O título dele já diz tudo né? É meu diário mané! Esse blog de meu Deus é ousado para quem a nada se atreve. Pra resumir essa bagaça: Posso explicar uma porção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma. Se não entender nada, deve ser ligado a informática.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Amazônia
sábado, 19 de outubro de 2013
Breve crônica sobre a saudade
Mais uma vez eu viu o relógio mudar rapidamente de meia-noite para uma da manhã os minutos da primeira hora da madrugada. Apesar da quase rotina, esse hábito ainda causava um certo desconforto; parecia haver hora certa para lembrar dela. Balbuciei o palavrão de sempre, estaloei os dedos e procurei os óculos no escuro. Já previa a dor nos olhos antes mesmo de acender a luz, então decidi descer a escada no breu mesmo. Abri metade da janela, observei a chuva por alguns minutos, lembrei das noites chuvosas ao lado dela, lembrei do vidro embaçado e da música suave das gotas atingindo-o, lembrei do edredom roxo ou violeta ou púrpura – nunca soube qual a verdadeira identidade cromática do negócio e também não levei o assunto à ela – e do cachorro dormindo embaixo da cama. Lembrei dela, do sono dela, da maneira como os olhos dela se apertavam quando ela dormia, das asas redondas do nariz, dos lábios finos convidando-o para um beijo. Lembrei do cheiro da respiração dela e respirei profundamente, como que querendo encontrar tal cheiro no ar. Falhei.
Fui acordada do sonho-acordado por uma distante sirene de polícia, andei lentamente até o fogão e aqueci uma medida de água. Enquanto aguardava, reparei na quase dúzia de folhas de caderno escritas e rasuradas e espalhadas na mesa numa ordem que somente eu entendia. E nessas folhas, palavras que somente ela entenderia.
Sonhei de novo, e dessa vez com os vários bilhetes que escondi pelo quarto dela, bilhetes recheados de pequenas juras e promessas e micro-elogios que arrancariam dela aquele sorriso que só ele conhecia, bilhetes assinados pela metade, que mostravam o quão inteiro eu era com a metade dela. Acordei novamente, dessa vez com o apito da chaleira, xinguei a chaleira, disfarcei muito mal um sorriso, terminei de preparar o chá e aqueci a garganta com goles curtos. Era normal esquecer do mundo quando me lembrava dela. Era comum.
Larguei a xícara na mesa, apaguei a luz e, antes de voltar à cama, vi a luz amarela e deprimida de um poste atravessar a janela e repousar na cadeira ao lado. Como previsto, senti o costumeiro aperto no peito e também a solidão tocando meus ombros. Tudo naquela casa lembrava dois, à dois, os dois, mesmo sem nunca ter existido dois naquele espaço. Repare bem: naquele espaço. A cadeira vazia servindo de repouso para o braço, o número de talheres e pratos e copos, a mesa redonda e pequena, o box do banheiro, a cama de solteiro (para dormirmos mais próximos). Senti o chão gelado abaixo dos pés e desejei os pés dela colados nos meus. Voltei pra cama, olhei a foto dela na tela do celular, rezei por ela e reclamei comigo mesma, com meu próprio Deus, sobre as lágrimas que se acumulavam nos cantos dos olhos contra a minha vontade. Alguns minutos depois da primeira hora da madrugada, eu tirou os óculos e os deixei no chão mesmo; ela não estaria ali para pisar neles meio que por engano. E como esperado, não dormi.
domingo, 13 de outubro de 2013
Por você ter (sempre) me esquecido.
Reli meu texto favorito na noite passada – porque dormir com você assombrando o quarto já não dava mais. Tati Bernardi reclamou que o tal cara por quem ela era apaixonada tinha uma dor, uma daquelas dores que a gente cria com carinho e afeto, porque ela nunca tinha escrito sobre ele. Reli a odisseia de papel e tinta da prateleira e não me encontrei em nada seu. Do diário aberto em 2013 até as folhas manchadas dum maio quente demais: nada. Você nunca se deu o trabalho de me poetizar.
Dos amores relidos, nenhum me transcreveu. Nem num pedaço-de-papel-de-pão-mofado pra rabiscar umas palavras e me dar aquela sensação de que se importa, de que aconteceu e não foi feito Big Bang. Eu não explodi do nada, sem registro nenhum, mas você me implode. Me implode dentro duma caixa de retalhos e me abandona num canto da rua, porque eu não tenho espaço na sua lixeira, e me deixa à mercê de sei-lá-quem. Renega e expõe a verdade sussurrada: eu nunca fiz parte de você.
Mas você.
Você que me entendia tanto e passava a mão nas minhas manias como quem diz que faria o mesmo, você que só ria de cabeça baixa e tinha vergonha do meu sorriso, você parecia capaz de me pintar em aquarela. De ir além da palavra-ditada e vociferar fonemas melodias poemas campainhas instalações e tudo mais de todo jeito sobre mim. Você, que me tinha sem vocativo e nem precisava explicar num contexto-aposto todos os meus lados opostos a mim, você deixou de falar de mim com tanta facilidade que me pergunto, sempre me pergunto, se eu ainda te lembro d’alguma coisa na vida.
E minha mágoa compartilhada com o amor perdido da Tati é a mesma. Você já escreveu sobre tantos outros amores sem peso e nem me colocou na balança (como se eu fosse peso morto). Me matou na memória sem forma e me deixou de lado de toda oração-futura que construísse por aí. Deixou de me deixar cair da boca quando falava ria brincava cantava sorria e todas as coisas boas e verbos bons que conjugou sem mim. Esqueceu-se das coisas que a gente falava e que a gente fazia e que a gente escutava e me esqueceu. Nem uma última menção antes de nunca mais voltar pra cá.
Mas você.
Nem uma citação sobre mim e o meu amor perdido-roubado que merecia lembrança pra provar que esteve ali. E mesmo que me matasse no final, me guardasse na gaveta, me errasse na gramática, me deixasse sem semântica, me pusesse num script rodado, eu teria amado, como ainda amo, a sua versão de mim.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Se eu não..
Se eu não tivesse você pra me lembrar de limpar as mãos, os braços, o queixo e o lábio no seu, eu sairia por aí cheia de molhos, doces, sorvetes e de todas as coisas que lambuzam a gente quando a gente se permite lambuzar. Talvez eu tivesse mais dinheiro guardado na poupança e nada, nadinha, nada mesmo na agenda e fora dela por seus convites fora de hora e fora de padrão e você gosta de ver as estrelas? Só gosto delas quando aponto pra algumas e você toca no meu braço me mandando baixar a mão. Sem isso seriam só umas estrelas salpicadas num céu-azul-escuro-sem-graça-nenhuma-e-sem-você.
Se eu não me embaraçasse em você pra achar alguma posição confortável na cama, talvez eu caísse no chão fugindo de um sonho ruim em todas as noites frias. E tenho certeza de que engordaria menos, mas olha pra mim e diz se você se importa tanto com isso ou se prefere que a gente divida a sobremesa e divida os momentos e divida a nossa vida numa estranha divisão que não diminui e nem deixa cada um com só um pouquinho do outro. Se eu não tivesse você eu teria cabulado todas as aulas da faculdade porque não saberia chegar até lá. Não saberia daquelas coisas que você me ensina e nem me encantaria com facilidade quando você pega no volante e diz que vai me levar pra algum lugar bacana que eu ainda não conheço. Bobagem, meu bem, você é meu lugar-comum-especial-pra-vida-toda nessa noite.
Se você não tivesse esbarrado, me olhado, insistido em não parecer invisível e me dado aquela puxada sensível no braço eu nunca, nunca, nem mesmo hoje em dia, acreditaria que tem coisas erradas que precisam acontecer pra gente se encontrar lá na frente porque o nosso clichê foi assim. Foi no jeito com que eu paro subitamente de falar pra te ouvir disparando sentenças e se pegar constrangida, me olhando e se perguntando o que é que eu tô olhando. Eu tô olhando a sua forma desordenada, fora do tom, um tanto quanto desafinada de gesticular e me fazer rir no meio da praça de alimentação do shopping por ser você.
Se eu não tivesse você, eu ia ter aquele vazio que eu tinha faz tanto tempo e tanta chuva e tanta gente que passava e esbarrava e nunca ficava como você ficou. Você ficou e ficou mais um pouco, fica mais um pouco, vai ficando e não se acomoda, viu? Me incomoda, me acorda quando eu dormir no seu banco de carona e te deixar sozinha, me atordoa com a saudade que nem dura uns três dias direito e me diz que a noite só foi boa porque eu desejei que fosse, porque eu deitei com você do outro lado da linha. Me diz que não importa quão brega-apaixonada-boba-despreocupada eu possa parecer, que importa é que dá pra ver como eu fico feliz e me faço feliz por ter você. Diz que me odeia, mas diz com aquela forma meio irritada pra si mesma porque você sabe que é uma daquelas mentiras mal contadas, daquelas que faria o seu nariz crescer e que nem entonação de atriz faria mudar. Diz que se eu não tivesse você, você daria um jeito de me acordar com voz de sono só pra eu virar pro lado e sonhar em ter você mais uma vez.
domingo, 6 de outubro de 2013
Do nada ao tudo
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Amar é PUNK
Eu já passei da idade de ter um tipo físico de pessoa ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star. Uma coisa meio Foo Fighters.
Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece a pessoa. Começa, aos poucos, a admirá-la. A achá-la FODA. E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que a pessoa entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é DIFERENTE).
Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ela vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu jeito desastrado. Ela não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.
Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU ENCONTREI ALGUÉM QUE DIVIDE O CHÃO COMIGO. ENCONTREI ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Dormir abraçada sem susto. Acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.
Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, CARAMBA! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido.
Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é RECONSTRUÇÃO. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.
Demorei anos pra concordar com meu querido (e sempre citado) Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”. Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio! Ah, Cazuza! Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar – ah, o amor! – AMAR É PUNK.