segunda-feira, 20 de agosto de 2012

(es) crê (ver).

As pessoas vivem avisando que histórias devem ser escritas a lápis, mas sempre teimo. Gasto papel, tempo e tinta de caneta. Borro tudo. Amasso a folha, acumulo uma pilha de páginas que não deram certo. Quando pequena, tive uma daquelas cartilhas "Caminho Suave", aulas de caligrafia e uma professora que cobrava letra redondinha, parágrafo e travessão. Adoro ver a caneta dançando sobre o papel e quando escrevo a mão, sinto as palavras mais minhas. Meu único defeito é ignorar o lápis - exceto pra desenhar. Não senhor! Quero uma esferográfica vermelha para o título e outra preta para o corpo do texto. Se errar, rabisco um traço e começo tudo outra vez. Sem corretivo, que não admito meus escritos sob disfarce. Foi essa teimosia que rendeu tantas folhas arrancadas, tantas páginas na lixeira. Já escrevia sobre você, mas não conseguia me fazer entender. Como uma criança que confunde as letras e não entende porque sorriso não é com z. Às vezes quero te dizer milhares de coisas e ao mesmo tempo, não quero dizer nada. Posso começar contando do azulzinho do céu que vejo da minha janela todas as manhãs, passar pelo menino que cata latinhas na rua, comentar o que comi no café e terminar nas minhas insatisfações que não sei de onde vem e me incomodam feito etiqueta pinicando. Eu não quero dizer nada porque tenho ímpetos de te bater de vez em quando. Não literalmente, só aqui dentro. Bebo litros d’água durante o dia e me imagino em noitadas boêmias, enchendo a cara de álcool e te afogando bem aqui dentro. Você nadando apressadamente, desesperado, o álcool subindo e aqui dentro tudo sucumbindo enquanto gargalho com o copo na mão: Eu vou te matar! Às vezes quero te dizer que odeio o que a sua falta me causa e acabo optando por não dizer nada, porque você vai rir ou desdenhar, sem entender como pode doer tanto uma saudade de apenas dois dias. Eu não quero dizer nada porque tenho vontade de rasgar todas as suas memórias e depois jogá-las pela janela. Tenho vontade de me atirar também. Não literalmente, só atirar do oitavo andar a bobinha que ri sozinha quando é surpreendida pelas suas lembranças. Ela caindo e eu assistindo de camarote, satisfeita: Cai, tolinha! Eu quero te dizer um milhão de coisas que você ainda não sabe – ou talvez saiba, mas não sob a minha ótica. E é tanto querer, é tanto a dizer, é tanto, tanto, tanto... Que eu fico assim, desesperada, com mil pássaros batendo as asas dentro da minha barriga e cem aranhas tecendo teias na minha cabeça. Eu nunca senti isso antes e essa porra de sentimento descomunal oscila mais que a minha fé na humanidade. Fé cega, lâmina pra lá de afiada. No fim das contas, não te afogo e tampouco me atiro pela janela. Senta aqui. Às vezes quero te dizer milhares de coisas... Acertei a mão quando te encontrei. Escrevi histórias em letras graúdas e você grifou as palavras chave, ilustrando os trechos principais. Com você não dá para apagar, muito menos jogar fora. Com você deu certo (e eu nem precisei passar a limpo).

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