domingo, 29 de dezembro de 2013

Dois mil e onde?

2013 revirou o universo de cabeça pra baixo. Realinhou os planetas e me deixou no meio de uma nebulosa sem entender nada do que tinha acontecido. No início dele, bem no começo, ouvi de alguém que 2012 teria sido o fim do mundo como a gente conhece e que essa seria a verdadeira profecia dos Maias. Se for assim, não poderia deixar de concordar mais: eu não existi esse ano como existi nos 20 outros anos que antecederam as mudanças bruscas desse. Me peguei perdida entre caminhos e escolhi alguns. Escolhi seguir naquilo que eu queria, ou acreditava, ou não sabia se seria o melhor pra mim, mas sempre botei cara, garra e coração na frente e deixei ser puxada. Coisas surgiram, e pessoas também. Coisas se desfizeram, e pessoas me desfizeram também. Como se algo me rasgasse, costurasse, suturasse e dissesse pra mim que ia ter que ser assim. Descobri que teve gente que passava e acabava comigo. Descobri que teve gente que me deu tchau de vez, e isso doeu tanto que eu ainda acredito num destino que se cruza. Descobri que teve gente que tinha tudo pra não ficar e ficou, ficou por mim quando nem eu mesmo teria ficado, ficou e me disse olá. E talvez tenha sido a minha grande conquista do ano, e você sabe bem de quem eu tô falando porque nesse exato momento surgiu um nome na sua cabeça. 2013 não foi um ano qualquer. Muitas pessoas a minha volta sentiram algo parecido com o que eu senti: que este ano foi um ano de intensidade única, com uma energia capaz de encerrar etapas. Um ano de despedidas, algumas concretas, outras mais sutis. Houve quem tenha terminado casos mal resolvidos, quem tenha se conscientizado de um problema que não queria ver, quem se deu conta da fragilidade de uma situação, quem tenha aceitado um desafio que exigiu coragem, quem tenha aceitado uma situação transformadora, quem tenha se jogado num estilo de vida diferente. Olho para os lados e vejo que 2013 não passou em branco pra quase ninguém. Pelo menos não pra mim, nem para pessoas próximas. Meu microcosmo não revela o universo inteiro, lógico. Você talvez não tenha percebido nada de incomum no ano que se passou, mas ainda assim seria interessante promover um fim categórico, encerrar o ano colocando uma pedra em algo que não lhe convém mais. Geralmente chegamos ao final de dezembro focados apenas no recomeço, na renovação, nos planos, sem nos darmos conta de que, para que nossas resoluções sejam cumpridas mais adiante, não basta pular sete ondas, comer lentilhas e outras mandingas. É preciso que haja, sim, o fim do mundo. O fim de um mundo seu, particular. Sugestão: o mundo do bulliying cibernético. Ninguém é autêntico por esculhambar o trabalho dos outros, sendo agressivo e mal-educado só porque tem a seu favor o anonimato da internet. Perder horas na frente do computador demonstra sua total incapacidade de convívio. Bum! Fim desse mundo estreito. O mundo da prepotência, aquele que faz você pensar que todos lhe estenderão um tapete vermelho sem você precisar dar nada em troca. Qualquer um pode ser profético quanto ao seu futuro: passará o resto da vida achando que ninguém lhe dá o devido valor, isolado em tua torre de marfim. O mundo obcecado de amor doentio, aquele amor que só persiste pelo medo da solidão, e que de frustração em frustração vai minando sua possibilidade de ser feliz de outro modo. O mundo das coisas sem importância. Quanta dedicação ao sobrenome do fulano, a conta bancária do sicrano, à vida amorosa da beltrana, o quanto ela pagou, o quanto ele deveu, quem reatou. Por cinco minutos, vai lá. Os neurônios precisam descansar. Mas esse trele lé o dia inteiro, socorro. O mundo do imobilismo. Do aguardar sem se mover. Da espera passiva pelo momento certo que nunca chega. 2013 prenunciou um cataclismo, ao que não era global, e sim individual. Impôs que cada um desse um fim à vida como era antes é que promovesse uma mudança interna, profunda e renovadora. Feito? Nesse ano eu fechei um ciclo. E já dizia a astrologia que seria um ano 9 pra mim. Ano de rever conceitos e desalojar velhos vícios, e não é que foi bem assim? Tanta coisa posta pra fora, por vontade própria ou por força maior, que a minha visão panorâmica ficou embaçada e girou. Girou tanto que me mostrou novos horizontes, e eu tô aqui seguindo por ele. Tô aqui lutando pra ser feliz, mais um pouco que seja, comigo mesmo. Tô aqui fazendo resoluções, revendo o passado, agradecendo e pedindo pra esse ano acabar logo. Tô aqui barganhando minutos de vida desperdiçados, revendo fotos, não acreditando em coisas que disse ou fiz, me despedindo de gente que vai embora pra sempre. Tô aqui, recapitulando cada pedaço meu que foi riscado, transformado e se perdeu. Ou se encontrou. Me encontro no desencontro, me disse uma cartomante no comecinho de janeiro. Eu não acreditava tanto assim em profecias apocalípticas e coisas do tipo. Acreditava mais em astrologia, numerologia, runas, tarot e todo tipo de sorte que estivesse disponível pra brincar de prever o futuro. Mas depois de 2013, das incertezas e da imprevisibilidade que esse ano me trouxe, eu não consigo mais imaginar que consiga encaixar as coisas todas dessa vida pra um 2014 bem escrito. Meus planos traçados se formaram num desenho perfeito do que eu esperei até aqui. Daqui pra frente é só surpresa bem escolhida e, quem sabe, um novo recomeço caótico dia após dia. Afinal de contas, me encontro no desencontro. Mesmo que isso signifique reinventar o mundo mais uma vez, como 2013 reinventou o meu universo. E espero que você também tenha tido um ano caótico pra se revirar por inteiro. Parafraseando a famosa frase: vai que o avesso é o melhor lado?! E que venha 2014 de outro mundo pra todos nós.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Minha Fantástica Vida Amorosa

Eu comecei a minha vida amorosa aos nove anos. Foi uma paixão não retribuída e não concretizada. Aí começaram as minhas mazelas com as mulheres. Até hoje não acredito na desculpa que ela me deu, e continuo achando que o fato de ela ser vinte e três anos mais velha e ser casada com um amigo da minha família não eram motivos suficientes para nos manter distantes. Aos quatorze tive minha primeira experiência sexual, com uma vizinha. Até hoje ela não sabe disso, e a minha primeira experiência sexual com uma mulher, estando ela presente no ato, foi somente aos dezesseis. Tá, tá, dezesseis, e daí? Eu era tímida, mesmo não calando a boca por nem um segundo e coisa e tal. Enfim, foi. Pra ela não deve ter sido muito bom, mas pra mim serviu também para provar que, ao contrário do que eu vivera até ali, com a presença da mulher o ato sexual era muito melhor. E como uma típica criança hiperativa, com déficit de atenção e uma visão não muito eficaz já aos quinze anos, eu imaginava bastante as coisas. Eu imaginava como e o que eu seria quando crescesse e fosse uma bem sucedida jornalista-paraquedista-adestradora-pintora-escritora-desenhista-cartunista-arquiteta-mágica-boxeadora. Eu fantasiava sobre como seria a minha casa, com uma onça pintada, dois tucanos, um lobo, uma águia americana e um labrador preto. E como toda adolescente tímida, eu fantasiava como seria a minha mulher no futuro. E do auge da minha experiência com casais que não davam certo (tios, amigos, primos), eu já sabia o que queria: uma mulher linda, inteligente, simpática, bem-humorada, engraçada, que tivesse amigos legais, que aceitasse dividir a minha vida maluca e perturbada comigo e, essa característica só passou a povoar meus sonhos depois de quatro experiências, digamos, frustrantes, que tivesse uma mãe que não me odiasse. Só isso. Não era querer muito, eu via várias mulheres assim por aí. Mesmo uma pessoa tímida e magrela como eu merecia uma dessas quando crescesse. Cresci, tive poucas namoradas, muitas mulheres, e as classificava de acordo com essas características. Algumas dessas características não são tão primordiais assim, e passavam batidas. E eu ia conciliando uma sogra típica aqui, amigos que me detestavam ali, e ia levando. Isso não me faria deixar de namorar alguém ou terminar um relacionamento. E hoje, vinte e alguns anos depois, me peguei pensando nisso de novo. E por que? Porque hoje, sentada aqui na minha mesa, pensando que talvez no sábado eu vá visitar a mãe da minha futura namorada, e que no sábado seguinte vamos sair com as amigas dela, que por sinal não me detestam, só me acham com cara de pagodeira, parei pra pensar em o quanto isso faz diferença. Faz diferença pelo simples fato de que esses pequenos detalhes (olha o pleonasmo aí, gente!) me fazem ter uma pessoa na minha vida, que divide a minha vida comigo. O bom e o ruim. O chato e o divertido. Faz diferença porque apesar de não ser paraquedista, nem arquiteta, nem pintora, nem ter uma onça nem dois tucanos, hoje eu consigo ter o relacionamento que eu imaginava que daria certo quando criança, até nos detalhes não tão detalhes. Igualzinho igualzinho. Tá bom, igualzinho não, porque do jeito que eu era ingênuo, ela tem muuuuuuitas coisas que não passavam nem perto da minha cabecinha infantil. Ah, claro, isso sem falar que na minha imaginação ela não era tão atlética assim..

domingo, 22 de dezembro de 2013

Meu tipo de garota.

Depois da sessão coruja sempre bate saudades de você que não estava aqui. De você que podia ter recostado a cabeça no meu ombro durante o filme. De você que teria chorado porque eles se acertaram e deram certo depois do não-tão-felizes-assim para sempre. De você que ocupa um banco vazio do meu lado. Só que eles sempre acendem as luzes pra gente ir embora – e eu acho que você acaba indo mesmo. Porque eu sempre vou sozinha pra casa em altas horas da noite.

Mas todo filme trabalha com a gente para além da sua duração. E eu já me adianto nas flores e será que você vai gostar da camisa que eu coloquei? Você é meu amor imaginado. Sonhado pra aparecer um dia desses no meio das nossas loucuras. Com todos os nossos problemas e com aquela coisa que faça com que a gente se apaixone pelos olhos uma da outra. Com calma pra eu não tropeçar e cair pra dentro de você. Me afogar. Me afundar. E não querer mais sair dali, mesmo que perdida. Você é o meu amor de roteiro romântico. Do tipo que perdoa as minhas maluquices e não pergunta o que eu conversei com a minha psicoterapeuta hoje. Do tipo que se magoa porque eu falei muito sobre a minha ex, me dá uns dois socos no ombro direito e vai dormir com o telefone desligado. Do tipo que eu reconheceria assim que tivesse a oportunidade de conduzir uma dança e pisar nos seus pés. Pra fazer a gente cair no meio de todo mundo. E pra você começar a rir desesperadamente e transformar o constrangimento em alegria.

 

Você é o meu tipo de garota do cinema. De cena após cena. De câmera nos trilhos e silêncio no estúdio. De gemidos abafados na última fileira do filme. Dá até pra antecipar a sua timidez no primeiro encontro. Com mãos se esbarrando lentamente no descanso das poltronas. Entrelaçando os dedos conforme os quadros se sucedem e alguém nos manda fazer silêncio porque o coração armou uma escola de samba e agora bate forte. Você é o meu tipo de primeiro beijo esperado. Pra dizer que eu já sabia que era você no momento em que pus os olhos e pude ver que você era tão complicada quanto eu e não ligaria pra isso. Que você encararia as coisas com a máxima de que nós dois nos encontramos no mundo por conta de alguma força que vai além da nossa compreensão. Pra dizer que as nossas conversas estão fadadas ao silêncio quando nenhuma das dias souber o que dizer e isso não incomoda. Você é toda cheia de dedos e sinais que se atrapalham na tentativa de dizer alguma coisa. Estudou um pouco sobre fantasia e vive por aí contando histórias. E me encantando. Você é um mistério mal resolvido e espero que continue assim. Com esse quê de que pode ser real sem perder essa aura de ilusão que me mantém consciente de que pode ser tudo um sonho.

E é por isso que eu volto ao cinema em todas as sessões coruja de comédias românticas. Pra ver se eu esbarro numa garota tão perdida quanto eu no seu próprio mundo. Pra ver se eu encontro alguém que se apaixona tanto pelas histórias dos filmes a ponto de querer vivê-las a flor da pele como eu. Pra ver se dessa vez eu sento do lado de uma poltrona ocupada e recebo um sorriso desconhecido, mas ainda assim bonito. Mesmo que acendam as luzes. Mesmo que baixem os créditos finais. Mesmo que esvaziem as salas, eu ainda acho que um amor tão grande e tão bonito assim exista além das telas do cinema. O meu tipo de garota também acharia.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Interdição

Estava num café esperando por um amigo. Enquanto o tempo passava, fiquei observado o ambiente. Outra mulher estava sozinha a poucas mesas de distância, também esperando alguém atrasado. O atrasado dela chegou antes da minha. Vi quando ela se levantou para cumprimentá-lo. Derem-se dois beijinhos. Os dois beijinhos mais vacilantes e constrangedores que podem ocorrer entre um casal. Talvez fosse delírio meu, mas tenho quase certeza de que eram ex-amantes, ex-amantes, ex-namorados, ou um ex-marido e uma ex-esposa que haviam terminado a relação a poucos dias atrás, no máximo alguns meses atrás. É uma cena clássica. Depois de meses ou anos de amor e intimidade, a relação se desfaz. Os dois juraram nunca mais se ver, se odeiam por algumas semanas, tem mágoas um do o outro, até que um dia surge uma pendencia pra ser conversada ou simplesmente resolvem tomar um drinque pra provar pro mundo que a amizade prevaleceu, cenas aparentemente civilizadas que trazem significados ocultos. Ou pior: encontram-se sem querer no meio da Av. Paulista, num corredor de shopping, num quiosque de mercado público. Você aqui? Que surpresa. E os dois beijinhos saem de forma desengonçada que seria motivo para rir, não fosse de chorar. Interdição do Corpo. Um dos troços mais sofridos de um final de relacionamento, que só vai experimentar de um tempo afastados. Uma coisa é você ficar racionalizando sobre o desenlace trancafiada no quarto, ele ficar ruminando sobre as razões do rompimento enquanto trabalha. Uma coisa é você chorar durante o banho para disfarçar os olhos inchados, ele falar mal de você em bares, fingindo que se livrou da Dona Encrenca. Uma coisa é você consultar uma cartomante a fim de acreditar em dias mais promissores, ele sair com umas lacraias bonitinhas pra provar que te esqueceu. Outra coisa é quando os dois se encontram, cara a cara, depois de semanas ou meses apenas se imaginando. Ele está ali na sua frente. Mas você não pode agarrar seus cabelos, não pode passar a mão no seu peito, não pode rir de uma piada interna que só pertence aos dois, porque está oficializado que nada mais pertence aos dois. Ela está ali na sua frente. Mas você não pode mais dar uma beliscadinha na sua bunda, não pode mais beijá-la na boca, não pode mais dizer bobagem no pé seu ouvido, porque está oficializado que ela agora é apenas uma amiga, e não se toma esse tipo de liberdade com amigas. Depois de terem vivido, por meses, talvez anos, a proximidade mais libidinosa e abençoada que pode haver entre duas pessoas que tinham um sentimento forte, que nem souberam o que chegou a ser, ou que eram apaixonadas, vocês agora estão proibidos ao toque. Não se amam mais, é o que ficou decretado. Logo, os códigos de aproximação mudaram. Você dará dois beijinhos na mulher que tantas vezes viu nua, como se ela fosse uma prima. Você dará dois beijinhos no homem pra quem tanto se expôs, como se ele fosse um colega de escritório. O corpo interditado. Você não pode mais tocá-lo, você não pode mais tocá-la. O definitivo sinal de que o fim não era uma ilusão.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O primeiro aniversário de namoro

Hoje eu faço dois meses de namoro. E vai ser o primeiro “aniversário” que comemoramos, porque é o primeiro que nós lembramos. Eu sou meio ruim para datas, ela idem, então o primeiro aniversário passou batido e só foi lembrado dias depois. Mas esse eu lembrei hoje, justo no dia em que tenho que escrever pra cá. Então decidi falar disso. Quando eu te conheci fazia uns três meses que eu tinha terminado meu relacionamento anterior. A última coisa na vida que eu queria ouvir falar era de mulher. Mentira, mulher era a penúltima, a última que eu queria ouvir era Los Hermanos. Mas no exato momento em que eu sentei na mesa com você e as outras pessoas da sala, logo pensei: “eu tenho que sentar do lado dela e puxar assunto”, toda a minha falta de vontade de ficar com alguém foi por água abaixo. Mal sabia eu onde aquilo ia parar e que, em três ou quatro dias trocando São Paulo pro Rio, eu já estaria completamente apaixonada por você. Naquele exato momento, peguei o celular e te chamei no Whatsapp. E a partir dali eu só pensava em você. Eu te olhava falando e só pensava em como eu ia pentear o cabelo para ser apresentada aos seus pais ou se meu afilhado ia gostar da minha nova namorada. Namorada essa que, até então, mal sabia do meu interesse por ela. Ao final da conversa eu não só estava perdidamente apaixonada por você como já estava pensando em como fazer você saber disso. Te chamei pra sair e, quando você disse que já estava interessada em mim desde o mesmo dia que eu, meu coração saiu pela boca e se eu não pego rápido ele caía na caixa de areia dos gatos. Eu mal pude acreditar, e mal acredito até hoje, que essa mulher linda, inteligente, engraçada, charmosa, e meio desastrada, está interessada em uma pessoa como eu. Não me menosprezando, minha autoestima não é nada baixa, mas é que é diferente. São mundos diferentes. Você se formou, vai se pós-graduar enquanto eu larguei uma faculdade. Você escuta os clássicos enquanto eu mal chego perto deles e escuto o que me dá na telha. Seus amigos são todos bem sucedidos e casados, enquanto eu moro com Papi e Mami e meia dúzia de moveis. Mas prefiro não tentar entender, vai que eu te alerto disso. E se hoje você acha que eu exagerei ao falar que estava apaixonada tão rápido, saiba que, antes de irmos embora do cinema aquele dia, eu já estava. Daquele dia até hoje não houve um só minuto, acordado ou dormindo, no qual eu não estivesse pensando em você, fazendo planos para nós. Limpando a minha casa para você vir aqui. Evitando minha verborragia antiesquerda para quando conhecesse seu pai. Ensaiando para parecer menos metida e arrogante quando conhecesse seus amigos. Pensando no presente que vou te dar de um ano de namoro (se nos lembrarmos da data). Eu já fazia planos de se íamos morar no Rio ou em Niterói, de que lado da cama você dormiria ou como íamos fazer para passar a lua de mel em Bali se eu não gosto de ficar muito tempo longe da minha escrivaninha e nós não íamos ter com quem deixar a Golden. Eu não estou exagerando. Eu nunca exagerei. Em poucas semanas você virou a minha vida de pernas pro ar, mas eu descobri que eu sempre quis que ela fosse de cabeça para baixo. Feliz dois.doze de namoro. Que comemoremos ainda muitos aniversários juntas. Se lembrarmos! :)

Menina, cê tá diferente!

E ela, enfim, disse sim. Quem diria? Dizem as más línguas. Logo ela, que dançava até o chão ou até que os faxineiros viessem varrer-lhe os pés, sempre calçados num sapatinho 37 sem salto, avisando que mais uma noite de samba tinha chegado ao fim. Logo ela, que cantava, encantava, tomava uns bons goles de cerveja, dava um sorriso sincero, fazia umas gracinhas e geralmente se despedia dizendo que hoje não, muito obrigada. Logo ela, que sempre teve uma quedinha por aproveitar a vida, que é tão curta quanto o mais comprido de seus shorts. Logo ela, que sempre perdeu o celular, a carteira, as chaves do carro, a hora e os campeonatos… É, parece que agora ela ganhou. Mas quem será que é o escolhido? Perguntam as más línguas. Quem será que é ele, que ela jura que existe, mas que a gente não vê nem a sombra? Quem será que é ele, que toma dela um pensamento cá, outro lá, uns goles daquela cervejinha sagrada e os beijos mais carinhosos que ela já distribuiu por aí? Quem será que é ele, que coloca ainda mais brilho naquele sorriso de 33 dentes e naqueles grandes olhos verdes-azulados que sempre gostaram de pequenos olhos mel? Quem será que é ele, que a fez desencostar o velho violão da parede e arranhar um Scracho, enfim dando sentido ao “Não demora pra você chegar, abro a porta pra você entrar”? E o que será que ele fez pra ela? Especulam as más línguas. Será que foi promessa de casa, comida, roupa lavada e um milhão por mês? Será que foi amarração ou a mandinga da banana que ele aprendeu no programa do Eli Corrêa? Ou será que foi um sexozinho delícia com direito a muito suor, muita saliva e uma conchinha gostosa, daquelas em que os corpos se encaixam e não se precisa de mais nada para acordar sorrindo? Não sei. Só sei que quando dançam, a Terra dá uma trégua no movimento de translação, porque o espetáculo, apesar de simples, é bonito por demais. E quando descansam, então a Terra trata de girar, que é pra preparar um dia mais do que convidativo fora daquele quarto que, das seis da manhã às seis da tarde, parece suficiente. Dizem por aí que ela, valentona como é, ainda resiste a confessar que foi picada pelo mosquito da ternura, conta pra todo mundo que todas aquelas manchinhas avermelhadas foram obra dos borrachudos no último fim de semana no interior. E que todas aquelas risadas são obra de mais livros de anedotas que ela vem lendo. E que aquelas canções românticas cantaroladas meio que sem querer debaixo do chuveiro são mera casualidade. Mas ainda bem que, por mais que a gente tente impedir, o sentimento, quando é bonito, sempre cresce. E arranca as cascas, cicatriza as feridas, lava a alma. Bota uma dúzia de sorrisos no rosto por minuto, 300 ml de chope sem colarinho no copo de vidro por noite e apetite pra bater um PF no capricho por almoço. Leva embora os nossos medos, as nossas mágoas, o batente da porta e o que mais estiver pela frente. E traz de volta a coragem de se arriscar. Porque sentir é para os fortes. Só para os fortes. E pouco a pouco, o travesseiro vai ficando inundado do cheirinho dela. Os lençóis dela vão ficando salpicados de fios de cabelo que insistem em cair da cabeça desse ser, denotando talvez a possibilidade de uma química mal feita. O colchão vai se moldando no formato ideal para abraçá-la quando ela voltar. Coisa de cama, coisa de calma, coisa de alma, coisa de coração. Fiquei até sabendo que ela já deixou uma escova de dentes no potinho do banheiro. E que, vez ou outra, já se esqueceu de conferir o placar do futebol enquanto estava com ela. E se acaso ela chegar perguntando como é que todo mundo ficou sabendo que ela está apaixonada, diz que foi o passarinho verde e aquela mania HORRÍVEL que ele tem de sair fazendo fofoca da vida de gente de bem.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Mil motivos pra ficar até amanha de manhã

Um DVD antigo, um pacote de Amendoim, uma Coca-Cola de dois litros, um sofá-cama pequeno para nós e teus pés tentando roubar o eterno calor do meu corpo. Não preciso de mais nada e sei, graças ao teu riso infindável, que isso também te basta.

Tento pensar em algum motivo para deixar o teu quarto agora, mas nada parece tão inadiável quanto a união de nossos corpos amassados pela preguiça e suados devido ao nosso incessante atrito despudorado.

Tento pensar em alguma razão capaz de me injetar coragem para largar-te sozinha entre os lençóis embolados e em meio às migalhas fartas dessa fome que sentimos uma pela outra, mas logo desisto, peço a primeira saideira e tu rapidamente me serves mais um beijo embriagante. Peço uma nova saideira e tu me entregas, novamente, as chamas que não me deixam colocar os passos na rua sempre fria. Peço outra saideira e no meu ouvido, tu pedes carinhosamente para que eu fique um pouco mais.

Não tenho camisa para reunião de amanhã de manhã, nem terminei minha apresentação importantíssima, mas e daí? Tenho a chance de te ter por apenas mais uma noite.