terça-feira, 12 de novembro de 2013

O que você nunca soube.

Nunca gostei de muffin de banana. Aliás, eu nunca gostei de nenhum daqueles bolinhos malfeitos da cafeteria que você gosta de ir. Mas eu vou com você só pra ver você sujando os lábios do chantili. Pra ver seus dedos se sujarem do sorvete ou da calda do brownie de avelã e poder olhar pra você levantando a mão len-ta-men-te até a boca. Você nunca soube que eu tenho um lugar preferido ali – e só é preferido porque é nosso. Que quando o sol bate levemente no seu rosto e que parece sempre a primeira vez que eu te vejo quando o seu rosto se ilumina e você leva o dedo sujo à boca. Que você parece uma criança feliz e que toda insegurança do mundo vai embora naquele momento. E nem é nada demais. É só que o mundo com você é mais seguro. Eu gosto mais dos cinco minutos com você nos lugares que ficamos. Conversando ou dormindo mesmo. A sua mania invasiva de colocar o peso das pernas, e não o do mundo, em cima de mim é reconfortante. “Você nunca vai estar sozinha” é o que o seu corpo me diz. A respiração pesada e nada ritmada me deixava assustada e eu já passo noites sem dormir pra garantir o seu sono bom. E nem é nada demais. É que você é meu sonho bom, e eu nem preciso estar dormindo pra isso. Quando a gente discute sobre a minha música favorita do Queen, ou sobre a calça amarela que eu vou usar em alguma festa, ou sobre o tamanho da sua roupa e a cor do seu cabelo naquela idade, eu só sei discordar. É que você precisa sempre de um contraponto pra argumentar comigo, e me mostrar que a sua inteligência teria me atraído ainda que eu não pudesse ter visto nenhum dos seus sorrisos, o que seria uma pena. Eu te deixo irritada porque, na verdade, eu sou um garota de doze anos num corpo de um mulher. O salto agulha é só disfarce pra não entregar de bandeja que você me desorienta. E que não tem manual de instruções, nem meu, nem seu. Que dê jeito nessa desconstrução de rotina gostosa que a gente tem e mantém. E nem é nada demais. É que com você eu sou eu e mais mil outros eus. Que é pra te agradar e te contrariar. Pra tentar ser tudo o que você precisa em mil e uma noites. Que os meus melhores textos são sobre você, e que as minhas maiores confissões envolvem o que é nosso e o que ninguém mais sabe. Nem você mesma. Você nunca soube que eu mato as saudades te guardando em caixas. E que o meu armário é montado com partes do que a gente é e vive. Que eu sei o seu cheiro de cor e salteado. Eu sinto de vez em quando no meu quarto. Mesmo que você não esteja lá. Você nunca soube que eu sempre te trago pro presente. E não há passado que realmente tenha passado e te deixado pra trás. Que a minha linha do tempo só trata de você em modos únicos e imperativos. E que não há pedido ou ordem que tire o seu lugar suspenso do tempo na minha história. Que eu te resgato em tudo: desde as fotos aos cheiros. Desde as cartas que eu escrevo, empilho e não envio. Desde os sorrisos repuxados pelos cantos, espaçados no acaso, que são mais involuntários do que aquilo que eu sinto por você. E cada sensação minha tem um pouco de você. É que você sempre me dá nó. Um dia você me perguntou “como vão falar de amor sem mencionar nós?”. E me disse que eu nunca chegaria a uma definição exata, nem parcial de definição alguma. O que você nunca soube é que eu escrevi essa carta pra falar de amor. E acabei não achando um jeito melhor do que falando de nós.

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