quinta-feira, 18 de julho de 2013

Àjéd Uv

Minhas invasões às suas redes sociais ficaram cada vez mais espaçadas e isso me deixava feliz. Pensar em não pensar em você era um alívio, uma semi-cura, um indício de que havia salvação. Até essa tarde. Eu tomava chá e comia bolacha água e sal, tudo tão insosso quanto a rotina desde que você deixou de fazer parte dela. O chá era de camomila, mas não acalmava. Talvez cicuta fosse mais eficiente. Eu queria entender porque no pacote vem escrito “biscoito”, se todo mundo sabe que biscoito é aquele Gogo, feito de polvilho. Vagava por pensamentos tolos e rasos para fugir da maré, das ondas, do oceano dos seus olhos tragando minha vontade de viver. Carregava pra lá e pra cá um maldito e pesado livro de anatomia na esperança de que você pudesse querer revê-lo e de revés, poderíamos nos ver. Você nunca quis. Eu rezava debaixo das cobertas e achava até bonito chorar e sentir o sal enquanto pedia por você. Que ele volte a me amar, amém. Havia o cenário, os personagens e a introdução, mas ainda não havia história. Livro, chá, bolacha e desventura esperavam pelos segundos, minutos e horas seguintes com a resignação de quem vive por viver. E aí o telefone tocou. Sempre que a campainha apitava, uma esperança tão frágil quanto um biscoito de polvilho me fazia crer que era você. Nunca foi. Do outro lado, uma voz cheia de pena me alertava: enquanto você folheia páginas tolas de um livro de medicina que nunca vai terminar de ler, ele estuda outro corpo. Minhas pernas tremeram. Minha fala tremeu. O prédio tremeu e ruiu naquela ligação. Eu quis rasgar seu livro, jogar as xícaras pela janela, jogar a dor, me atirar do quarto andar. Será fatal? Desejei queimar a língua e a alma com chá quente, queimar os dedos, só as pontas… Qualquer dor que diminua a dor. Comprei briga comigo, andei em direção ao mar. Me engole! Me afoga! Eu morri naquele dia. Demorei mais de nove horas para reencarnar. Há pouco tive um déjà vu e essa cena, a cena de uma vida passada, teimou em voltar. Nem sei o que houve com seu livro, nunca consegui terminá-lo. Histórias de dor eu aprendi a deixar pra lá.

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