sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Minha Fantástica Vida Amorosa

Eu comecei a minha vida amorosa aos nove anos. Foi uma paixão não retribuída e não concretizada. Aí começaram as minhas mazelas com as mulheres. Até hoje não acredito na desculpa que ela me deu, e continuo achando que o fato de ela ser vinte e três anos mais velha e ser casada com um amigo da minha família não eram motivos suficientes para nos manter distantes. Aos quatorze tive minha primeira experiência sexual, com uma vizinha. Até hoje ela não sabe disso, e a minha primeira experiência sexual com uma mulher, estando ela presente no ato, foi somente aos dezesseis. Tá, tá, dezesseis, e daí? Eu era tímida, mesmo não calando a boca por nem um segundo e coisa e tal. Enfim, foi. Pra ela não deve ter sido muito bom, mas pra mim serviu também para provar que, ao contrário do que eu vivera até ali, com a presença da mulher o ato sexual era muito melhor. E como uma típica criança hiperativa, com déficit de atenção e uma visão não muito eficaz já aos quinze anos, eu imaginava bastante as coisas. Eu imaginava como e o que eu seria quando crescesse e fosse uma bem sucedida jornalista-paraquedista-adestradora-pintora-escritora-desenhista-cartunista-arquiteta-mágica-boxeadora. Eu fantasiava sobre como seria a minha casa, com uma onça pintada, dois tucanos, um lobo, uma águia americana e um labrador preto. E como toda adolescente tímida, eu fantasiava como seria a minha mulher no futuro. E do auge da minha experiência com casais que não davam certo (tios, amigos, primos), eu já sabia o que queria: uma mulher linda, inteligente, simpática, bem-humorada, engraçada, que tivesse amigos legais, que aceitasse dividir a minha vida maluca e perturbada comigo e, essa característica só passou a povoar meus sonhos depois de quatro experiências, digamos, frustrantes, que tivesse uma mãe que não me odiasse. Só isso. Não era querer muito, eu via várias mulheres assim por aí. Mesmo uma pessoa tímida e magrela como eu merecia uma dessas quando crescesse. Cresci, tive poucas namoradas, muitas mulheres, e as classificava de acordo com essas características. Algumas dessas características não são tão primordiais assim, e passavam batidas. E eu ia conciliando uma sogra típica aqui, amigos que me detestavam ali, e ia levando. Isso não me faria deixar de namorar alguém ou terminar um relacionamento. E hoje, vinte e alguns anos depois, me peguei pensando nisso de novo. E por que? Porque hoje, sentada aqui na minha mesa, pensando que talvez no sábado eu vá visitar a mãe da minha futura namorada, e que no sábado seguinte vamos sair com as amigas dela, que por sinal não me detestam, só me acham com cara de pagodeira, parei pra pensar em o quanto isso faz diferença. Faz diferença pelo simples fato de que esses pequenos detalhes (olha o pleonasmo aí, gente!) me fazem ter uma pessoa na minha vida, que divide a minha vida comigo. O bom e o ruim. O chato e o divertido. Faz diferença porque apesar de não ser paraquedista, nem arquiteta, nem pintora, nem ter uma onça nem dois tucanos, hoje eu consigo ter o relacionamento que eu imaginava que daria certo quando criança, até nos detalhes não tão detalhes. Igualzinho igualzinho. Tá bom, igualzinho não, porque do jeito que eu era ingênuo, ela tem muuuuuuitas coisas que não passavam nem perto da minha cabecinha infantil. Ah, claro, isso sem falar que na minha imaginação ela não era tão atlética assim..

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