode abraçar o e-mail e colocá-lo sob o travesseiro quando estiver morrendo de saudade. São poucas as pessoas que escrevem cartas hoje, mas acho que elas são mais bem resolvidas. Ao sentar para escrever uma carta – quando você escreve um e-mail há milhares de distrações ao redor – você mergulha totalmente naquilo. E coloca para fora seus sentimentos mais escondidos, porque precisa olhar para dentro para escrever. Talvez o papel nos inspire a ser mais românticos e poéticos. Em outro namoro, troquei cartas que filosofavam sobre o mundo, além do nosso amor. Falavam sobre as impressões que a gente tinha das coisas, das relações entre as pessoas, do futuro, do passado e tinha trechos de livros e frases de pensadores. Também as tenho até hoje. Quando acordei, hoje, lembrei de todo o ritual que eu tenho de escrever. Não é sentar no computador e bater os dedos em letrinhas. Eu escolho a caneta perfeita, que combina com a pessoa, que é tão gostosa e desliza no papel. Eu deixo um pouco de você naqueles desenhos de letras, me esforço para que fique o mais bonito possível. Do mesmo jeito que fazemos na vida, nos esforçamos para ser pessoas melhores todos os dias. Assim como deixamos de escrever cartas de amor, muitos de nós deixaram de mergulhar de verdade nos relacionamentos e passaram a acreditar que ser superficial basta. Uma mensagem de celular marca menos do que uma carta, mas você também sofre menos quando não ser certo. Começar algo olhando para o fim não é exatamente otimista. Vamos parar de pensar no que pode dar errado. A vida não está nas nossas mãos o tempo inteiro, nem todas as decisões que tomamos dependem só de nós e não sabemos por quanto tempo estaremos presente na vida daqueles que amamos. Escreva cartas de amor, aos outros e a si mesmo, mergulhe nos relacionamentos amorosos ou não e se dedique 100% a ser feliz, em todos os momentos. Você é muito mais do que um cursor piscando em uma tela branca.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Se tem..

Se tem amor não importa a toalha sobre a cama, os hábitos incompatíveis, as coisas que não combinam.

Se tem amor a gente abre os braços e pula - e olha que numa hora dessas, pouco importa se o outro realmente estará lá embaixo para amenizar a queda. É por isso que quando o assunto é amor, tanta gente quebra a cara.

Se tem amor a gente não liga para o sobrepeso dele ou os seios pequenos dela. Se tem amor a gente fica cego, já dizia minha avó.

Se tem amor, tem um montão de outras coisas: tem medo e superação, tem admiração, tem renúncia. Sim, porque amar é abraçar um caminho e renunciar aos atalhos. 

Se tem amor tem dúvida. Cara, nem Shakespeare conceberia um amor construído de certezas. Se tem amor não tem talvez ou pode ser. 

Se tem amor, tem trilha sonora. A voz do outro é música, a voz do outro é paz.

Mesmo com amor, a gente acha mil motivos para dar um passo para trás... E um milhão de razões para dar um passo adiante.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Gran Finale

Irreversível é a palavra que tememos no relacionamento.Queremos o amor eterno, mas a gente fica ressabiado quando acontece com a gente. Porque o amor eterno é não ter mais um segundo ou terceiro destino. A impressão é que nos empobrecemos: somos uma única vida quando poderíamos ser várias. E assusta a ausência de opção, a ausência de saída, o mesmo lugar de amar ininterruptamente. Mas só existe amor eterno com escolha. Foi feita uma escolha. Finalmente uma escolha certa que pode durar para sempre. Não é uma imposição. Não é um cativeiro. Não é o término da aventura. É o início de todos os inícios. É o início de todos os nossos fins. É uma escolha tão bem feita que tem longevidade. É uma escolha tão bem feita que não tem sentido trocá-la. É uma escolha tão bem feita que qualquer outra perto dela é menor e perecível. Ninguém entra numa escolha sem fechar a porta. Estar em casa é fechar a porta.

domingo, 21 de julho de 2013

Carta ao amor

Eu nunca errei em amar, posso ter errado o destino de meu amor. 

Não darei ao passado minha personalidade, minha paixão, meu temperamento, minha esperança. 

Não desisto da minha alegria porque alguém não entendeu antes. Não desisto de minha ingenuidade porque alguém não me cuidou antes. Não desisto de minha coragem porque alguém se acovardou antes. Não desisto de mim porque já sofri antes. Amar é continuar sendo até acertar a companhia.

Penso que desejamos a separação para não sofrer mais. Produzimos a separação, é a resposta mais rápida. A resposta mais rápida é vista como a certa. Um alívio para seguir com o trabalho, e mostrar clareza aos amigos. 

E os amigos bem-intencionados não vão nos ajudar. O que disserem a respeito do que aconteceu não será suficiente, o amor é um dialeto restrito aos dois que se amam. 

Não reparamos no principal, Amor. Não reparamos que quando amamos o tempo não faz a mínima diferença. Amar será sempre recente: será ontem. Meses juntos e a sensação é que foi ontem. Meses separados e a sensação é que foi ontem. Ontem, ontem. Não há anteontem no amor. As lembranças mais longínquas já são corpo. 

É uma pena, Amor, que somos mais decididos do que amorosos. Amar é não decidir. Decidir é terminar sempre. 

Aguardo o seu retorno,

Mayara Mariz.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Àjéd Uv

Minhas invasões às suas redes sociais ficaram cada vez mais espaçadas e isso me deixava feliz. Pensar em não pensar em você era um alívio, uma semi-cura, um indício de que havia salvação. Até essa tarde. Eu tomava chá e comia bolacha água e sal, tudo tão insosso quanto a rotina desde que você deixou de fazer parte dela. O chá era de camomila, mas não acalmava. Talvez cicuta fosse mais eficiente. Eu queria entender porque no pacote vem escrito “biscoito”, se todo mundo sabe que biscoito é aquele Gogo, feito de polvilho. Vagava por pensamentos tolos e rasos para fugir da maré, das ondas, do oceano dos seus olhos tragando minha vontade de viver. Carregava pra lá e pra cá um maldito e pesado livro de anatomia na esperança de que você pudesse querer revê-lo e de revés, poderíamos nos ver. Você nunca quis. Eu rezava debaixo das cobertas e achava até bonito chorar e sentir o sal enquanto pedia por você. Que ele volte a me amar, amém. Havia o cenário, os personagens e a introdução, mas ainda não havia história. Livro, chá, bolacha e desventura esperavam pelos segundos, minutos e horas seguintes com a resignação de quem vive por viver. E aí o telefone tocou. Sempre que a campainha apitava, uma esperança tão frágil quanto um biscoito de polvilho me fazia crer que era você. Nunca foi. Do outro lado, uma voz cheia de pena me alertava: enquanto você folheia páginas tolas de um livro de medicina que nunca vai terminar de ler, ele estuda outro corpo. Minhas pernas tremeram. Minha fala tremeu. O prédio tremeu e ruiu naquela ligação. Eu quis rasgar seu livro, jogar as xícaras pela janela, jogar a dor, me atirar do quarto andar. Será fatal? Desejei queimar a língua e a alma com chá quente, queimar os dedos, só as pontas… Qualquer dor que diminua a dor. Comprei briga comigo, andei em direção ao mar. Me engole! Me afoga! Eu morri naquele dia. Demorei mais de nove horas para reencarnar. Há pouco tive um déjà vu e essa cena, a cena de uma vida passada, teimou em voltar. Nem sei o que houve com seu livro, nunca consegui terminá-lo. Histórias de dor eu aprendi a deixar pra lá.